domingo, 5 de janeiro de 2014

"Deranged" (Yeongasi, 2012)


A humanidade adora uma boa calamidade. Natural ou provocada é alvo da curiosidade mais mórbida de que se é capaz. Documentários sobre o extermínio do povo judeu por nazis, o maremoto mortífero que abalou o este/sudeste asiático e parte da Oceânia, o fenómeno do suicídio em massa da aparente calma floresta Aokigahara, ou os esquadrões da morte na Indonésia, não são mais do que desculpas para uma sessão de masoquismo colectiva. Se por um lado, os acontecimentos são trágicos e, qualquer pessoa, fora de psicopatias se deverá envolver em termos emocionais com as histórias, por outro lado, há uma sensação de dignidade e vitória contida, de que o Homem é capaz de ultrapassar todos os obstáculos. E sim, egoísmo, pelos afectados serem outros que não nós. Imaginem pois que no centro da civilização pessoas que até ali nunca demonstraram sintomas depressivos começam a ser acometidas de uma loucura que as leva ao suicídio. Une-as um misto de sintomas tão estranhos como avassaladores para quem assiste e nada pode fazer: um apetite insaciável, seguido de uma sede que não parece esgotar-se se não, perto da morte…
Jae-hyuk (Myeong-min Kim) é um homem que vê a vida entrar em colapso quando a mulher e os filhos menores manifestam os sintomas da estranha maleita. Ele irá juntar-se ao irmão Jae-pil (Dong-wan Kim) um detective da polícia com quem tem tido uma relação afastada para descobrir como os salvar.
“Deranged” é tão excitante, veloz e assustador quanto uma montanha russa. O argumento é tão rápido e furioso quanto a propagação da pandemia. E quando o desconhecido encerra o perigo mortal, a sociedade exige respostas do Governo. Sem estas, a ordem social é abalada e as pessoas viram-se para si próprias. Mortíferas como só o Homem consegue ser. Cada um por si. O lucro fácil e à custa das vítimas não é uma casualidade, torna-se um acto consciente. É neste clima de histeria que um homem procura, a todo o custo, encontrar uma solução para salvar o que lhe é mais sagrado. Na verdade uma estória que deverá espelhar tantas outras.
Mas não é só no drama humano que “Deranged” demonstra ser superior a tantos outros filmes de pragas que lhe sucederam. Por trás dos eventos encontra-se uma conspiração tão maléfica e que poucos poderiam acreditar na sua plausibilidade. Ou melhor, que tal conspiração pudesse existir, não há a menor dúvida (e é onde reside o ultraje), que esta se pudesse concretizar na realidade já possuo maiores reservas. “Deranged” apresenta um argumento inteligente, que se foca tanto nos “porquês” como no “o quê”. Não é apenas o voyeurismo casual de uma tragédia. A trama familiar é envolvente e capaz de levar às lágrimas: o pai em desespero, a mãe impotente e a corrida contra o tempo que não perdoa. E que corrida, as pessoas choram copiosamente, insultam, agridem, espezinham, fogem, atacam… Estão a ver como é fácil perder o fôlego? Mas podem esperar muitas acções estúpidas. Começo a resignar-me às personagens idiotas e/ou acções sem qualquer tipo de lógica nos filmes catástrofe e de terror. Se conseguirem lidar com isso, muito bem. Se não, recomendo uns minutos de meditação prévia pois, “Deranged” é daquelas películas que ENERVAM! Podem dar por vós em momentos de agitação a dizer pérolas como: “Então mas ele nunca mais lá chega?!” e “Corre! Corre! CORRE (inserir vernáculo preferido)!”, assim como experienciar eventuais dores no peito. “Deranged” resulta pois num thriller daqueles que se esperaria ver no ocidente mas sem o americanocêntrismo e com o ónus da geração de reflexão, nomeadamente, no quão maquiavélico o Homem pode ser. É filme pipoca mas sem ofender a inteligência de quem assiste. Três estrelas.

Realização: Jeong-woo Park
Argumento: Jeong-woo Park
Myeong-min Kim como Jae-hyuk
Jung-hee Moon  como Gyung-seon
Dong-wan Kim como Jae-Pil
Ha-nui Lee como Yeon-joo
Ji-seong Eom como Joon-woo
Hyun-seo Yeom como Ye-ji
Shin-il Kang como Doutor Hwang
Deok-hyeon Jo como Tae-won

Próximo Filme: "Marianne", 2011

PS: Não recomendado a pessoas com tensão arterial elevada.

PS 2: Se calhar um XANAX uma hora antes de iniciar o visionamento não é má ideia.


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