domingo, 4 de maio de 2014

"Tales from the Dark - Part I", 2013


Lillian Lee diz-vos algo? Se não, tenham vergonha! Ela é apenas a escritora por trás de filmes como “Farewell My Concubine” (1993) e “Dumplings” (2004) um dos segmentos de antologias de terror (“Three… Extremes”) mais perturbadores de sempre. Desta feita, a obra de Lee teve honras de total destaque em 6 segmentos divididos em duas antologias, com alguns personagens já repetentes na adaptação dos seus trabalhos. Visionado na 5ª Mostra de Cinema de Hong Kong, cuja sala estava, infelizmente, pouco composta, “Tales from the Dark – Part 1” representa Lee na sua vertente mais sombria.

 As curtas:
“Stolen Goods” – Kwan é um biscateiro que acaba de perder o mais recente trabalho. Todo ele, insolência e pavio curto, não é de admirar que seja despedido numa base regular. Os seus valores incidem no enriquecimento rápido ao menor custo pessoal possível. Como se encontra perto de ser expulso do pequeno quarto alugado por ausência de pagamento, não é demasiado penoso a Kwan recorrer ao roubo de urnas para depois chantagear os familiares dos falecidos.


“A Word in The Palm” – O mestre espírita Ho decide abandonar a vida ligada ao oculto para reparar a relação com a mulher céptica e o filho menor. Ele tenta reencaminhar os últimos clientes para a entusiasta colega Lam. No entanto, quando por engano lhes entrega um CD do filho num recital, terá de envolver-se mais do que gostaria. Será muito difícil recuar perante o caso mais complicado da sua carreira e a insistência da colega.

“Jing Zhe” – A velhinha Chu dedica-se à tradição milenar de “bater nos vilões”. Armada de cânticos e a sola dos sapatos bate com força em fotografias e papéis que representam os inimigos daqueles que a ela recolhem. Depois de anos a amaldiçoar pessoas inocentes, pode ter chegado a vez de Chu sofrer na pele a força do seu próprio remédio.

As trevas não tardam a surgir poucos adentro de “Stolen Goods”. Um início intrigante, onde é evidente e até ansiada com fervor alguma forma de retribuição a Kwan, o personagem obnóxio interpretado por Simon Yam dá lugar à perplexidade de uma narrativa ininteligível. Yam provou há muito que é actor para isto e muito mais mas na estreia como realizador revela a fraqueza da inexperiência e pior, ambição superior aos recursos. Pejada de momentos “tcha-ran” acompanhados por música alta e desconcertante. Não, Yam, nunca tínhamos ouvido isso antes… A cinematografia é fantástica só que não cola com a estória. E não se consegue perceber se são as ineficácias do argumento que levaram ao segmento mais insatisfatório de todos se foi a incapacidade de Yam em traduzir o material que lhe foi dado. O percurso de “Stolen Goods” é labiríntico onde podia ser simples: um bandido tem a paga pelos seus crimes. Há demasiados caminhos tanto quanto é dado a perceber, as pontas soltas não vão dar a nenhum lado satisfatório.
“A Word in the Palm” é uma surpresa. Depois de uma introdução sofrível mas sombria no tom, segue-se uma narrativa de aparência mais light, pelo menos pela aposta na comédia. Ho (Tony Leung Ka-fai) é um homem talhado para ler outro plano da realidade que rejeita o seu destino e se alia, relutante, a uma mulher (Kelly Chen) que tudo faria para ter um pouco do talento deste e o persegue feroz. Juntos fazem uma dupla improvável e atractiva. Leia-se, o único duo de personagens que iremos recordar com simpatia depois de “Tales from the Dark – part I” terminar. O desenlace é óbvio, tantas vezes que a mesma estória, com variações foi interpretada no cinema. Há poucos momentos de terror em “A Word in the Palm”, mas quando surgem são bem-vindos. Resulta pois um segmento desigual, original na abordagem, vulgar no conteúdo, ainda assim, superior ao antecessor.
Costuma-se dizer que o melhor fica para o fim e, se não formos excessivamente zelosos com as imagens criadas digitalmente “Jing Zhe” recupera os elementos mais desconcertantes da escrita de Lilian Lee. Realizado por Fruit Chan, o mesmo de “Dumplings”, ele encontra uma ligação com o material como nenhum outro. A sua Chu (Susan Chu) é a personagem mais ambígua e mais interessante destes 112 minutos. É ainda uma estória inerentemente chinesa. Não se podia encontrar estória mais enraizada na cultura que “Jing Zhe”. Se o conceito dos batedores de vilões é intrigante, a sua concretização também parece funcionar. Ou não nos sentíssemos cansados depois de ver o espancamento a que Chu sujeita os bens das vítimas. Não constituirá ainda um momento cinematográfico superior a “Dumplings” mas é um bom prelúdio para o segundo capítulo. Três estrelas.

Curta #1: “Stolen Goods
Realização: Simon Yam
Argumento: Lillian Lee
Simon Yam como Kwan
Maggie Shiu como wok Wing-nei
Feliz Lok como Chu Wing-kit

Curta #2: “A Word in the Palm”
Realização: Chi-Ngai Lee
Argumento: Chi-Ngai Lee
Tony Leung Ka-fai como Mestre Ho
Kelly Chen como Lan
Eileen Tung como Mulher de Ho
Cherry Ngan como Chan Siu-ting
Eddie Li como Cheung Ka-chun
Jeannie chan como Senhor Cheung

Curta #3: “Jing Zhe”
Realização: Fruit Chan
Argumento: Fruit Chan
Susan Shaw como Chu
Josephine Koo como Koo
Dada Chan como cliente


Próximo Filme: "Bad Milo", 2013

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