Um médico recupera, nostálgico, memórias de quando era apenas um interno no hospital coreano de Ahn Seng que se encontra agora em ruínas, durante a ocupação japonesa dos anos 40.
A estória, contada de modo episódico, revolve, primeiro, em torno de Jung Nam (Goo Jin), um estudante de medicina que fica fascinado pelo cadáver de uma mulher encontrada morta num lago gelado. Como em breve ficará a saber, ela tem uma ligação mais próxima dele do que suspeitava. Porque passadas dezenas, para não dizer centenas de filmes coreanos se torna difícil explicar o que é “normal”, Jung Nam desenvolve uma paixão com contornos de necrofilia pela jovem misteriosa. Em outra instância Asako (Ju-yeon Ko) é internada após um grave acidente rodoviário que vitimou a sua mãe. Acossada por estranhos sonhos e visões, Asako luta por recordar os eventos que levaram ao trágico acidente. Culpa de sobrevivente? Ou o subconsciente de Asako esconde um segredo bem mais terrível? Um soldado japonês é encontrado brutalmente assassino o casal de médicos Dong-won (Tae-woo Kim) e In-young (Bo-kyung Kim) desconfiam que este é o resultado do trabalho de assassino em série. O clima de desconfiança aumenta no hospital, quando Dong-won encontra provas que o levam a suspeitar que alguém de dentro do hospital e, em particular, a sua mulher poderão ter cometido o crime. E aqui têm, mais um filme em que os argumentistas consideraram que a linearidade era o maior dos seus problemas e vai daí desdobram uma estória em três. Isso, ou tinham material mais do que suficiente para três curtas e como pensaram que não teriam outra hipótese para criar, optaram por apresentar as ideias que tinham em carteira de uma só vez.
A complexidade da narrativa torna difícil a identificação dos personagens que transitam entre estórias, para se tornarem meros actores secundários e identificar pontos em comum. A morte, o cenário e quatro dias de vida no hospital são as poucas peças do puzzle que nos são facultadas mas até estas são certezas ambíguas pois analepses e prolepses e a entrada no mundo do sonho são uma constante. De tal modo, que por vezes se torna complicado discernir em que plano se encontram os personagens. Em comum, amores de perdição. “O amor é o beijo da morte”. O argumento alterna entre complexos de édipo, amores proibidos e a incapacidade de ultrapassar a perda da pessoa amada do modo mais belo possível. A imagem é tão cuidada, que a brutalidade se torna inócua. Que é que os cineastas fazem de nós se o sangue se transforma numa visão bonita? Descubra o pequeno mórbido que existe dentro de si! Por outro lado, ao glamorizar a morte, perde-se o elemento de terror. Se a dupla de realizadoras pretendia evidenciar a harmonia do amor com a morte, o marketing que enfatiza os elementos de terror contrasta com o espírito do que pretendiam transmitir.
“Epitaph” (2007) é um híbrido de obras como “A Tale of Two Sisters” e antologias de terror que o antecederam com um sentido estético e cultural da Coreia do Sul e do Japão profusamente desenvolvido. Onde, as relações coreanas e japoneses costumam ser ignoradas ou de um ponto de vista que beneficia grandemente o lado coreano, em “Epitaph”, a coexistência não deixa, apesar do momento histórico, de ser pacífica como até existe um casal nipo-coreano. O amor vence todas as barreiras à excepção da morte. Já como obra de terror original, “Epitaph” não vence a barreira do tempo. Duas estrelas e meia.
O melhor:
- Em termos de imagem, “obra de arte” não parece uma expressão demasiado exagerada para descrever o que vemos no ecrã
- Desempenho de Ju-yeon Ko
- Cenário e época pouco explorados no cinema de terror
O pior:
- A complexidade e repetições da estória
- Parece bastante longo para 100 minutos
Realização: Beom-sik Jung e Sik Jung
Argumento: Beom-sik Jung e Sik Jung
Goo Jin como Jung-Nam Park
Ju-yeon Ko como Asako
Tae-woo Kim como Dong-won
Bo-kyung Kim como In-young
Mu-song Jeon como Jung-Nam Park
Próximo Filme: "Kung Fu Hustle" (Kung Fu, 2004)
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