sábado, 9 de abril de 2011

"Acácia" (Akasia, 2003)

"Acácia" é um filme com uma premissa interessante mas que acaba por se perder e nunca ganha um rítmo ou acção interessantes. A história desenrola-se à volta de um casal Choi Mi-sook (Hye-jin Shim) e Kim do-il (Jin-geun Kim), que adoptam Kim Jin-seong (Oh-bin Moon), um menino de seis anos devido à incapacidade de conceberem um filho. Quando Mi-sook, inesperadamente, engravida, Jin-seong sente-se rejeitado e começa a demonstrar um comportamento cada vez mais bizarro, alienando os pais adoptivos, num processo que culmina com o seu desaparecimento misterioso. Os desempenhos parecem forçados e só o pequeno Oh-bin Moon se revela interessante sem ser isento de falhas. A minha grande crítica vai para Choi Mi-sook que parece, desde o início, ter sido forçada a alguma coisa. Tiveram de ser o sogro e o marido a convencerem-na a adoptar uma criança. É o amor de Mi-sook pelas artes, a única coisa de parece gostar, profundamente, em todo o filme que a une a Jin-seong. Quando vê os desenhos maduros de Jin-seong, algo lhe diz que é aquele o menino que deve adoptar. Aí vemos uma ténue ligação maternal que nos dá esperança de que a relação floresça. A partir desse ponto parece que Mi-sook se acomoda, o que vai fazendo ao longo do filme, até quando descobre que está grávida.
A reacção, ou melhor, ausência de reacção de Mi-sook, provocam danos irreparáveis na relação. Jin-seong não tem comportamentos tipicos, mas o que queriam quando o menino está só no mundo? Talvez a criança não seja assim tão estranha como pensamos e Mi-sook seja mesmo fria e não deseje realmente ter filhos. A própria mãe de Mi-sook, uma das personagens mais malvadas que vi nos últimos tempos, sem apontar uma pistola ou uma faca a alguém, faz questão que o menino de 6 anos saiba que ele não é neto dela e não pertence àquela casa, indo mesmo a ponto de sugerir que o casal devolva a criança ao orfanato. Que faz Mi-sook? Nada. Não admira que a criança se agarre a um mundo de fantasia no qual uma árvore é a sua verdadeira mãe. Ainda menos é de admirar que ela desenvolva comportamentos rebeldes e de atrito contra o irmão recém nascido Hae-sung (um dos bebés mais adoráveis a gracejar o écrãn, não duvidem). Mais uma vez, Mi-sook é inepta como mãe. Não compreende o sofrimento e grito de atenção da criança, não é capaz de mandar cortar a árvore nem de o mandar para o quarto para pensar naquilo que fez por um mês, sem a nintendo! Apenas se aliena mais da criança o que vai contribuir para o fim previsível de Jin-seong.
No meio da acção, está a Acácia, uma árvore decrépita que se encontra no jardim do casal a fazer não se sabe bem o quê. Se tivessem uma árvore morta no quintal, provavelmente já a teriam mandado cortar, digo eu. O menino é estranho, preferindo o mundo dos desenhos e desenvolve uma relação bizarra com a Acácia. De acordo com Jin-seung, numa noite chuvosa a sua mãe verdadeira saiu e transformou-se numa árvore percebem? É a única explicação dada na película para a estranha ligação afectiva entre o menino e a Acácia. Por mim, a mãe dele até podia ser um banco de jardim. E as constantes visões da árvore que enchem todo o écran com som a preceito são pouco eficazes. Dei por mim a aguardar pela cena em que um Mark Wahlberg em tronco nu nos diria com ar sério: "há algo nas árvores." Não sendo fã de sobrenatural por dá cá aquela palha já desesperava por que algo acontecesse. Qualquer coisa! Divago. Todo o pathos que se desenvolve com o desaparecimento de Jin-seong é pouco convincente. Não houve a vinculação que seria expectável da mãe para com ele. Por isso, não se percebe o sofrimento e a loucura exagerados ao quadrado, que a levam, aliás, a negligenciar o segundo filho. E o fim, embora prevísivel, é confuso. É como se os cineastas tivessem chegado à conclusão que os sustos não eram eficazes e precisavam de enfiar ali mais alguma coisa, tudo ao mesmo tempo. Não crítico a lentidão das falas nestes filmes. É uma questão cultural. Nos filmes asiáticos os actores tendem a falar na medida certa. Só assim se percebe o sentido de urgência muitas vezes presente nos filmes americanos. Critica-se sim, a ausência de cenas eficazes e que contribuam para nos levar a algum lado. E a Ácácia, o elemento fulcral do filme é a suprema falha. As tentativas de demonstrar o lado maternal da árvore, o súbito ganhar de vida não enchem as medidas. Lá está, já esperava que ela se levantasse, falasse e fosse embalar o Jin-seong. Nada. Assim, o filme é triste, previsivel e ficamos a pensar em tudo o que não devia ter falhado. Duas estrelas, muito puxadas, por que tentei gostar do filme, em cinco.

Próximo filme: "The Child's Eye" (Tungngaan, 2010)

2 comentários:

  1. Sua opinião é ótima, veja a minha:
    http://cinelevesresenhas.blogspot.com/2011/10/acacia-2003.html

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  2. Ops! Achei que já estava seguindo o seu Blog. Vou seguir agora.

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