domingo, 29 de abril de 2012

"The Chaser" (Chugyeogja, 2008)

Eu corro, tu corres, todos correm… No dia-a-dia, isto é. Levam-se vidas stressantes que não conduzem a lado nenhum para se ter um salário ao fim do mês, pagar as despesas e recomeçar tudo de novo. Joong-ho Eom (Yun-seok Kim), um ex-polícia, decidiu deixar de ser bonzinho ou, pelo menos, de fingir e usa os contactos no submundo do crime para se tornar um proxeneta. Talvez esta palavra não seja a mais indicada. Ele é uma espécie de gestor de clientes. Eles ligam-lhe a pedir uma menina, e ele faz o reencaminhamento dos serviços. As regras são simples: elas vão, fazem o serviço, pagam-lhe e ele distribui os “dividendos”, à sua maneira, claro. Só não vale bater nas meninas. Ai deles. Que elas são mercadoria, mas são a mercadoria dele. E não queiram ver um duro, enfurecido. Pois que tudo corre às maravilhas, até que as suas colaboradoras começam a desaparecer. Ele compreende algo que ninguém até ali tinha tido a destreza mental ou vontade de fazer: todas desapareceram depois de ter sido chamadas pelo mesmo cliente. E a última Mi-jin (Yeong-hie Seo), acabou de sair para ir ter com o tipo. Ninguém, tenta roubar as meninas dele. Ou será que a verdade é bem mais aterradora?
Joong-ho Eom é um chulo, um anti-herói. Mas é o único que se importa. No meio de um escândalo que envolve o presidente da câmara de Seul, no qual a inacção da polícia não foi o menor dos males, o desaparecimento de umas prostitutas parece uma inconveniência. Mesmo quando os ex-colegas de Joong-ho começam a acreditar que no caso há mais do que o simples tráfico humano, os meandros da política não os deixam agir de modo eficaz. E Mi-jin continua desaparecida. Cabe a Joong-ho Eom correr contra o tempo antes que seja tarde demais. “The Chaser” é um estudo de personagens, dos papéis que desempenhamos na vida real e da sua importância relativa. Há ainda lugar para uma forte crítica social e política, com as fragilidades da justiça a serem demonstradas em toda a sua crueza. É triste verificar que o bem não surge sem grandes defeitos e que o mal é uma encarnação perfeita de tudo a quanto reservamos aversão. A vida de uma pessoa vale menos por esta ter uma profissão moralmente condenável? É mais importante salvar a face sobre todos os princípios? O fim de salvar uma pessoa justifica a brutalidade policial? Uma tecnicalidade deve sobrepor-se a suspeitas gravíssimas sobre alguém?
Jung-woo Ha é Young-min Jee, o antagonista implacável, que é tão odioso que o actor corre o risco de as pessoas mais sensíveis confundirem a personagem com a sua verdadeira personalidade. Quando esta raridade sucede, sabemos que um desempenho foi mesmo bom. Dei por mim, a torcer pelo anti-herói, a ficar frustrada com a inactividade da polícia, aqueles de quem, afinal, se esperava mais e, o temível Young-min a crescer em maldade a todo o momento. E sabem o que é mais assustador? “The Chaser” é baseado em eventos reais. Young-chul Yoo foi capturado em 2004, depois de um ano de matança, no qual assassinou 21 idosos e prostitutas, a maioria deles, à martelada. Foi condenado à morte, sentença que ainda não foi executada.
A maioria dos “thrillers”, apenas o são de nome e, apenas por que algum génio do marketing decidiu que os apelidar de thrillers era bom para o negócio. Um thriller com um ritmo rápido e furioso, intenso e estressante é ainda mais raro. Não devem procurar mais longe do que na Coreia do Sul, terra dos sonhos dos thrillers, onde “I Saw the Devil” e “Yellow Sea” são mais do que felizes acasos. “The Chaser” enquadra-se confortavelmente entre os filmes anteriormente mencionados, em nada inferior, tão somente uma das melhores exportações do cinema coreano nos últimos anos e, sem dúvida alguma, um daqueles filmes de qualidade superior destinados a sofrer um remake de Hollywood. Em 2013, para ser mais exacta, com o DiCaprio e a mesma equipa que nos trouxe “Departed”. Alguém questiona a eventualidade de um Óscar no horizonte? Só me interrogo se a versão americana será corajosa o suficiente para tomar o mesmo caminho de “The Chaser”, ao invés de embrulhar tudo bonitinho como é seu apanágio. Não é para fracos de coração. Quatro estrelas.


Realização: Hong-jin Na
Argumento: Wan-Chan Hong, Chinho Lee e Hong-jin Na
Yun-seok Kim como Joong-ho Eom
Jung-woo Ha como Young-min Jee
Yeong-hie Seo como Mi-jin Kim
Seong Kwang Ha como Detective Park
In-ji Jeong como Detective Lee
Moo-yeong Yeo como Comissário da Polícia

Próximo Filme: "The Hunger Games", 2012

1 comentário:

  1. Acabei de ver este filme e a única coisa que consigo dizer é uau, simplesmente sensacional!!! Cinema Sul coreano como sempre, nunca desaponta.

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