Há poucos cenários com maior potencial para o macabro e tenebroso que uma sala de aulas coreana. A ambição desmedida e alta competitividade são lugar-comum neste sistema educacional. É um lugar onde ser bom não chega. Ser bom não é suficiente para receber um elogio. Ser bom é apenas um motivo para se ser encorajado a fazer mais e melhor. O objectivo é ser o melhor da turma e, depois disso, o melhor da escola. A meta: chegar às universidades mais prestigiadas para aceder aos melhores cargos. Menos que isso é um fracasso. Que tal isto para pressão? “Death Bell” inicia-se num desses períodos extenuantes. Os alunos já se encontram na recta final de exames mas existe ainda um último desafio antes das férias de Verão: um grupo de estudantes ingleses vai visitar a escola e dois professores têm a tarefa de preparar os vinte melhores alunos da escola, uma elite excepcional, para impressionar os visitantes. Eis que quando todos já saíram para aproveitar as férias e os escolhidos iniciam mais uma série de exames toca a campainha da escola e a televisão da sala liga-se. Uma das alunas está num tanque que se está a encher rapidamente de água. Nas paredes do tanque uma equação. Uma voz sobrehumana dita as regras: eles terão de resolver a equação ou a rapariga morre. Se tentarem sair da escola morrerão. E com o desaparecimento dos telemóveis e corte de comunicações estão impossibilitados de contactar o exterior… Parece urgente o suficiente?
“Death Bell” segue a tradição de armadilhas extremamente elaboradas à la franchise “Saw”, onde os protagonistas estão bem cientes das consequências do fracasso em concretizar as “instruções”. Há um enorme engenho por trás das mortes e “Death Bell” é um dos poucos filmes de terror que felizmente não cai no habitual truque do fantasma vingador. Há alguém realmente inteligente e maléfico a planear o esquema tenebroso, o que é capaz de ser, a meu ver ainda mais assustador. De facto, toda a encenação por trás das mortes recorda “Bloody Reunion”, um filme bastante superior em termos de enredo mas não menos importante pelo impacto visual. “Death Bell” foi realizado por um homem do mundo dos videoclipes e é para a imagem que ele tem apetência, não nos iludamos. Por que sim, persiste a tradição de personagens idiotas com ideias completamente descabidas: “embora separar-nos?”, melhor ainda, “estamos todos a morrer, embora virar-nos uns contra os outros?” Mas este filme foi criado para servir um público mais jovem. Uma sala de raparigas pré-adultas em uniforme escolar e rapazes capazes de fazer qualquer uma sucumbir ao seu charme masculino contribuem para uma obra que sabe que vive mais da forma que de conteúdo. Entre os principais motivos de atracção para a audiência jovem encontram-se o jovem actor e modelo Kim Bum (eu não disse que quase não há gente feia naquele sítio?) que faz o papel do rebelde Hyeon e a heroína com um bocadinho mais de cérebro que os génios que a rodeiam I-na (Gyu-ri Nam).
Esta última, tão ou mais conhecida pela polémica confrontação pública que opôs a sua agência de entretenimento e os membros da sua ex-banda a ela própria assim como as inúmeras cirurgias plásticas a que se submetem. Ela é o sonho de qualquer cirurgião plástico e um dos principais argumentos a favor da cirurgia estética. Digamos que a vida dela no espectro público foi bastante beneficiada pelas alterações cosméticas a que se submeteu. De destacar ainda a presença da Eun-jung Ham das T-ara num curto mas importante papel. “Death Bell”, com apenas 88 minutos de duração é altamente eficaz a chegar do ponto A ao ponto B. Não se detém em pinceladas dramáticas como tantas vezes sucede no cinema sul-coreano. Apresenta as personagens importantes, quase todas reduzidas ao estereótipo, foca os ataques não mais do que o tempo necessário e concentra-se na resolução da trama. Ora porquanto o como seja extremamente elaborado é o porquê que mais deixa a desejar. Se o motivo está ao alcance de qualquer pessoa com dois neurónios é o quem que mais intriga. A esse respeito, a intransigência da edição será um dos grandes culpados. Há momentos em que as transições de cena são pouco fluídas e apesar de não se perder o sentido, persiste a ideia que um pouco mais de conteúdo teria ajudado a conferir mais sumo à estória. Mas não podemos ser muito esquisitos. Foi uma hora e vinte minutos de diversão que me prometeram e cumpriram. Três estrelas.
Realização: Hong-Seong Yoon
Argumento: Hong-Seong Yoon e Eun-kyeong Kim
Beom-soo Lee como Chang-wook Hwang
Gyu-ri Nam como I-na
Kim Bum como Hyeon
Yeo-eun Son como Myong-hyo
Eunjung Ham como Ji-won
Próximo Filme: “Clash” (Bay Rong, 2009)
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