Mas deixai as senhoras brilhar. E de facto é Yeong-ae Lee, uma actriz infelizmente afastada da sétima arte quem mais brilha. É por senhoras como esta que são criados os prémios de representação. A sua Geum-ja é naive, inocente, angelical, fria, calculista, maternal e todo o espectro de emoções que Chan-wook conseguiu empregar no filme. Algumas então passar-nos-ão despercebidas. “Lady Vengeance” é assim tão complexa. As cenas de Geum-ja na prisão são deliciosas. A audiência fica a conhecer as suas companheiras de cela, quase tão bem quanto ela, mediante pequenas cenas contadas em estilo flashback. E permite um investimento tal, que é possível odiar ou sentir piedade pelas prisioneiras, tanto quanto se deseja que Geum-ja consiga a sua vingança. Park dá também um docinho àqueles que sempre demonstraram desejo de confrontar os seus demónios e vingar aqueles que destruíram a sua vida. Imaginem. Todo o filme é pontuado por uma fotografia e um visual geral de simbolismo. Desde o início altamente focado no sol, nos brilhos e espaços abertos ao final negro e de espaços fechados. É flagrante o contraste entre uma Geum-ja de olhos vivos e esperançosos na sua cela alva sobrepovoada e uma Geum-ja sentada à beira da cama do seu quarto escuro e pequeno, como se de uma cela se tratasse. Geum-ja era mais livre na prisão do que é na cidade. Lá tinha tempo para sonhar a sua vingança. No seu quarto citadino ela não se consegue libertar das amarras do desejo obsessivo de vingança. É só na sua descoberta como mãe e no conforto da sua filha que encontrará a verdadeira salvação. Será?
Depois de um inicio estranho, o ritmo arrasta-se, prolongando-se por mais tempo do que deveria mas em termos globais funciona. Pelo meio, há cenas de extrema violência e desconcerto, incluindo assassínio e abuso psicológico e sexual. Cenas tão ou mais impressionantes que filmes que apostam no gore. O horror está na mente e Chan-wook Park é aqui, mais cerebral que visceral. Depois de dois filmes antecedentes muito bons, está claramente habilitado a seguir um caminho diferente com “Lady Vengeance”. Por ela sim, queremos sentir simpatia mas, realmente, depois de tanto sofrimento, de que serve a vingança? A vingança que vale por ela mesma é oca. No final, a vida continua tão miserável quanto antes. De nada serve sem redenção. Quatro estrelas.
Realização: Chan-wook Park
Argumento: Chan-wook Park
Yeong-ae Lee como Geum-ja Lee
Min-sik Choi como Senhor Baek
Yea-young Kwon como Jenny
Próximo filme: "Merantau Warrior" (Merantau, 2009)
Adoro o LADY VENGEANCE!
ResponderEliminarExcelente texto :)
Cumps cinéfilos.
Também gosto muito deste filme, aliás de toda a trilogia da vingança, concebida e muito bem por Park. É difícil ultrapassar Oldboy, e isso Lady Vengeance não consegue, mas envereda por um sentido algo diferente, o que o torna autónomo o suficiente para se desprender de toda a bagagem e influências que sofre. Gostei da crítica, sobretudo no que à protagonista diz respeito - um excelente desempenho, de acordo.
ResponderEliminarJá conhecia o blogue, aliás já o sigo há algum tempo. Tentarei comentar por aqui mais vezes, até porque o cinema oriental me diz muito, sou especial admirador.
Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo