Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas. O confessionário é vosso.
Por: Sam do Keyzer Soze's Place
Dos títulos cujos percursos ficaram imediatamente afectados pelos atentados do 11 de Setembro de 2001, OPERAÇÃO SWORDFISH foi o que mais "danos colaterais" registou. A seu favor, tinha produção de Joel Silver, "mago" das super-produções de Hollywood, um elenco de alto calibre (John Travolta, Hugh Jackman, Don Cheadle e, sobretudo, Halle Berry a ocupar a vaga de femme fatale com pouca ou nenhuma roupa), diálogos que podiam muito bem ter sido dactilografados por Quentin Tarantino e sequências de acção quase "orgiásticas" nos seus índices de devastação urbana.
Com todos estes ingredientes, o que poderia falhar? Obviamente, o contexto político-temporal da sua estreia não foi o mais favorável à sugestão de planos ultra-secretos para derrubar estados que acolhem terroristas como refugiados políticos ou visões de prédios a explodir com contornos demasiado semelhantes aos observados nas Torres Gémeas em 2001 — como resultado, OPERAÇÃO SWORDFISH "desapareceu" rapidamente de circulação.
Deste modo, privou-se uma franja considerável de espectadores de um dos actioners que mais empreendeu na difícil tarefa de aliar um argumento coerente com a pura adrenalina ilógica das suas sequências de acção.
Mas o rotundo falhanço desse esforço consciente de seriedade, no seio de uma produção desta natureza, preenche o filme de uma constante atmosfera de exagero e peculiar “supra-realismo” aliada a uma fabulosa auto-paródia ao próprio cinema em que OPERAÇÃO SWORDFISH se insere.
Os contornos deste curioso monológo da personagem de John Travolta, logo nos minutos iniciais e a queixar-se da ausência de realismo que caracteriza a maioria do mainstream norte-americano, só são devidamente apreendidos no final do filme — pois assiste-se, ipsis verbis durante o seu visionamento, a tudo aquilo que aqui é criticado:
OPERAÇÃO SWORDFISH torna-se ainda mais “delicioso” pela análise individual das sequências do que através da soma das suas partes.
Há uma década, sem YouTube nem massificação de torrents e afins, um momento como este apresentava-se genuinamente emocionante:
E depois há a averiguação de competências informáticas com sexo oral à mistura, reviravoltas atrás de reviravoltas atrás de reviravoltas que submete qualquer espectador a rever o filme, teorias de conspiração capazes de deixar Oliver Stone verde de raiva e um terceiro acto que oblitera, por completo, a definição de realismo que podemos encontrar no dicionário.
«Realism; not a pervasive element in today's modern American cinematic vision», como afirma Gabriel (Travolta) no segmento introdutório do filme acima mencionado. Realmente, ele não exubera também OPERAÇÃO SWORDFISH, que caiu — de forma extremamente célere — em esquecimento. Contudo, alimento a secreta teoria de que fez “escola” no cinema de acção moderno: há muito do filme de Dominic Sena nos “preceitos” dos recentes Transformers, Vingadores ou Batalhas Navais.
Só não restou a ironia e a auto-paródia de OPERAÇÃO SWORDFISH, o guilty pleasure da minha vida e com o qual aceitei o convite, do Not a Film Critic, para esta rubrica.
PS: Mais um contributo muito interessante, Sam. Muito Obrigada.
Obrigado eu pelo convite! :)
ResponderEliminarUma interessante escolha. Ainda não o vi, mas fica o apontamento.
ResponderEliminarE, tratando-se de um filme que caiu rapidamente no esquecimento, nada como este espaço para o relembrar. :)
Excelente texto, Sam, e excelente iniciativa, FilmPuff.