domingo, 29 de janeiro de 2012

"Alone" (Fad, 2007)

Aviso: Contém spoilers!

Costumo ser bastante crítica em relação às traduções de títulos de filmes que não raras vezes, nada tem que ver com o original. O título tailandês de “Alone” é fad que significa literalmente gémeo. Mas neste caso, pode-se dizer que “Alone” foi um toque de génio. Ser-se gémeo é não ter de estar sozinho. É uma partilha física, mágica, telepática. É um não precisar de espelhos pois que o nosso caminha connosco de mão dada. É uma partilha de dores e amores que poucos seres humanos podem almejar. Até que um dos gémeos desaparece. Aí terminam as brincadeiras, desejos, pensamentos secretos. Conhece-se a solidão.
Pim (Marsha Wattanapanich) está só desde os 15 anos. Ela tinha uma irmã gémea Ploy que estava ligada a ela pelo estômago. A sua morte fez com que a gémea sobrevivente fugisse para a Coreia. Um dia é informada que a sua mãe está muito doente e é obrigada a regressar à Tailândia com o namorado Vee (Vittaya Wasukraipaisan). Mal regressa, Pim começa a ver imagens da falecida irmã por todo o lado. Por mais que tente não consegue provar que o que vê é real e Vee começa a questionar a sanidade da namorada. Quer dizer, é natural não é? O stress de ver a mãe, a única familiar viva internada e regressar à casa onde vivia com a irmã Ploy que faleceu quando era apenas uma adolescente devem arrasar qualquer um. Pim deve estar a experienciar sentimentos de culpa. Mas para ela, é muito mais do que isso. A irmã gémea procura-a para que possam ficar juntas para sempre. Pim não pode quebrar a promessa que fez em menina à irmã de que estariam juntas para sempre. Mas elas tinham entendimentos diferentes. Pim era, em primeiro lugar, uma rapariga, que queria viver um amor profundo e todas as experiências gratificantes que a vida tinha para lhe oferecer. Para ela, estando fisicamente apegada à irmã, é impossível cumprir esse desejo, o que criou um natural foco de tensão sempre crescente, à medida que cresceram. É também esta divergência que permite separar as irmãs em termos de personalidade e identificar o ponto de ruptura no anterior laço forte que partilhavam.
“Alone” é o segundo filme da dupla de realizadores tailandeses Parkpoom Wongpoom e Banjong Pisanthanakun, depois do sucesso estrondoso de "Shutter" (2004). Mais uma vez acertam no alvo. A dupla repesca o hair movie e acrescenta-lhe elementos de originalidade que dão vitalidade a um género sobre explorado. De lamentar talvez o timing pois que o coreano “A Tale of Two Sisters” (2003) estreou uns anos antes, analisando precisamente a relação de duas irmãs com grande aclamação e sucesso comercial. A dupla de cineastas tailandeses levou esta relação a um patamar superior, penetrando a conexão tão especial entre irmãs siamesas. Um dado curioso é que a Tailândia é o antigo Sião, de onde eram dois irmãos gémeos tão famosos que deram origem ao termo "Siamês". "Alone" tem a vantagem de um elenco sólido, encabeçado por Marsha Wattanapanich uma cantora de ascendência tailandesa e alemã, que teve aqui o seu regresso bem-sucedido à celebridade depois de alguns anos de semiobscuridade. A sua personagem é também uma piscadela de olho dos cineastas à audiência já que a alcunha de Marsha é precisamente Pim. Alguém se lembrou do cliché “arte a imitar a vida real”? Não? Eu fui lá, deixem estar.
A banda-sonora é utilizada para provocar sobressaltos na cadeira nas alturas certas. Não que isso fosse preciso. Pelo meio há uma alusão aos filmes "Giallo" com um “lalala” de crianças demasiado conhecido mas sempre eficaz. Além de que a sua utilização em Alone faz todo o sentido: é o retrato da história de duas irmãs e a perda da inocência. Junte-se a uma banda-sonora vulgar mas eficaz, a câmara inteligente da dupla de realizadores que provam ter capacidade para uma carreira repleta de sucessos. O final é uma reviravolta que não será inesperada se observarem com atenção as pistas que os cineastas foram semeando durante a película. Verdade seja dita que só me apercebi da grande revelação a um quarto de hora do final. Dizer que me teria apercebido do final se tenho estado mais atenta é pois um pouco arriscado. Fica a nota. No entanto, fiquei agradavelmente surpreendida com os truques de câmara e jogos de sombra que apontavam para o óbvio se ao menos tivesse visto… “Alone” é menos centrado nos sustos do que nas relações entre as personagens e Marsha reflecte com mestria o tormento da sua personagem, ao mesmo tempo que interpreta duas gémeas, cada uma com uma personalidade muito própria. De enaltecer também a opção por uma actriz madura que soube exactamente o que fazer com a personagem e não uma qualquer starlet acabada de saír da adolescência cujos talentos se cingem a fazer beicinho e usar soutien push-up. Já o Vee de Vittaya Wasukraipaisan é a âncora perfeita para uma Pim que não sabe se está a enlouquecer. Apesar de não considerar  “Alone” um esforço tão bem concretizado como a obra de estreia dos cineastas,verifica-se uma maior maturidade a nível da narrativa e do desenvolvimento das personagens. Vejam “Alone” como um sucedâneo de outro filme ou como uma obra independente ele cumpre a função primordial: assustar. Três estrelas.


Realização: Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom
Argumento: Sopon Sukdapisit, Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom e Aummaraporn Phandintong
Marsha Wattanapanich como Pim / Ploy
Vittaya Wasukraipaisan como Vee
Ratchanoo Bunchootwong como Mãe de Pim e Ploy
Hatairat Egereff como Pim com 15 anos
Rutairat Egereff como Ploy com 15 anos
Namo Tongkumnerd como Vee com 15 anos

Próximo Filme: "Loft" (Rofuto, 2005)

1 comentário:

  1. Muito bom o seu blog!
    Este filme é mais uma prova que a Tailândia está muito bem quando se trata de filme de terror. Na opinião, atualmente está melhor do que os vizinhos.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...