“The Thieves” faz-nos recuar ao formato antiquado do grupo de ladrões que se reúne para realizar um furto único esgueirar-se debaixo dos olhares de todos. É uma estória tantas vezes recontada que desperta ódios e paixões em igual medida. A cada novo ano aparece uma nova variação da fórmula que justifica a realização de sequelas (“Ocean’s Eleven”, 2001) e o surgimento de novos franchises (“Now you see me”, 2013). Para os amantes do género “The Thieves” será uma obra incontornável, apetite ainda mais aguçado por ter sido o maior sucesso de bilheteira na Coreia do sul do ano de 2012. “The Thieves” junta um elenco internacional (Coreia do sul, China e Malásia) de reconhecido talento e estrelato capaz de atrair as massas ao cinema e um realizador que já por duas vezes dirigiu projetos sob a mesma matéria sem perder o toque de midas. Os argumentos para o seu visionamento poderão significar muito pouco para desconhecedores do cinema sul-coreano mas quando enquadrados no devido contexto demonstram ser uma estratégia de marketing genial.
Popeye (Jung-jae Lee) é o líder de um grupo de ladrões especializados na realização de furtos de alta complexidade. O seu gangue reúne a sexy mas perigosa Yenicall, a veterana Chewingum (Hae-suk Kim) e o aprendiz da arte Zampano (Soo-yun Kim) Eles juntam-se, planeiam, realizam e desaparecem durante algum tempo. Quando após a última operação a polícia se aproxima demais, eles retiram-se para Hong Kong para deixar as pistas esfriar. Lá, Popeye é seduzido a juntar-se ao antigo chefe e associado Macao Park (Yun-seok Kim) para aquele que será o golpe mais lucrativo e intrincado da carreira de todos, o roubo do diamante "Lágrima do Sol". O trabalho exige um maior número de participantes, que inclui o gangue chinês liderado por Chen (Simon Yam). Como não bastasse o número de jogadores ser elevado, o que por si já significa a diminuição do quinhão de cada um e a desconfiança gerada pelo facto das equipas nunca terem trabalhado em conjunto, Popeye faz questão de adicionar ao grupo Pepsee (Hye-soo Kim) recém-libertada da prisão, depois do último trabalho que realizaram em conjunto com Macao ter corrido mal.
A cinematografia e as personagens ecoam as opções estilísticas e os estereótipos de filmes anteriores mas “The Thieves” encontra-se mais longe do esquema estudado e ensaiado ao pormenor de “Ocean’s Eleven” e antecessores, das reviravoltas dramáticas de “Mission Impossible” (1996). Dong-hoon Choi joga com a ambiguidade da moral dos seus personagens a todo o instante. Como grupo funcionam para atingir o seu objectivo questionável – eles não são nenhuns Robin dos Bosques –, procuram o lucro através de métodos ilegais para ganho próprio. Enquanto indivíduos examinados a um pormenor microscópico, compreende-se como o equilíbrio que os une é instável. Pepsee, Macao Park e Popeye estão unidos numa teia amorosa e de traições da qual nenhum quer sair a perder. Especialmente Pepsee pagou por isso com a prisão e tem agora em mente não só uma recompensa pelo tempo que perdeu encarcerada, como o motor da vingança. Yenicall que alia capacidades acrobáticas e raciocínio rápido ao sex-appeal não está feliz por ter perdido o foco de atenção para Pepsee que é de certo modo uma versão mais madura dela própria e de ter de repartir a sua parte com mais intervenientes. Chewingum já acusa o cansaço de tantos anos na corda bamba e deseja, aliás anseia uma reforma, se não tão rica, pelo menos feliz. Chen é outro veterano que alinha com os coreanos para a condução do golpe mas apenas até certo ponto e nos seus termos. Zampano não consegue resistir aos encantos da perigosa Yenicall, pondo até a sua sobrevivência no jogo em perigo. Em última análise, quando as coisas correm mal e, acreditem que vão correr muito mal, as máscaras caem e cada um actua de modo a salvaguardar aquilo que é mais importante para si. Com um grupo de actores tão talentoso a expectativa é a de que a luta pelo tempo de écrã levasse a melhor sobre a estória que se iria desintegrar à frente dos nossos olhos. O que sucede é o oposto. Cada subenredo permite aos personagens envolvidos brilhar. Por cada poucos minutos a mais concedidos, maior é o impacto do destino daqueles personagens. Como os seus personagens, a dupla de argumentistas é brutal. Todos têm um alvo nas costas e ninguém está livre de ser morto a qualquer instante. Subitamente é menos importante saber quem é que fica com o diamante do que quem sobrevive para gozar a recém-encontrada abastança. Três estrelas e meia.
Realização: Dong-hoon Choi
Argumento: Dong-hoon Choi e Gi-cheol lee
Yun-seok Kim como Macao Park
Jung-Jae Lee como Popeye
Hye-soo Kim como Pepsee
Ji-hun Jun como Yenicall
Simon Yam como Chen
Hae-suk Kim como Chewingum
Dal-su Oh como Andrew
Soo-hyun Kim como Zampano
Derek Tsang como Jonny
Soo-jeong Ye como Tiffany
Angelica Lee como Julie
O melhor:
- As cenas de acção
- O elenco sólido
O pior:
- Sensação de que é pouco tempo para tamanha exposição. Exploração das ideias em formato de série não seria um desperdício
- A velha estória... Se não gostam do género não é este que vos vai fazer mudar de ideias
Próximo Filme: "Marshland" (La Isla Mínima, 2014)
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