quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Don't turn Away" (Wag Kang Lilingon, 2006)


Existe maior golpe publicitário do que juntar duas das actrizes que mais atraem os espectadores ao cinema? Foi exactamente isso que a Star Entertainment e a Viva Films, duas produtoras filipinas fizeram em 2006, quando juntaram as duas maiores sex symbols do país. Na altura, Anne Curtis e Kristine Hermosa competiam entre si para ver qual das duas era a rainha das bilheteiras até que em 2010, Hermosa se retirou (vamos ver até quando), para se dedicar à família. Como se não bastasse, recrutaram dois cineastas para realizar cada um dos capítulos do filme. O resultado é tão desigual que se não soubéssemos, diríamos que estávamos a ver dois filmes diferentes.

“Lullaby” (Uyuayi)
Melissa (Anne Curtis) é enfermeira no hospital do Anjo da Misericórdia que está envolto em controvérsia. Os pacientes do sexo masculino internados no hospital estão a ser afectados por uma aflição que culmina com a sua morte durante a madrugada. Os órgãos de comunicação social estão obcecados com o evento e James (Marvin Agustin), o namorado jornalista de Melissa, aproveita a oportunidade para conseguir um exclusivo. Contra os desejos de Melissa que suspeita do sempre indisposto Dr. Carl (Raymond Bagatsing) faz-se internar. Todas as noites, às 3 da manhã, o hospital parece entrar numa outra dimensão e Melissa, que está no turno da noite, testemunha fenómenos que a fazem temer por James.

“Mirror” (Salamin)
Rosing (Cherry Pie Picache) muda-se com as duas filhas Angel (Kristine Hermosa) e Nina (Celine Lim) para um velho casarão após o marido a ter trocado pela amante. A penúria obriga-as a mudar-se e a antiga mansão com poucas condições de habitabilidade é o melhor que as suas poupanças podem custear. Um dia, enquanto Angel e a sua irmã mais nova exploram a casa, deparam com um espelho e acidentalmente invocam espíritos. Os dias passam e a somar aos fenómenos paranormais que se apoderaram da casa, elas não se conseguem entender com os homens das suas vidas. Além dos inúmeros problemas existentes irão descobrir que a casa guarda o seu próprio segredo terrível.

Entra o hospital assombrado, tema recorrente e pouco rebuscado. É típica historieta, “escrita de argumentos para totós” ou pelo menos recém-licenciados. Um dos grandes argumentos a favor do terror é o medo da morte. Que lugar mais próximo da morte que um hospital? Filmes de terror ocorridos num hospital não são novidade para as audiências ocidentais, nem sequer para as orientais as quais podem escolher entre muitos outros títulos como “Infection” (2005) e “Haunted Changi” (2010). Felizmente, o primeiro capítulo, realizado por Quark Henares funciona bem por si próprio. Podia ser apresentado em qualquer festival como uma curta-metragem. Se ao menos tivessem ficado por ali… Anne Curtis, a morena de traços regulares mas suaves está perfeita no papel de anjo branco. E Marvin Agustin como jornalista demasiado curioso para ser próprio bem é a contra-parte adequada à suavidade que Curtis transporta para o ecrã. Melhor, só a química entre os dois, que proporciona momentos de descontração e fornece um retrato realista de um parzinho apaixonado. Quark Henares sabe tirar partido do cenário através de longas sequências dos corredores do hospital durante as horas de pouco movimento. Mas o argumento não está isento de problemas. Para começar, um internamento, meus amigos, não é a decisão mais fácil deste mundo. Uma pessoa não é internada por que tem uma dor de barriga e, mesmo assim, levava com uma carrada de medicamentos caros para o bucho e era mandada para casa. Em segundo lugar, nunca se admite a possibilidade de que os acontecimentos têm uma explicação racional. A bem do suspense, seria interessante identificar sugestões de paranóia colectiva, imaginação hiperactiva ou até, sei lá, uma fuga de um gás ou qualquer coisa que pudesse provocar alucinações nos pacientes. Ademais, a morte num hospital não é propriamente de estranhar. E se apenas sucede nos pacientes masculinos… Uma predisposição genética talvez?! Dispensável de todo era o vídeo à la “Ring” (1998) que é mostrado a dada altura e o qual nunca é repescado. Não passa de uma pista errada, de um erro de amador que não está para se chatear ainda que o efeito seja tão perturbador quanto o pretendido. Por fim, e perante a hipótese de um assassino, fica por explorar a sua psique como se de um Jack Torrence se tratasse. A transição é demasiado radical e como tal, pouco impactante.
Por fim, a Hermosa e que fermosa ela é. Beleza etérea, clássica mesmo, uma paixão à primeira vista para a câmara. Pois que a direcção de Sineneng retira partido da sua beleza com close-ups constantes. Um das poucas mais-valias da sua realização. Passamos então do lugar-comum hospital assombrado para a casa assombrada, com menor eficácia. A câmara muda repentina e temo dizê-lo, também a direcção de actores. O que Anne Curtis fez de bem em “Lullaby” como a enfermeira suave é perdido no exagero de “Mirror”, onde passa por todos os tiques irritantes de actriz estreante num filme de terror. O capítulo dirigido por Sineneng dá origem a um final inglório para “Don’t Turn Away”. Desde a câmara mais vulgar ao cenário insipido, introdução de personagens várias que nada fazem para a história avançar e algumas opções de montagem duvidosas. Tenho sérias dúvidas que os realizadores tenham visto o trabalho do outro e que o filme não seja mais do que uma obra remendada. Quando se dá a reviravolta e as pontas soltas são atadas, não é como se não existisse já uma suspeita da verdade. Face à insuficiência do argumento, é difícil não nos questionarmos por que é que o estúdio optou por ter dois realizadores e retirar coesão a um produto já de si deficitário. É um daqueles casos em que as manobras de marketing são mais importantes para a obtenção de receitas de bilheteira do que o incentivo à qualidade do produto. Duas estrelas.

Capítulo #1
Realização: Quark Henares
Argumento: Ricky Lee
Anne Curtis como Melissa
Marvin Agustin como James
Raymond Bagatsing como Dr. Carl

Capítulo #2
Realização: Jerry Lopez Sineneng
Argumento: Ricky Lee
Kristine Hermosa como Angel
Cherry Pie Picache como Rosing
Celine Lim como Nina
Soliman Cruz como Nestor
Anne Curtis como Nina
Marvin Agustin como James


Próximo Filme: "Hansel & Gretel" (Henjel gwa Geuretel, 2007)

A questão impõe-se: Curtis ou Hermosa?



Anne Curtis

Kristine Hermosa

1 comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...