domingo, 21 de agosto de 2011

"The Host" (Gwoemul, 2006)

Às vezes só apetece ver um filme de monstros grande, feio e furioso. Um filme que não envolva muito esforço intelectual. Algo, que entretenha durante hora e meia, duas horas e que passado uns minutos já tenha desaparecido completamente das nossas mentes. Joon-ho Bong, realizador do thriller de sucesso “Memories of Murder (2003), decide mudar de registo com um filme de monstros que teve um sucesso monstruoso: “The Host” é o filme mais visto de sempre nos cinemas sul-coreanos.
Esta película vem na linha de um “Godzilla” (1998), com a espécie humana, mais uma vez, a assumir as culpas sobre os males que atrai sobre si própria. Neste caso, a criatura não resulta de mutações geradas por uma bomba atómica mas algo mais familiar, descargas ilegais de resíduos tóxicos no rio Han, que atravessa Seul. Se é verdade que “Godzilla” é um produto grande e grosseiro, “The Host” nada tem de incompetente. Seguindo a mesma premissa do filme anterior, “The Host” sucede onde o outro falhou: juntar com sucesso comédia, thriller dramático e sátira social. Também se contém e resiste à apresentação de soluções simples, dignas de uma sessão da tarde com direito a pipocas. Infelizmente, não está isento de problemas. Já vimos que é a humanidade que comete um erro de proporções épicas mas estamos a falar, exactamente, de quem? Ora de quem mais? E.U.A. Quando se fala nesta nação só podem resultar dois enredos, ambos extremos. Ou temos um enredo direccionado para o ultra-nacionalismo fundamentalista patriótico ou para a demonização do gigante com um forte complexo de superioridade. O papel dos coreanos no meio disto tudo é a anuência, impotência e até burrice. Não será o retrato mais atraente do sistema social e político da Coreia do Sul mas diz que é uma sátira. Isto aborrece-me porque é demasiado fácil atribuir culpas aos americanos. Quando, a meio do filme, é necessário encontrar um vilão, em paralelo com o óbvio monstro, ainda que por breves instantes, o escolhido é um americano. Admito que a meio do filme também são explorados os actos heróicos de um americano mas estes em nada diluem os efeitos dos erros dos seus compatriotas.
Mas já me alonguei em considerações que se afastam da essência de “The Host”, que é tão-somente um filme sobre uma besta que destrói tudo quanto se atravessa no seu caminho. Quando se cria uma aberração esta é normalmente destituída de moral e no reino animal por muito que não se consiga perceber exactamente o que ela é, o seu instinto é bem familiar: sai do seu covil para se alimentar! A moralidade só existe na família Park, um avô e o seu filho que são donos de um roulote de venda de comida nas margens do rio, a neta estudante e os seus tios, um universitário desempregado e uma arqueira medalhada. Quando o monstro emerge das águas e leva a menina, a família que nem sempre concorda, une-se para a salvar. Com o monstro surge também outro vilão: todo o sistema que não acredita que Hyun-seo esteja viva e que os apelos de seu pai Gang-du, interpretado magistralmente por Kang-ho Song, não passam de delírios de um homem com um atraso mental. É irónico que um sistema cuja existência se deve à necessidade de protecção da população seja aquele que impede que isto mesmo suceda. É também assustador se pensarmos nisso.
Além do pânico gerado pelo surgimento da besta cria-se também desinformação e o rumor da existência de um vírus que afecta todos aqueles que entraram em contacto com o monstro. Isto serve de fundo para interesses tais como a utilização de armas biológicas e a lógica oposição da população, um pouco como a situação actual em Fukushima face ao nuclear, se preferirem. Dizia eu que no meio de todas estas questões políticas, temos desempenhos fortes, sobretudo de Kang-ho Song que faz de homem com uma óbvia debilidade mental, de Hie-bong Byeon que desempenha o papel de avô de Hyun-seo (Ah-sung Ko) e dela própria. Também o monstro está bem conseguido embora, com a certeza de que o que estava a ver era totalmente criado por computador. Senti a falta de um aspecto um pouco mais orgânico do monstro mas, nesta questão, confesso que estou a ser picuinhas. As cenas de Hyun-seo no covil do monstro são muito boas, em tensão e desconforto, cria-se aquela atmosfera atemorizante desejada. “The Host” não é só bom, é um manual de como os bons filmes de monstros deviam ser feitos. Só vos faço UM pedido, NÃO vejam a versão dobrada em inglês! Quatro estrelas.


  
PS: Não estavam com certeza à espera que pusesse aqui imagens do monstro pois não?

Realização: Joon-ho Bong
Argumento: Joon-ho Bong, Won-jun Ha e Chul-hyun Baek
Elenco:
Kang-ho Song como Gang-du Park
Hie-bong Byeon como Hie-bong Park
Hae-il Park como Nam-il Park
Doona Bae como Nam-joo Park
Ah-Sung Ko como Hyun-seo Park

Próximo Filme: "Super 8", 2011

5 comentários:

  1. The Host is truly the best creature film from Asia and one of my favorite creature movies of all time.

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  2. I do agree. For me, this how a monster movie should be done. This is the book to go by. It really surprised me in a positive way.

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  3. Ótima crítica!
    Se for para olhar por esse lado político, o filme talvez ganhe pontos a mais, porém, achei tudo isso como plano de fundo e que não tinha relação principal com a obra.

    Se quiser ver: http://cinelevesresenhas.blogspot.com/2011/10/o-hospedeiro-2006.html

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  4. Hell of a movie ! A provar que o cinema coreano está em alta no séc. XXI

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  5. É sim senhor. Quanto a este filme sou parcial. Gosto. Ponto. E às vezes, basta. Mas este é mesmo bom a nível técnico e representação.

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