No Japão existe uma maravilhosa promiscuidade entre a escrita e o audiovisual. Só deste modo se explica como um Haruki Murakami viu recentemente adaptado ao cinema o seu romance “Norwegian Wood”, ou como a autora Kanae Minato esteve a esta distância de ver o seu misterioso “Confessions”, nomeado para o óscar de melhor filme estrangeiro de 2010. E o mesmo se aplica à mangá (se preferirem ser menos puritanos, banda-desenhada), que é menos brincadeira de crianças e fases de adolescentes do que entretenimento sério para adultos. A transição natural é para o cinema de animação e estúdios desses, há-os aos pontapés. Toei? Ghibli? Sunrise? Mas nem sempre uma versão live action é o melhor passo seguinte. O filmes de animação e todo o merchandise gerado a seu redor, já rende tanto dinheiro por si próprio, que uma adaptação mal sucedida pode matar a franquia. Tipo, os fanáticos da mangá, não têm grande apreço por quem lhes mata os hobbies.
“Death Note” é uma dessas obras que se podiam ter virado contra os seus criadores. Concebido originalmente por Tsugumi Ohba (estória) e Takeshi Obata (desenhos), “Death Note” foi adaptado a uma série televisiva pela Madhouse Studios e por fim, abençoado pelos deuses dos filmes em 2006. A franquia quedou-se por dois filmes e um spin-off de uma das personagens mais populares “L” (Ken’ichi Matsuyama). “Death Note” pode ser traduzido à letra por bloco da morte.
Light Yagami (Tatsuya Fujiwara) é o típico estudante idealista, revoltado com a injustiça no mundo que gostaria de mudar para “melhor”. Fica-se pelos sonhos até ao momento em que o bloco cai do céu, a seus pés e lhe é dada a hipótese de demonstrar a sua concepção de “melhor”. O bloco tem inscritas cinco instruções fundamentais: a pessoa cujo nome for registado no bloco morrerá; a morte ocorre somente quando o escritor visualiza o rosto da vítima; ela morrerá como ele previu se esta tiver sido registada nos 40 segundos imediatos à escrita do nome, sendo que sem descrição da causa da morte, morrerá de ataque cardíaco. A quinta instrução diz que após a causa da morte, o escritor tem 6 minutos e 40 segundos para detalhar o modo como ocorrerá a morte. Estes são os fundamentos, mas existem outras regras passíveis de ser aprendidas com a “experimentação”.
Light é acompanhado pelo Shinigami Ryuuk (Shidô Nakamura), um Deus da Morte, só visível a quem tocar no bloco da morte e cuja longevidade depende da morte de seres humanos. Além de um Deus da Morte que fala connosco e nos ajuda a matar seres humanos através de um bloco, ele tem um vício curioso por maçãs. E que melhor maneira de promover a ingestão de fruta a crianças? “Death Note” é uma melhor ideia no papel do que em filme. Infelizmente, a premissa de transformar o projecto concebido em objectivo realizado, só funciona no filme pois, que uma boa mangá não se transformou necessariamente na melhor adaptação. E o problema nem advém da premissa. Convenhamos que um bloco assassino não é a estória mais realista mas este conceito low tech não é assim tão diferente de websites, e-mails, cassetes de vídeo e de música amaldiçoados. Embora, estes exemplos tecnológicos tenham por trás uma força sobrenatural, nomeadamente, sob a forma de energia residual deixada por uma morte em circunstâncias trágicas. Em “Death Note” existe uma grande mortandade mas, originada pelas maquinações conscientes de Light Yagami. Se, nos créditos iniciais, podíamos empatizar com o seu desejo de erradicar a injustiça e a maldade, a partir do momento em que ele se torna senhor dos destinos de todos esse sentimento desaparece. Será menos condenável em termos morais, se ao invés de premirmos um gatilho, escrevermos um nome? É que não deixamos de ser autores materiais de um crime… Imaginem-me então a escrever num bloco de notas o vosso nome, enquanto visualizo mentalmente a vossa face… Já sentem arrepios?
Realização: Shusuke Kaneko
Argumento: Tsugumi Ohba, Takeshi Obata e Tetsuya Oishi
Tatsuya Fujiwara como Light Yagami
Ken'ichi Matsuyama como L
Asaka Seto como Naomi
Erika Toda como Misa Amane
Erika Toda como Misa Amane
Shidô Nakamura como Ryuuk
Próximo Filme: "Ichi the killer" (Koroshiya 1, 2001)
Pois... Sou grande fã do mangá e do animé, mas quando vi o trailer do filme a minha vontade de o ver foi zero e até hoje ainda não lhe peguei.
ResponderEliminarO duelo entre L e Light é épico, Death note vale muito a pena, neste registo é que parece que não.
Venha agora o Ichi the killer, esse já vi e é filmaço
Há uns anos fui grande fã de animés e esse sempre foi dos meus favoritos, adorava a historia...
ResponderEliminarJá agora, vim aqui ter através do teu blog antigo 'voltei a ver', não fazia ideia que ainda andavas por estas bandas...
Olá João! Obrigada pela visita. Mas não digas a ninguém ;)
ResponderEliminarTwo different alter-egos.
Ando por onde sempre andei mas finalmente dei o passo em frente... E não foi para cair no precipicio.
Death note resume se a anime, pois tanto a adaptação a filme como a teatro torna a história menos interessante. Vi a série toda e gostei, no final acabei por nunca perceber se eu seria mais apoiante de K do que L, mas a batalha foi bastante interessante. Apesar de manterem se fiéis na história, a apresentação gráfica do filme seria mais interessante se jogassem mais com sombras.
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