Johnston Chong See-tun (Andy Lau) é forçado a abandonar a polícia após ficar cego. Considerado o melhor entre os seus pares pela extraordinária capacidade de dedução, a sua perda é um duro golpe para o departamento. Mas ele é incapaz de parar na sua senda de justiça e dedica-se agora aos casos para os quais a polícia não tem tempo: os casos antigos e aparentemente insolúveis, recolhendo as recompensas. Numa das suas mais recentes investigações cruza-se com a inspectora Goldie Ho Ka-tung (Sammi Cheng), incansável mas ainda um pouco “verde” que se revela o contraponto ideal para o seu estilo mais sóbrio. A nova dupla dedica-se a resolver casos em conjunto, incluindo um que afecta Goldie desde miúda, o desaparecimento da sua melhor amiga Minnie (Cheng Ho-lam) e que a fez tornar-se polícia. Pois que o mundo está cheio de gente mal-ajustada e Goldie tornou-se polícia por causa do trauma de infância. Alguma vez se viu alguém tornar-se agente polícia por genuína devoção à justiça?
Johnnie To está para os thrillers policiais/mafia como, bem… é o que ele faz de melhor (“Election”, 2005; “Mad Detective”, 2007, etc.). No entanto, não se pode dizer o mesmo de “Blind Detective”. A ideia de um agente da polícia/detective cego não é a mais original, temo dizê-lo mas, ainda que aceitemos a premissa absurda, o filme sobrevive mais da química entre Lau e Cheng do que das inúmeras investigações enfiadas à força num filme que já tem muita tralha. Parece que a tragédia da perda de visão de Johnston se arrastou ao longo de vários anos até ficar invisual. Johnston sente ainda os efeitos da solidão, o que pretende sugerir por um lado, o motivo pelo qual ele é incapaz de deixar de dedicar por completo ao trabalho policial e, por outro, a conveniência do aparecimento de uma certa detective. Pelo meio, é ainda apresentado um potencial interesse amoroso para Johnston para insinuar um triângulo romântico que não chega a ter pernas para andar (entenda-se que ainda assim “Blind Detective” tem 130 minutos de duração) e Johnston tem tempo para resolver diversos casos com o do maníaco que atira ácido sobre inocentes até finalmente, se debruçar sobre o caso que desola Goldie há mais de uma década. Adicionalmente, enquanto Johnston foi perdendo um dos sentidos, ele foi apurando outros, conferindo-lhe entre outros, um olfacto extraordinário e que o auxilia a resolver casos que seriam, para outros complicados. Não deixa de me espantar, a facilidade com que o cinema asiático e, o coreano em particular, chama às suas forças policiais uma anedota. Por entre polícias com os instintos de um calhau, chefias mais preocupadas com a manutenção do status quo e políticos que apenas querem ficar bem na fotografia, tem de aparecer um individuo especial para salvar o dia.
“Blind Detective” também não parece ter a certeza daquilo que quer ser. Os personagens alternam entre interpretações mais subtis e o exagero cómico. Lau, a despeito de ter ganho um prémio (surpreendente) pela sua interpretação nesta película, sai algumas vezes, demais da personagem. Ele “esquece-se” de que é suposto ser um invisual, o que é uma franca distracção. Os “casos” nem sempre interessantes que surgem para querer demonstrar vezes sem conta as capacidades fantásticas de Johnston assim como um pretexto para divertir, não duram o tempo suficiente para entreter e acabam por roubar tempo à resolução da investigação principal. Mas até a solução desta peca pela falta de investimento numa direcção clara e uma montagem cuidada. As sequências de acção estão impecáveis, ou não fosse a sua coreografia um dos pontos mais fortes de um filme do Johnnie To. Se ao menos houvesse a mesma atenção para o remanescente… Duas estrelas e meia.
Realização: Johnnie To
Argumento: Ryker Chan, Ka-Fai Wai, Nai-Hoi Yau e Xi Yu
Andy Lau como Johnston Chong See-tun
Sammi Cheng como Goldie Ho Ka-tung
Guo Tao como Szeto Fat-bo
Gao Yuanyuan como Tingting
Zi Yi como Joe
Lang Yueting como Minnie Lee
Cheng Ho-lam como Minnie (adolescente)
Lam Suet como Lee Tak-shing
Philip Keung como Chan Kwong
Lo Hoi-pang como Pang
Próximo Filme: "Parasyte: Part 1" (Kiseijuu, 2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário