Dulce (Ruddy Rodriguez) retorna a casa após trinta anos, depois de ser libertada por motivos humanitários, para cumprir o resto da sentença por homicídio. A opinião pública não tem quaisquer dúvidas sobre a culpabilidade de Dulce. É apenas a velhice que dita que ela possa cumprir o remanescente da pena, no local onde aconteceram acontecimentos trágicos. Na verdade, a realidade é bem mais assustadora do que a percepção do público. Dulce odeia a casa na qual a “libertaram”. A memória dilacera-a. As paredes respiram o ar da família que então perdeu e o chão ecoa os passinhos dos filhos Leopoldo (Rosmel Bustamante) e Rodrigo (Héctor Mercado), mas também permanecem as marcas de assombração que então a aterrorizaram. Vivendo um dia de cada vez, contando cada tostão, a família de Dulce mudou-se para cidade, aproveitando uma oportunidade do Governo para ocupar casas a baixo custo na cidade. Ali, Juan José deverá encontrar mais hipóteses de trabalho. Dulce aceitou esta mudança de vida a contragosto. No campo sempre estariam perto da família. A casa, grande mas delapidada não lhe inspira confiança e até Juan José rápido se perde nos caminhos do alcoolismo. Os indícios de que a casa tem mais ocupantes do que a família de Dulce são enormes mas ela nada pode fazer quanto a isso. Presa numa casa de onde não pode sair a versão mais velha de Dulce não tem alternativa a não ser enfrentar os fantasmas de passado, figurativos e literais. Ela recebe a vista de um padre (Guillermo García) que a tenta trazer de novo para o caminho da religião mas Dulce não está disposta a isso. Não, depois do que passou.
Se “The House at the End of Time” soa à enésima variação da estória da casa assombrada é porque assim Alejandro Hidalgo, argumentista e realizador, o pretende fazer crer. No entanto, a direção que a estória toma, apesar de gradual, é inesperada. Uma opção de respeito, seja para um filme passado nos E.U.A ou numa Venezuela, que esta pessoa que já viu de tudo, mais vezes do que menos, está habituada à repetição de estórias e a um quociente de originalidade bastante limitado.
Ele brinca com os géneros resultando num híbrido que não sendo de puro terror, tem ainda assim cenas assustadoras em quantidade suficiente para cativar os amantes de emoções fortes. A ação movimenta-se fluída entre o passado e o presente, sempre na perspectiva de Dulce, até à grande revelação final, que tenta retirar sentido das memórias e dos acontecimentos que agora se repetem para compreender o que se passou, onde é que errou ou o que podia ter efeito para impedir a desintegração da sua família. A interpretação de Rodriguez é impecável. Dulce é uma personagem difícil por apresentar tantas facetas e ela encarna-as na perfeição. Ela interpreta uma mãe devotada, crente em Deus, determinada a fazer o melhor para criar os filhos com os parcos recursos de que dispõe e, a despeito dos seus muitos medos, seja por prever um futuro negro para a prole, a cada vez maior instabilidade do marido ou a casa que ganha vida própria, é temerária do que diz respeito à sua protecção, qual mãe leoa. A caracterização de Ruddy Rodriguez para aparentar ter envelhecido 30 anos é bastante discutível e, na generalidade, é o período temporal menos forte. Dulce capta alguma simpatia na qualidade de senhora de meia-idade indefesa, face a um possível ataque sobrenatural mas é muito mais difícil levá-la a sério debaixo das camadas de maquilhagem. Ainda assim, a aposta em Rodriguez continua a ser bastante corajosa, se tivermos em conta que a maior parte das protagonistas de filmes de terror variam entre ser engraçada ou giríssima. A entrada em cena de uma médium é um factor passível de provocar um esgar de desdém. No cinema é sempre fácil encontrar alguém com capacidades divinatórias ou que consegue contactar com entidades do âmbito do sobrenatural. Há sempre alguém que tem uma qualquer prima em 2.º grau que é vizinha de alguém que é neto de uma pessoa com capacidades de contactar o paranormal. Fantástico. Mas se passarem clichés do género e a óbvia limitação de orçamento à frente, o resultado continua a ser surpreendente. Duas estrelas e meia.
Realização: Alejandro Hidalgo
Argumento: Alejandro Hidalgo
Ruddy Rodriguez como Dulce
Rosmel Bustamante como Leopoldo
Adriana Calzadilla como Vidente Adriana
Simona Chirinos como Madame Victoria
Gonzalo Cubero como Juan José
Miguel Flores como Inspector
Guillermo García como Padre
Héctor Mercado como Rodrigo
Yucemar Morales como Saraí
Próximo Filme: "Krampus", 2015
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