quinta-feira, 10 de agosto de 2017

"Kung Fu Yoga" (Gong Fu yu jia, 2017)


“Botched” é um programa americano exibido em Portugal no canal E!, de entretenimento entenda-se, que dá a conhecer sem censura starlets e outros cidadãos anónimos que contactam os cirurgiões de serviço para corrigir ou esconder a porcaria que outros cirurgiões fizeram nas suas mais diversas partes do corpo. A maioria das vezes os cirurgiões do programa conseguem fazer algo para conseguir resgatar a dignidade perdida ou apenas uma aparência estética mais agradável. Digamos que “Kung Fu Yoga” é um filme chinês submetido a uma cirurgia plástica para se assemelhar a uma verdadeira colaboração com o cinema de Bollywood mas a operação cosmética não correu muito bem.

Jackie Chan é Jack um professor de arqueologia do museu chinês de soldados de terracota que se junta uma especialista indiana, a professora Asmita (Disha Patani), para encontrar o fabuloso tesouro Magadha que se deve encontrar algures no Tibete. Ao chegar lá, eles e os seus assistentes, entre outros Jones Lee - Aarif Rahman numa homenagem ao famoso Dr. Jones –, Xiaoguang (Zhang Yixing) e Noumin (Miya Muqi) são surpreendidos por Randall (Sonu Sood) um indiano rico que pretende ficar com o tesouro para si.

Dizer que a homenagem aos filmes de “Indiana Jones” é flagrante é um eufemismo. A personagem de Aarif Rahman não só se chama Jones e utiliza um chicote como é um arqueólogo intrépido. No entanto, todos os indícios de que estariam grandes aventuras por vir não passam disso mesmo. Ele é apenas mais uma das personagens que se passeiam pelo ecrã na qualidade de eye candy e sem apresentar um contributo importante para a narrativa, ela própria pouco mais que perceptível. Por outro lado, não é uma grande novidade e mais uma vez fica bem expresso no ecrã que Jackie Chan já não é o atleta de outros tempos. Ora isso não tem mal nenhum e deixem assentar por um momento a informação de que Chan nasceu em 1954. À data deste filme e com 63 anos ele consegue fazer movimentos com o corpo que jovens com metade da sua idade são incapazes. O seu carisma permanece intacto e ele continua a ser quem tem o melhor timing cómico do elenco multicultural. Com tantos jovens atléticos incluindo novas esperanças do mandopop como Yixing Zhang que tem aptidão para coreografias complexas é surpreendente que este potencial nunca chegue a ser explorado para criativas cenas de acção que possam preencher as evidentes lacunas de Chan. As cenas de acção ficam pois aquém daquilo de que Chan já fez e o vasto elenco poderia fazer. Talvez. Nunca saberemos. Mais estranho ainda é o facto de “Kung Fu Yoga” constituir uma das reuniões menos felizes de Chan com Stanley Tong, depois de “Rumble in the Bronx” (1995) ou “The Myth” (2005). Quem não soubesse diria que não estiveram para despender muita energia. “Kung Fu Yoga” também representa um retrocesso na carreira de Chan que já demonstrou ter capacidade dramática e parecia estar a encaminhar a sua carreira para escolhas mais calmas para o seu físico. Ainda que sejam sempre um regalo para a vista as cómicas e complexas sequência de acção de Jackie Chan, ele já fez muito melhor e, na verdade, quem é que quer ver Chan tornar-se embaraçoso, numa carreira antes gloriosa enquanto artista de cinema e artes marciais?

Uma das cenas mais marcantes deste filme envolve ainda Chan e um animal virtual que é representativo do pior CGI de que o cinema chinês é capaz, como também sucedeu no recente “The Mermaid” (2016) de Stephen Chow, um dos filmes com maior sucesso de bilheteira no país de sempre, e que falha de forma tão arrasadora no campo dos efeitos gerados por computador. Também a colaboração entre a Índia e a China se revela desinspirada. De facto o filme parece adoptar uma perspectiva etnocêntrica que é claramente desvantajosa no que respeita ao retrato da Índia. De facto, todas as alusões ao país surgem sobre a forma de estereótipos chineses do que é o grande país. Algumas situações são retiradas quase a papel químico dos filmes dos anos 80 e 90 como o “Indiana Jones”. Um sucedâneo de qualidade inferior made in China que não o consegue disfarçar. Duas estrelas.
Realização: Stanley Tong
Argumento: Stanley Tong
Jackie Chan como Jack
Disha Patani como Ashmita
Amyra Dastur como Kyra
Aarif Rahman como Jones
Miya Muqi como Nuomin
Sonu Sood como Randall
Paul Philip Clark como Max
Yixing Zhang como Xiaoguang

Próximo Filme: "Annabelle: creation" (2017)

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