Agora que já consegui a vossa atenção com esta provocação, deixem-me contar-vos como “Kung Fu Hustle” foi realizado por Stephen Chow, o mesmo realizador do inesquecível “Shaolin Soccer” (2001). Mesmo aqueles que não apreciam futebol encontraram um motivo de encanto em “Shaolin Soccer”, onde monges empregam o seu talento extraordinário para o Kung Fu num jogo de futebol contra uma equipa de super-atletas dopados. Passada na cidade de Xangai dos anos 30,“Kung Fu Hustle”, apresenta uma dupla de pequenos criminosos liderados por Sing (Stephen Chow) que aproveita a recém-criada fama do gangue do Machado para tentar extorquir os moradores de um bairro ainda intocado pela chegada dos vilões. Oportunidade perfeita para dar um golpe certo? Errado, os moradores não só sabem defender-se como se revelam superiores aos capangas de Sum (Danny Chan), o líder do gangue e os dois pequenos criminosos vêm-se no meio de uma guerra com um resultado imprevisível.
Para quem viu “Shaolin Soccer”, “Kung Fu Hustle” é mais do mesmo no que toca ao humor a tempos, demasiado regional para audiências estrangeiras e nas artes marciais exageradas ao cubo. Os actores são capazes das manobras mais arriscadas, não tanto devido à formação na arte da luta como por todos os artifícios cinematográficos que podem ocorrer a quem deseja fazer dos confrontos uma hipérbole. Apenas não esperem cenários bucólicos ou sentimentais como as de “Hero” (2002) e “Crouching Tiger, Hidden Dragon (2000) que fizeram as delícias de audiências por todo mundo.
Mas “Kung Fu Hustle” não é uma completa paródia. Estreia-se com cenas de violência gratuita e morte, onde os ricos e poderosos tudo podem contra aqueles que nada têm. São meros veículos para a obtenção de mais riqueza e cujo sofrimento é indiferente. E contra poucas ou nenhumas perspetivas de melhoria de vida, juntar-se ao gangue, soa, apesar de tudo a uma hipótese viável e mais segura para obtenção de algum tipo de estatuto. Não é como se os bandidos fossem muito diferentes do empresário de inícios do século XXI, a questão é que a sua acção, violenta e condenável como é, sempre se realiza às claras, por contraste com uma grande mão invisível que tudo destrói, através de manobras de bastidores alheias ao capital alheio.
O que eles talvez não esperassem foi que encontrassem oposição num pequeno bairro suburbano. Estas questões sucedem nas entrelinhas, pois o cenário é dominado por sequências tão díspares quanto uma senhoria de rolos na cabeça (Yuen Qiu) e cigarro soldado ao canto da boca que espanca o marido (Yuen Wah) por causa das suas escapadelas românticas. E quando falo em espancar não digo estas palavras com leveza. Mas a maioria das cenas têm uma tal leveza de espirito que é impossível levar a sério os confrontos entre os moradores. Aliás, “Kung Fu Hustle” funciona melhor dentro do perímetro do bairro, no qual, os habitantes se encontram mais preocupados com a sua vidinha do que no se passa lá fora. Revelar mais seria tirar a piada a “Kung Fu Hustle”, por isso, sentem-se, encostem-se e desfrutem de fantásticas cenas coreagrafadas por Yuen Woo-ping, o mestre milagreiro por trás do cinema de kung fu de Hong Kong desde finais dos anos 70 e “Matrix” (1999) assim como a referências tão fantásticas como a esses filmes que poderão ou não conhecer, velhos golpes de artes marciais reimaginados no séc. XII e… os “Looney Tunes”. Três estrelas.
O melhor:
- O casal de senhorios
- Recriação dos anos 40,
- A coreografia das cenas de artes marciais
O pior:
- Demasiado artificialismo em algumas das lutas
- Cartoon autêntico. Ainda indecisa sobre se isso será bom ou mau.
Realização: Stephen Chow
Argumento: Stephen Chow, Huo Xin, Man-keung Chan e Kan-cheung Tsang
Stephen Chow como Sing
Danny Chan como Sum
Yuen Wah como Senhorio
Yuen Qiu como Senhoria
Bruce Leung como “A Besta”
Xing Yu como Coolie
Chiu Chi-ling como Fairy
Dong Zhihua como Donut
Lam Chi-chung como Bone
Eva Huang como Fong
Próximo Filme: "Tower" (Ta-weo, 2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário