quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Cinderella", (Sin-de-re-lla, 2006)

Parem as trompetes. O que vão ver não é um filme da Disney. "Cinderella" nada tem da magia do original é antes uma brincadeira bem mais obscura do realizador Man-dae Bong. O motivo do título não é imediatamente perceptível, não há bichinhos cantantes, nem carruagens-abóbora e muito menos fadas-madrinhas. Ora, como dizia o ditado português: "uns são filhos, outros são enteados", deixo à vossa discrição se vêm o filme para compreender o significado da frase. Yoon-hee (Ji-won Do) é uma cirurgiã-plástica que passa a vida a corrigir os defeitos dos outros mas não olha para os seus. Vive no seu mundinho perfeito. Se bem que ele é tudo menos perfeito e um segredo terrível irá abalar a sua existência e a da sua filha Hyeon-su (Se-kyung Shin). Esta é uma rapariga fútil e mimada, a quem as amigas estão sempre a cravar consultas com a sua mãe Yoon-hee. Não sei se as cirurgias em miúdas de 16, 17 anos é comum na Coreia do Sul, mas espero que não. Ou pelo menos prefiro manter-me na minha ingenuidade. Numa cena, uma amiga de Hyeon-su decide que afinal uma cirurgia ao nariz é capaz de ser demais. Fica-se pelos olhos. Hã? Infelizmente, já não se pode fazer uma cirurgia sossegada e as amigas de Hyeon-su começam a testemunhar fenómenos sobrenaturais. Entretanto, Hyeon-su decide retomar o contacto com o pai, a quem não fala há bastantes anos. Que estranho segredo une estes eventos é a pergunta que se coloca.
Man-dae Bong explora, com alguma previsibilidade, o sobrenatural ao invés da história central que por si só já é bastante sombria. É uma pena. O conceito é engraçado e a metáfora da Cinderella está bem pensada. Para quê tomar a rota mais fácil? Os flashbacks vindos do nada também não funcionam. Apenas tornam o enredo confuso. Não são utilizados filtros de outra cor, nem sequer uma dream like quality, para fazer as transições de cena. Cabe ao espectador, adivinhar a ordem cronológica dos factos. Já o trailer é capaz de ser o argumento mais enganador no meio disto tudo. Ele faz "Cinderella" parecer mais assustadora do que na realidade é. Boa. Enganaram-me. As cenas com bons sustos não assim tantas e com os flashbacks pelo meio perdem o ímpeto. Tanto, que é necessário o empenhamento total da audiência no seguimento da narrativa para existir uma possibilidade de surgir um susto genuíno e não soar a um truque barato qualquer.
Os desempenhos na generalidade são ok. Ji-won Do no papel de mãe devota atormentada pelos seus próprios demónios não parece forçado. Será que a actriz é mãe? Quanto a Hyeon-su, está bem mas podia ter ido mais longe. Se fosse dislikeable a identificação com a história da Cinderella seria perfeita. Quanto às suas amiguinhas, não fazem ali nada. Estão para ali a ser miúdas mais ao menos parvas sem contribuírem grandemente para a história. Deve ser para dizer que a história não é só sobre Hyeon-su e a sua mãe.
Mas sempre é um filme de terror, como tal a cena das duas amigas no estúdio de arte é de arrepiar qualquer um. Enfim, "Cinderella" é uma boa ideia mas que à medida que avança vai-se degradando e acaba por se perder em pormenores escusados. Só não posso é armar-me em fada madrinha e agitar a minha varinha de condão, tornando Cinderella melhor do que é. Mais um filme de terror mais ou menos. É uma versão light de "Ringu" (1998) ou do "Ju-on" (2002). E para esse lugar já existem demasiados candidatos. Por se pôr na fila e não se querer tomar o lugar da frente "Cinderella" recebe duas estrelas em cinco.




Realização: Man-dae Bong
Argumento: Kwang-soo Son
Elenco:
Ji-won Do como Yoon-hee
Se-kyung Shin como Hyeon-su

Próximo Filme: "4bia" aka "Phobia" (สี่แพร่ง ou See Phrang, 2008)

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