quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Carved - a slit-mouthed woman" (Kuchisake-Onna, 2007)

Do Japão vem uma lenda urbana sobre uma mulher desfigurada que, de tempos a tempos, provoca acessos de histeria. A esse propósito, encontrei um video interessante aqui e mais algumas variações da história aqui . Em Portugal, a lenda encontra paralelismos na história do "Gang do sorriso de palhaço".
Reza a lenda, (ou assim se inícia uma história), que uma mulher foi vítima da vingança de um marido ciumento que após a desfigurar perguntou "E agora quem é que te vai achar bonita?" Agora a pobre alma vagueia pelas ruas usando uma máscara cirúrgica e de tesoura na mão procurando alguém que a ache bonita. Quando isso sucede, sobretudo crianças e jovens, ela pergunta "Sou bonita?" (Watashi kirei?). Se responderem que sim, ela retira a máscara e diz "E agora? (Kore demo?), revelando a boca cortada de bochecha a bochecha. Nessa altura, se responderem não, a mulher mata a sua vítima ou deixa-a com um sorriso de orelha a orelha, percebem? Se responderem sim, ela talvez a deixe viver com um sorriso novo ou talvez a siga até casa e lá termine o que começou. Normalmente, o encontro acaba mal e não vale a pena correr que ela acaba sempre por vitimar o infeliz que se cruzar no seu caminho. Mas ainda há esperança. Numa versão mais recente da história se responderem "assim-assim", ela ficará confusa e não fará nada.
"Carved - a slit-mouthed woman", apresenta uma variação original da lenda, cumprindo uns aspectos e falhando redondamente outros. Se por um lado se explica porque é que ela persegue crianças, por outro a pergunta "Sou bonita?", perde o sentido. O guião não explora a imagem pessoal da personagem para que possamos compreender a obsessão com a sua beleza ou falta dela. Também a explicação da sua relação abusiva com crianças fica muito aquém do esperado. Não existe uma backstory que responda aos porquês que se vão criando em torno da personagem. Como tal, torna-se difícil ter pena dela ou detestá-la, convenientemente. No entanto, a aposta na caracterização está ganha. Quando ela abre a boca, é difícil não esboçar uma careta de desagrado. A história é mais centrada nas crianças do que nos adultos. Faz sentido, parece o tipo de história que se partilha com amigos numa noite escura. O medo omnipresente do desconhecido e a vontade de demonstrar aos pares a coragem estão presentes.
Quem sabe se não estarei a ser demasiado crítica e a figura da mulher máscara represente uma alegoria do medo da fealdade que as sociedades desenvolvidas em geral, desenvolveram. Talvez, represente o medo no subconsciente dos jovens, de um objecto de sofrimento encarnado numa figura de mãe.
Há uma cena na qual três crianças são brutalizadas. Não é comum. Apesar, de a maior parte da cena não ser explicíta fica o horror daquilo que imaginamos que terão sofrido. É quase um tabu não é? Muitos filmes jogam com o medo de um papão qualquer maltratar uma criança. Aqui, esse limite é ultrapassado. Se dúvidas existissem fica a certeza, a mulher da máscara tem uma agenda e é imparável. Também os principais personagens adultos, a professora Yamashita (Eriko Satô) e o professor Matsuzaki (Haruhiko Katô) não são likeable à falta de termo que traduza melhor o que pretendo dizer. Satô tem uma representação forçada e, embora, pessoalmente, não goste de olhar para a aparência física dos actores ela é excessivamente magra. É demais. Distrai, não é nada apelativo de se ver e até preocupante. A última coisa que deve ter passado pela mente do realizador Koji Shiraishi é que a audiência tivesse ensejo de comprar um menu double cheeseburger com uma coca-cola e batatas grandes à actriz principal. Quanto a Katô, a personagem não pega, a estranha familiaridade e ausência de medo da mulher da máscara não convencem. Ainda menos, o facto de ele possuir uma sensibilidade de espírita quase. 
A primeira metade da película é aborrecida e a outra metade acaba por produzir alguma tensão, alguns sustos e muita irritação, mais para o fim, com a incapacidade de agir da professora Yamachita. É um daqueles casos, em que a audiência se quer levantar da cadeira e lhe dar um par de estalos para ver se acorda e se contribui, nem que seja um bocadinho, para a confrontação. Uma estrela.


Realização: Koji Shiraishi
Argumento: Naoyuki Yokota, Koji Shiraishi
Elenco:
Eriko Satô como Kyôko Yamashita
Haruhiko Katô como Noboru Matsuzaki
Chiharu Kawai como Mayumi Sasaki

Próximo Filme: "Shadows in the Palace" (Goongnyeo, 2007) + Bónus: trailer com legendas em PT

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