Bem-vindos ao século XXI, era em que a dignidade humana passou em definitivo para segundo plano e a religião mais importante é a do dinheiro. O Homem não pode viver sem dinheiro e aquele que não lhe aceder contenta-se em observar o outro humilhar-se para o conseguir, porque nada é grátis.
Phuchit Puengnathong (Krissada Sukosol) é a mais recente vítima da conspiração universal para ver mais um Homem cair em desgraça. Enganado num esquema de um colega sem escrúpulos e sem alcançar os duros objectivos que lhe são impostos pela empresa é despedido. A somar à sua infelicidade, a mãe continua a gastar o dinheiro que ele acumulou com dificuldade e a namorada troca-o pela ambição de se tornar uma estrela pop. Desesperado e a acumular dívidas, Puchit alinha de imediato quando recebe uma proposta para ganhar 100 milhões de baht. Mas há um senão. Há sempre um senão. Ele terá de cumprir 13 missões. A primeira é simples: matar uma mosca. A segunda é comê-la e já deixa antever o que estará por vir. A escalada é brutal e a cada passo Puchit fica cada vez mais longe do que é bom e puro e mais perto do monstruoso. Não sendo desinteressado, Puchit também se apercebe que, tomando determinadas decisões não poderá voltar atrás. A ex-colega e amiga Tong (Achita Sikamana) é a única que tenta lutar por Puchit mas conseguirá ela salvá-lo?
A noção de transformar a vida dos personagens num jogo mortal não é propriamente nova: “Cube” (1997), “Saw” (2004), “Incite Mill” (2010), etc. Apenas varia o grau de conhecimento dos seus participantes e da audiência, que alterna entre a inexistência de informação e a exposição total. Puchit é um participante activo e tem perfeita consciência dos efeitos das suas acções sendo que apenas ignora a sua proeminência no grande esquema das coisas. A psicologia desta personagem é o que de melhor e mais intrigante “13: Game of Death” tem para nos apresentar. As armadilhas que lhe são apresentadas são brutais, repugnantes e assustadoras e constituem uma delícia para os fãs deste subgénero. É um parente interessante dos filmes anteriormente mencionados pelas sequências impressionantes, ainda que com efeitos digitais duvidosos. Apresenta também uma das reviravoltas mais espantosas dos seus congéneres que dita a convicção entre o ódio e o amor pela estória. Mas nunca foi tão interessante explorar o paradoxo de uma personagem que está disposta tudo para salvar a vida em ruínas, a mesma que destrói enquanto joga! Onde muitos hesitariam, Puchit não hesita em seguir em frente até à destruição total. O personagem não só não tem nada a perder como não se considera especial o suficiente para despoletar mecanismos de auto-defesa. “13: Game of Death” é inteligente em explorar a herança étnica de Puchit, filho de uma tailandesa e um cidadão americano, que nunca sentiu que pertencia a um local, já que os outros fizeram questão de o relembrar disso. Desde o pai, considerado o intruso que é capaz de pouco mais que violência e crueldade, passando pela mãe fraca que faz questão de o recordar da sua inferioridade, através das exigências pouco razoáveis e a criançada que ataca Puchit apenas por ele ser diferente.
Persistente, ele aguentou e aguardou sempre à sempre do pote de ouro no fim do arco-íris. Pelo que quando ele surge, Puchit não quer deixá-lo escapar, ainda que seja um presente envenenado. Três estrelas.
O melhor:
- O conceito
- A falência moral em que o personagem principal incorre
- Sequências muito impressionantes em termos visuais
O pior:
- Chega a um momento em que se torna impossível continuar a apoiar o personagem principal
- O desenlace
Realização: Chookiat Sakveerakul
Argumento: Eakasit Thairatana (estória) e Chookiat Sakveerakul
Krissada Sukosol como Phuchit Puengnathong
Achita Sikamana como Tong
Sarunyu Wongkrachang como Surachai
Nattapong Arunnate como Mik
Namfon Pakdee como Maew
Piyapan Choopech como Chalerm
Philip Wilson como pai de Phuchit
Sukanya Kongkawong como Mãe de Phuchit
O Próximo Filme: "Cold Prey" (Fritt Vilt, 2006)
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