(Pssst... Filme todo. Aproveitem enquanto é tempo)
Quem quis matar a sede por filmes de terror coreanos em 2008 não teve grandes opções. Houve o brilhante “The Chaser” mas esse é mais rapidamente contemplado na categoria de thriller de acção que em K-horror. “Loner” não vai buscar inspiração muito longe. A Coreia do Sul tem sido apontada, de modo sistemático, como um dos países com a taxa de suicídio mais elevada do mundo senão mesmo a maior. De facto, o suicídio é tão prevalente que os casos ocorridos entre personalidades de sucesso transversalmente aos diferentes sectores de actividade, incluindo, pessoas da indústria do entretenimento e, de quem, se poderia dizer, que tudo tinham para serem felizes são usuais. Neste cenário negro Jae-shik Park ataca o problema do ponto de vista da adolescência, problemática e complexa, susceptível à menor provocação. Após o suicídio da melhor amiga Ha-jeong (Da-in Lee), incapaz de lidar com a extrema crueldade dos rufias da escola, Soo-na (Eun-ah Ko) fecha-se no quarto e isola-se do mundo. À medida que a sanidade mental de Soo-na parece deterior-se o tio Se-jin (Yu-seok Jeong) pede ajuda a Yoo-mi (Min-seo Chae), a sua nova namorada que é psicóloga, para ajudar Soo-na a lidar com a perda e regressar à vida social, antes que esta possa também atentar contra a sua vida.
Se há coisa de que não podem acusar Jae-shik Park é de previsibilidade mas, pelo contrário, o seu argumento dispara, sem contemplações, em todos os sentidos. Em 117 minutos, Park consegue fazer-nos acreditar numa aparição fantasmagórica, numa exploração dramática da síndrome Hikikomori (reclusão em casa), num mistério de suspense e um drama familiar. E como parece que Park tem dificuldade em efectuar escolhas ele opta por todos estes subenredos.
Creio que a audiência não terá um problema com reviravoltas, isso é o mais sucede nos filmes de terror, excepto talvez se for uma produção independente, aí talvez já possamos ansiar por um pouco mais originalidade. Aliás, em termos pessoais (sim, eu tenho opinião), tenho vindo a apreciar o facto de qualquer filme possuir um twist. E se tal não suceder, quase (!) fico desapontada. O que muitos argumentistas parecem não compreender é que a simplicidade pode ser a sua maior vantagem. Nem todos podem aspirar a ser o novo “Oldboy”. “Loner” é apresentado como um filme de terror a não perder quando, retirando, alguns momentos de sobressalto, não é mais que um grande aborrecimento. Não. “Loner” é um embuste com um grande segredo de família no núcleo que, quando exposto faz de personagens de si já pouco simpáticas, patéticas ou detestáveis. Queiram os bons costumes e uma ânsia de ocultar tudo o que possa culminar numa exibição pública embaraçosa, que se varram os segredos para debaixo do tapete e, desse clima de secretismo, resultem gerações inteiras perturbadas. Deixemos temáticas como o suicídio e a síndrome Hikikomori que tão actuais estão na sociedade e deixemos de lado as virtudes da reflexão social em nome de uma estória bem mais familiar.
Apesar do empenho dos actores, que não é pequeno, já que gritam, choram, esperneiam e recolhem-se dentro de si mesmos a cada momento, “Loner” não podia ser menos excitante. Além disso, tem a desvantagem de suceder a filmes como “Cello” (2005) ou “Cinderella” (2006), que trilharam o mesmo território antes e com resultados igualmente díspares. Tivera mais concorrência nesse ano e talvez nem tivesse ouvido falar de “Loner”, que não é um dos melhores filmes de terror a sair da Coreia do Sul mas, porventura, dos mais deprimentes. Duas estrelas.
Realização: Jae-shik Park
Argumento: Jae-shik Park
Eun-ah Ko como Soo-na
Yu-seok Jeong como Se-jin
Min-seo Chae como Yoo-mi
Da-in Lee como Ha-jeong
Próximo Filme: "Waterboys", (Wota Boizu, 2001)
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