Antes de “Mitsuko Delivers”(2011) houve “Sawako Decides” (2010), apenas um exemplo numa linha de filmes de Yuya Ishii, sobre mulheres pragmáticas com grandes decisões a tomar nas suas vidas. Uma das primeiras ideias que sobressaem aquando do visionamento de “Sawako Decides” e, para quem está familiarizado com “Mitsuko Delivers”, é que os títulos destas obras podiam ser trocados com facilidade. Enquanto Mitsuko passa uma película inteira a tomar decisões por todos e com implicações nessas mesmas vidas, mesmo quando não lhe é pedida tal ajuda, por entre “cool’s” e “ok’s”, Sawako (Hikari Mitsushima) finalmente apresenta resultados, se calhar, aquilo por que família e amigos esperaram durante 5 anos. Senão, vejamos, Sawako encontra-se no quinto trabalho em part-time em 5 anos, nos quais teve igual número de namorados. A mais recente conquista? Um divorciado com uma filha de 4 anos, que gosta de fazer crochet, recém despedido de um trabalho como designer de brinquedos.
E para fazer Sawako sentir-se ainda melhor, o tio Nobuo (Ryo Iwamatsu) liga-lhe constantemente para regressar à terra natal Kawaminami e tomar conta do negócio da família, já que Tadao (Kotaro Shiga), o pai dela tem uma cirrose em estado terminal. Como ela não tomasse nenhuma decisão, o namorado Kenichi (Endo Masashi) decide que Sawako irá responder ao apelo, independentemente, de quaisquer sentimentos dolorosos associados a esse regresso. Por muito interesseiro ou idiota que o namorado seja, a verdade é que a culpa reside em Sawako, incapaz de se comprometer, nas suas relações, no trabalho. É que ela não se acha nada de especial e, pela maior parte, também não acha ninguém extraordinário, as coisas são o que são e nada se pode fazer contra elas. Se não soubesse, diria que Sawako era portuguesa, tal a atitude de resignação. Tanto que, quando Sawako regressa e todos a acolhem mal, à excepção do tio e um trabalhador (porventura cioso de um trabalho que teme vir a perder), os nervos estão à flor da pele. Como é possível uma pessoa deixar-se espezinhar assim? Que trauma? Que sentimento de culpa?
Algures Sawako foi uma criatura com sonhos, que fugiu da terra natal com o capitão de uma equipa local para a grande cidade, onde a aguardava com toda a certeza a continuidade na fábrica familiar e uma vida rotineira, sem grandes variações ou entusiasmo. Não é imediatamente perceptível, e bem que podemos ficar na ignorância se o que os aldeões sentem é despeito por ter abandonado uma oportunidade segura e ademais a responsabilidade pelo negócio, ou o facto de ela ter tido coragem para largar tudo por uma vida de incerteza. Algo que eles nunca seriam capazes de fazer. Sawako não é capaz de o compreender, pelo menos não no início. O seu destino bem que pode ser aquele que a sua infância augurava, mas tem de ser Sawako a desejá-lo e a lutar por ele. E não os que a rodeiam a forçá-la a isso. Das duas uma, ou todos à sua volta são mestres manipuladores que desejam secretamente que Sawako tome as rédeas da fábrica ou Sawako é afinal, tão teimosa como o pai, do qual se distanciou tantos anos antes e irá tomar uma decisão que afectará toda a sua vida futura, apenas porque pode. A estória é bastante negra e a tempos deprimente. As imagens de uma Sawako no presente a emborcar cervejas encontram paralelo ali mesmo no quarto ao lado, no pai a morrer por causa de um fígado que já não consegue lutar contra os excessos do passado. E se ela é a personagem principal, que dizer do namorado que praticamente a abandona e à própria filha durante parte da película? Em “Sawako Decides” não sucede nada de extraordinário, de facto ficarão surpreendidos com a vulgaridade dos acontecimentos. Mas é esse o fulcro da questão: em que grau é que identificamos com pessoas e situações quotidianas, a tentar sobreviver. E mais perigosa ainda, a realização de que nem todos são especiais e estão destinados a fazer algo incrível. Quatro estrelas.
O melhor:
- Excelentes interpretações
- A vida real no seu pior melhor
- Momentos cómicos numa estória maioritariamente depressiva
- Argumento
O pior:
- Até os caracóis têm um maior sentido de ritmo,
- A ausência de reacção de Sawako pode ser irritante
Realização: Yuya Ishii
Argumento: Yuya Ishii
Hikari Mitsushima como Sawaka
Endo Masashi como Kenichi Arai
Ryo Iwamatsu como Nobuo
Kotaro Shiga como Tadao
Kira Aihara como Koyako Arai
Próximo Filme: "Epitaph" (Gidam, 2007)
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