Neste período de conturbação social e com uma ansia de escapismo crescente, (a alternativa é a depressão) a magia do cinema permite-nos esquecer, pelo menos, por alguns momentos as amarguras da vida. Ora como nem todos têm 6€ para pagar em bilhetes de cinema e, ainda menos têm acesso a convites VIP, vivam as cópias piratas e streaming online. Isto (não) foi um desabafo senhores que regulam estas coisas.
Um desabafo seria talvez admitir a necessidade de assistir a películas inócuas como modo de descansar a retina de governantes, que nem se conseguem a eles próprios convencer da legitimidade dos argumentos que apresentam e, pôr-me a ouvir discos tipo nostalgia, por que já não há paciência para Micki Minajs a assassinar a música.
Valham-nos os “tipos muito engraçados do kung fu” que parecem fazer coisas impossíveis com o corpo – aquela flexibilidade senhores, aquela flexibilidade! E mal não fará se juntarmos ao kung fu uma boa dose daquela pandemia tão bem conhecida do sexo feminino, chamada futebol. Para os mais fervorosos fãs, não, o Benfica não faz nenhuma aparência mas não se preocupem que “Shaolin Soccer” não podia ser mais divertido nem menos polémico. Stephen Chow é Sing, um artista de artes marciais tornado cantoneiro que procura um modo de globalizar o modo de vida shaolin. Ele não é propriamente inteligente senão já se teria apercebido há muito que a sua “perna de aço” e o seu talento inato para jogar futebol podiam tornar real o seu sonho. E como o destino destas coisas, (também lhe podem chamar conveniências de argumento), Sing é aconselhado por Fung (Ng Man Tat), um senhor que nos seus tempos áureos como jogador de futebol era apelidado de perna dourada até a ver quebrada por culpa do companheiro de equipa e óbvio vilão Hung (Patrick Tse Yin). Na linha do amor do ponta-de-lança encontra-se uma mocinha tímida, Mui (Zhao Wei) que faz pão com auxílio do seu magnífico domínio da arte do Tai Chi. Mui representa a estória clássica de rapariga feia vira quase Miss Universo. E que transformação, por entre borbulhas, crostas, cicatriz, cabelo tipo óleo de fritar e, pouco faltou para postulas e bubões. Os senhores da maquilhagem divertiram-se bastante a tornar a bela Zhao Wei feia.
Mas como dizia só temos dois personagens para uma equipa de futebol pelo que temos oportunidade de assistir ao divertido recrutamento e sessão de treinos dos antigos companheiros monges de Sing. Entre os companheiros encontram-se um verdadeiro cabeça dura que é um homenzinho mais cobarde e um “mãozinhas” que passava por clone do Bruce Lee, a que não é alheio o fato-macaco amarelo exactamente igual ao que a lenda do jeet kune do vestiu em “Game of Death” (1972). Todos juntos formam uma dream team, que se torna uma séria candidata ao titulo de melhor equipa do campeonato do mundo. Essa possibilidade deixa Hung a tremer, pelo que recorre sem embaraço às suas técnicas preferidas: batota. Os jogos são qualquer coisa de fabuloso. A equipa shaolin praticamente não chuta a bola, recorrendo a todo o tipo de acrobacias aéreas e à ajuda do computador para colocar a bola dentro da baliza adversária. Francamente? Alguém está à espera que a equipa maravilha perca o jogo?
“Shaolin Soccer” não tem grande estória, do início ao fim é fácil perceber que a fusão shaolin/futebol são apenas uma pretexto para apresentar uma sucessão de gags hilariantes, uns após os outros. Aos momentos de especial comicidade não é alheia a presença especial das estrelas Karen Mok e Cecilia Cheung como capitãs da “equipa do bigode”. Também as brincadeiras com comida por parte do “pequeno” irmão e a transformação física extrema de Mui estão qualquer coisa de fantástico. No meio desta paródia, a moral reside em qualquer coisa como ser perseverante e ter fair-play, que no final os justos serão recompensados. Por fim, fica a sensação que Stephen Chow nos pregou uma grande partida. De facto, pelo número de críticas e, pelas reacções por esse mundo fora ao filme duns tipos do kung fu que jogam futebol, até por quem não aprecia artes marciais é demonstrado que se calhar “Shaolin Soccer” não é assim tão inocente e cumpre para a posteridade o objectivo naif e fantástico de Sing: disseminar o kung fu pelo mundo. Três estrelas e meia.
Realização: Stephen Chow
Argumento: Stephen Chow, Chi-keung Fung, Stephen Fung, Wei Lu e Kang-cheung Tsang
Stephen Chow como Sing (Perna de aço)
Zhao Wei como Mui
Man tat Ng como Fung (Perna dourada)
Patrick Tse Yin como Hung (Treinador da Equipa Malvada)
Próximo filme: Sessão Especial Motelx
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