domingo, 19 de fevereiro de 2012

"The Cut" (Haebuhak-gyosil, 2007)

Estudar medicina pode ser um simples exercício de memorização até que chega a hora da verdade. Existe aquele momento importante em que se passa da teoria à acção e é solicitado ao estudante que opere sobre a máquina extremamente complexa que é o corpo humano. Mas os melhores só se distinguem dos teóricos quando chega a altura de explorar o corpo humano em carne e osso. Seis alunos formam um grupo improvável: Sun-hwa (Ji-min Han) a rapariga boazinha, o líder natural Ki-beom (Tae-gyeong Oh), a ratinho de biblioteca Eun-joo (Soy), o gordo Kyung-min (Won-joo Moon), a promiscua Ji-yeong (Yoon-seo Cha) e Jung-seok (Joo-wan On) o menino do papá , bem-parecido e com dinheiro como convém. Agora que chegou a altura de separar os incompetentes dos futuros médicos vale tudo. Os mais ambiciosos apontam com a precisão cirúrgica de um profissional os mais fracos e provocam a excisão do tumor. A selecção natural inicia-se na primeira aula de anatomia. O grupo é confrontado com o cadáver de uma bela mulher com a tatuagem de uma rosa no seio. Sun-hwa tem uma sensação estranha quando disseca o cadáver. Compreensível, certo? Eun-joo é a primeira a ceder à pressão e é humilhada pelo Dr. Han (Min-gi Jo), um homem extremamente reputado no seio da comunidade científica. Porque será que todos os grandes professores na universidade são uns estupores inveterados? Requisito de profissão?
Com o aproximar da época de exames aumenta o nervosismo e os alunos recolhem aos dormitórios para se embrenharem nos livros. A faculdade é abalada pela morte brutal de uma aluna na morgue. A polícia inclina-se para a tese de suicídio derivada a intensa pressão à qual os estudantes estão sujeitos. Estes não se sentem seguros visto que as mortes vão-se sucedendo a um ritmo vertiginoso. O grupo de amigos, liderado por Sun-hwa (Ji-min Han) junta-se para investigar o caso e cedo se debruçam sobre o cadáver da aula de anatomia. Estranha causa-efeito mas enfim.
“The Cut” sofre do mal que se abateu sobre o cinema sul-coreano na última década: a repetição a que se junta uma tremenda falta de imaginação. Como se uma primeira ideia tivesse sido preservada em formol, ressequida com a passagem do tempo mas reutilizável. Verifica-se a inexistência de um desejo colectivo no sentido de efectuar um corte profundo no ideário institucionalizado no cinema de terror coreano. Há apontamentos aqui e ali, que fogem ao status quo mas não se preocupem que os estúdios estão atentos e decerto encaminharão os cineastas vindouros para o que fizeram os antecessores e, pasme-se, copiá-los. Há quem lhe chame homenagem, mas dez anos de homenagens parece-me exagero.
No entanto, existe uma cena singular no departamento dos sustos, no primeiro capítulo da película. Tentem imaginar o seguinte cenário: ficarem fechados na morgue sozinhos durante toda a noite. Não é para fracos de coração (acreditem que o trocadilho terá muito mais piada quando se dispuserem a ver o filme). Além disso, o argumento incorre em dois erros graves. A narrativa começa por matar uma das personagens mais empáticas em todo o filme e o nosso grupo de estudantes é demasiado grande. Dois ou três bastavam. Para quê cinco ou seis personagens decorativas com pouca ou nenhuma participação na desmistificação do mistério que vão ser mortas de qualquer modo? Antes uma parelha inteligente e depois centena e meia de mortes. Who cares?
O resto é um filme de terror standard: segredos antigos mal escondidos, diga-se de passagem, uns culpados que não conseguiam ostentar um ar mais menos suspeito mesmo que tentassem e claro, personagens descartáveis ao menor sinal de aborrecimento do enredo. Como não podia deixar de ser e por que os argumentistas coreanos gostam de complicar (que isso é uma coisa boa, atenção), entra-se no thriller sobrenatural com direito a incursão breve e pouco substancial no território da experimentação científica. Não há nada ao nível de um Frankenstein ou de uma ilha do Dr. Moreau. Mas é demasiado pouco, demasiado tarde. Para os fãs de K-horror é mediano. Para os restantes é sofrível. Estão a ver a diferença? Duas estrelas.

Realização: Derek Son
Argumento: Soon-wok Jeon
Ji-min Han como Sun-hwa
Tae-gyeong Oh como Ki-beom
Joo-wan On como Jung-seok
Min-gi Jo como Dr. Han
Soy como Eun-joo
Won-joo Moon como Kyung-min
Yoon-seo Cha como Ji-yeong


Próximo Filme:  "Don't turn Away" (Wag Kang Lilingon, 2006)

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