quinta-feira, 9 de junho de 2011

"Rule number 1" (Dai yat gaai, 2008)


*Trailer + Legendas em PT

"Os fantasmas não existem" é a primeira e mais importante regra. Admito que a premissa me enganou. Contudo, pormo-nos a adivinhar, não nos levará a lado nenhum neste filme de Kelvin Tong: o enredo está cheio de reviravoltas e de flashbacks. Por isso, se gostam de filmes sem grandes sobressaltos este é o alvo errado.
"Rule number 1" começa a um ritmo alucinante, com o polícia novato Kwok-Keung Lee (Shawn Yue) a levar mais do que podia contar numa operação de rotina. Lee acaba por ficar gravemente ferido e por testemunhar um evento sobrenatural (ou será que não?) que o afectará para sempre. Ora, acontece que ele tem demasiados escrúpulos e não se coíbe de descrever o evento estranho que presenciou no seu relatório. O seu chefe que (hão-de reparar surge a comer em todas as cenas), não quer nem ouvir falar em "coisas do outro mundo" e vá de o recambiar para um departamento obscuro. Notem, que Lee é destacado para um departamento que se dedica à intervenção em assuntos de origem, no mínimo, curiosa. Portanto, fica a dúvida sobre se este destacamento foi inocente ou não. O departamento é apropriadamente denominado de "MAD - Miscellaneous Affairs Department", assuntos que ninguém da força policial normal quer tratar. Sons estranhos, electrodomésticos com mente própria, alucinações... são o quotidiano do MAD.
Entretanto, Lee que foi desterrado para uma força policial que só tem mais dois homens, cada um com os seus rituais: um é alcoólico, o outro além de viciado em jenga utiliza uma cadeira de rodas para se movimentar quando tem tanta mobilidade como qualquer ser humano saudável, depressa se arrepende dos seus escrúpulos. Isto já para não dizer que o departamento parece uma sala de espera da função pública desactivada há muitos anos. Estão a ver o cenário?
O seu novo chefe é o Inspector Wong (Ekin Cheng), um polícia atarracado, pouco amistoso e acabado que o introduz à regra de ouro do MAD: a regra número um. Foi aqui que surgiu o primeiro equívoco do filme: pensava que ia ver um duelo entre o polícia que acredita vs. o polícia céptico, uma batalha de mentes como um Mulder e Scully. Nada disso. Mais, até determinado ponto interrogamo-nos se os cenários que vão surgindo no decorrer das investigações do MAD, não terão explicações racionais, o que seria perfeitamente aceitável. A frustração de Lee alastra e nem a sua bela mulher May (Fiona Xie), num papel unidimensional e também horizontal, pois que está sempre na cama deitada, lhe consegue aliviar o trauma inicial ou fazer esquecer a tristeza da despromoção. Surgem ainda outras personagens, nomeadamente ligadas à vida íntima dos dois actores principais que são apenas aborrecidas. Será que foram enfiadas à pressa no argumento? Ok, essenciais para compreendermos as suas motivações e background, mas que soam apenas a um prelúdio de algo maior. Afinal, o que interessa é o desvendar do mistério. De bom grado seriam postas de parte e teríamos só um duelo de mentes entre os dois polícias e a sua luta contra o sobrenatural.
Tong fez um filme incoerente em termos de acção: "Rule" inicia-se com um ritmo avassalador, abranda substancialmente e depois levanta voo muito rápido, sem que nada o fizesse prever. Embora, não seja uma grande fã do género de acção e à excepção da cena na piscina, os momentos acelerados são os que melhor funcionam. Quando às reviravoltas do argumento, elas não convencem nem funcionam por aí além. Não me entendam mal, não é um mau filme, nem sequer está mal feito e até se percebe onde Tong pretende chegar. Não sei é se concordo. Mais do que medo, pena, qualquer coisa, o que fica no final da película é um profundo sentimento de frustração. Not bad, just not great. Duas estrelas e meia.


Realização: Kelvin Tong
Argumento: Kelvin Tong
Elenco:
Shawn Yue como Lee Kwok-keung
Ekin Cheng como Inspector Wong
Fiona Xie como May


Próximo Filme: "Three...Extremes - Cut" (Saam Gaang Yi, 2004)

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