Depois da recepção gelada que as primeiras curtas-metragens da antologia de terror "Three" obtiveram, a vontade de visionar "Going Home" encontrava-se poucos graus abaixo de zero. Não fosse a companhia e teria ficado "satisfeita" por ter visto duas em três o que constituiria um grande erro. Como se costuma dizer: "o melhor fica para o fim". "Going Home" é uma peça tocante sobre Wai (Eric Tseng) que se muda com o filho Cheung (Ting-Fung Li), para um antigo complexo de apartamentos que irá ser demolido dentro de pouco tempo. Não é pois de estranhar que o seu filho impressionável pense que o edifício está assombrado. Um dia, este segue uma rapariguita de vermelho que costuma brincar no complexo e desaparece. Inquieto com o desaparecimento do filho, Wai bate à porta do seu único vizinho Yu (Leon Lai) e tropeça numa história rocambolesca. Yu tem dedicado a sua vida a cuidar da sua mulher Hai’er (Eugenia Yuan) que matou há três anos! E agora, acreditem nisto, Yu continua a banhar, cortar o cabelo e as unhas da mulher, a passeá-la e a falar-lhe ternamente como se estivesse viva. Só num filme certo? Mas Yu nada tem de psicopata, ele é digno de compaixão, envolvido na ilusão que ele próprio criou de que a esposa irá acordar dentro de dias. A grande força de “Going Home” reside na subtileza do desempenho de Lai e na sua força comedida que fazem questionar se ele estará mesmo louco, ou se realmente encontrou uma solução mágica para a vida depois da morte. Por contraposição, temos um Eric Tseng quebrado perante a sua própria impotência face à ausência inexplicável do filho. Dois modos interessantes de lidar com a perda que podiam ser ainda melhor explorados não fosse esta uma curta. Apesar de eficaz, “Going Home” não está isenta de falhas. O desaparecimento de Cheung despoleta a acção mas, durante mais de metade do filme, não voltamos a ele. É como se o seu desaparecimento fosse apenas uma desculpa para nos introduzir à vida de um vizinho louco. E por muito interessante que seja explorar a "relação unidireccional" de Yu com a mulher, temos sempre presente que uma criança está desaparecida e queremos uma resposta para o mistério. O início também é enganador, com as pistas de que vamos assistir a um
thriller sobrenatural a revelarem-se infundadas. Tanto melhor, o mistério sobrenatural como o conhecemos já há muito devia ter caído em desuso. “Going Home” é a obra mais compensadora de “Three” e aquela que podia (devia!) ter sido perscrutada mais profundamente numa longa-metragem. O lirismo da narração e da cinematografia de Christopher Doyle que foi responsável por algumas das obras mais belas na sétima arte como “Hero” (2002) e vários filmes de Wong Kar Wai, a par dos bons desempenhos dos actores, merecem que vejam com a maior urgência esta curta-metragem! É daquelas pequenas pérolas que fazem uma pessoa apaixonar-se de novo pelo cinema. Imperdível. Quatro estrelas.
Realização: Peter Chan
Argumento: Peter Chan, Matt Chow, Jo Jo Yuet-chun Hui e Chao-Bin Su
Leon Lai como Yu
Eric Tseng como Wai
Eugenia Yuan como Hai'er
Ting-Fung Li como Cheung
Próximo Filme: Donnie Yen em Dose Dupla! "Ip Man" (Yip Man, 2008)
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