quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Echoes of the Rainbow" (Sui yuet san tau, 2010)

“Echoes of the Rainbow” não se enquadra na temática habitual do Not a Film critic. É que nem de acção é. Não tenham ilusões. Certamente, não se enquadra na minha filosofia sobre filmes do género (Oportunidade para inserir link aleatório para outro texto aproveitada). Mas prometi-me assistir a pelo menos um dos filmes da 3ª Mostra de Cinema de Hong Kong. Como um dos meus gurus online aconselhou “Echoes” e sou altamente influenciável atirei-me de cabeça ao dramalhão. O resultado é um retrato ficcional da infância de Alex Law. Um retrato melodramático entenda-se. Eis que desembainho os meus argumentos para verem o filme. Eu chorei. Vêm como apelei ao sentimento ali atrás? Ok. É um descaramento assumir que dão alguma importância aos meus apelos mas não vos aconselhei já tantos bons filmes? (Ou, pelo menos, imaginemos que sim). Se não gostam de drama podem considerar “Echoes” um filme de terror. Se apreciam o género dramático e desfazem-se por estórias simples, vindas do coração, a estória do senhor Law irá provocar reacções químicas satisfatórias nos vossos corpos.
A família Law sobrevive na Hong Kong de final dos anos 60. O senhor Law (Simon Yam) é um sapateiro que representa o único sustento da família que luta para pôr comida na sua mesa, fazer subornos a polícias corruptos e ainda pagar as propinas da escola do filho mais velho enquanto repete o mantra de que “nada é mais importante do que ter um tecto sobre a cabeça”. A senhora Law (Sandra Ng) é a mestre do regateio que mete vergonha a um qualquer comerciante de uma medina em Marrocos. Expedita, segura e com inteligência emocional elevada ela é também a âncora da família. Desmond (Aarif Rahman) é o filho mais velho do casal. Perfeito em todos os aspectos, ele é o que todos os outros crescem a odiar: aluno brilhante, atleta fora de série e o queridinho das moçoilas. Como se nada disto bastasse, ele é um rapaz sério e não tem olhos para mais nenhuma outra que a sua Flora (Evelyn Choi). Orelhas Grandes (Buzz Chung) completa o quadro familiar. É um pequeno traquina, protegido por todos. Ele nasceu fora de tempo e talvez por isso, seja um pequeno tirano, que sabe bem tirar partido da conjuntura familiar e arranjar perdão para as suas malandrices. Ele desleixa-se na escola, nos deveres e… tem mão leve. Podia ser uma vida idílica. Ora, como bem sabemos e os Law tanto fazem questão de frisar, “depois da tempestade vem a bonança”. E eles escaparam à maré brava por tempo demais. Quando a tragédia se abate, eles refugiam-se no pouco que têm, os laços que os unem. É através dos olhos inocentes de Orelhas Grandes que assistimos, quais voyeurs à felicidade e à queda dos Law. Somos convidados a sentar-nos à mesa com eles, a experimentar os seus sapatos, a testemunhar o amor que os une e a presenciar as suas perdas. Atente-se sobretudo aos desempenhos espantosos de Simon Yam e Sandra Ng. Sendo que Yam chegou mesmo a receber o prémio de melhor Actor dos Hong Kong Film Awards 2010. Outra estrelinha é Buzz Chung como Orelhas Grandes, um pequeno sonhador que vê o mundo através de um aquário. É que ele na Hong Kong dos anos 60 quer ser um astronauta. Tão giro não é? Já o irmão Desmond é tão bom rapaz que custa a crer que exista semelhante ser. Ao mesmo tempo é um desempenho aborrecido por ser tão mais fácil que o de Chung. Os irmãos são como o azeite e o vinagre em personalidade e na representação. No conjunto, o elenco é um portento. Se não soubéssemos diríamos que estávamos a assistir à dinâmica de uma família real tal a sua entrega. Rimos e choramos com eles mesmo que a alturas o ritmo estagne e pareça chafurdar indefinidamente na tragédia humana. “A audiência está triste?” “Não chega. Vamos pô-los miseráveis!” Facto é que os dramas humanos são duros e intermináveis (ou assim parecem).
“Echoes of the Rainbow” é um bom candidato a censura sobre a ausência de crítica social e política. A espaços parece que o argumento vai tomar essa rota e depois retrai-se. As alusões estão lá. Resta saber se são propositadas ou não passam de meros motivos espácio-temporais. Custa-me ser crítica neste ponto. Se o objectivo do filme é demonstrar a dinâmica de uma família na Hong Kong dos anos 60 não vejo por que há-de alguém vir dizer o contrário. Felizmente todos são críticos, poucos são argumentistas. Com tantas línguas faladas quanto o mandarim, cantonês, inglês e ainda outros dialectos regionais, por vezes aborrece a retina ver que o som não acompanha as falas dos actores, qual filme de Kung Fu do Bruce Lee. Mas é um mal menor. Alex Law conseguiu tornar a obra que escreveu e realizou tão pessoal e real quanto a sua própria existência. Conquanto a narrativa não seja original é pontuada por uma honestidade rara em cinema. Mais se tratando de uma auto-biografia onde a família é tudo menos um “Brady Bunch”, ainda que com pinceladas dos “The Monkees” pelo meio. Os filmes mais belos são os que vêm do coração e apelam ao coração. Ideal para uma noite fria com aqueles que mais amamos neste mundo. Quatro estrelas.

Realização: Alex Law
Argumento: Alex Law
Buzz Chung como Orelhas Grandes
Simon Yam como Senhor Law
Sandra Ng como Senhora Law
Aarif Rahman como Desmond Law
Evelyn Choi como Flora


Próximo filme: "Alone" (Fad, 2007) 

2 comentários:

  1. Estou algo curioso quanto a este filme. Era para ter ido ver na Mostra de Cinema de Hong Kong, mas estive a trabalhar e não deu, quando encontrar "para alugar" na net ou em DVD quero ver se vejo.

    P.S. Bela conclusão.

    Cumprimentos

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  2. Se puderes vê :) E obrigada. Por acaso estava um pouco temerosa relativamente às últimas frases.

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