Dia 3: “The show must go on” – 14 de Setembro
“Livid”, 2011 - França
O 3º dia do festival de cinema de terror de Lisboa foi uma animação. Além da presença do senhor Julien Maury (Inside, 2007), no palco da sala Manoel de Oliveira, ao vivo e a cores, a audiência teve direito a assistir a uma versão de “Livid” que até à época, só era conhecida pelos que frequentaram a sala de montagem. Mas não foi nada tão grave que deixasse a audiência lívida foi antes um momento insólito e divertido e, um momento de alívio tão necessário face à atmosfera tão pesada que por aquela altura envolvia a sala. Depois desta interrupção, a mim, ninguém me apanhou a tremer na cadeira!
Mas passando ao filme, é incrível como as pessoas se transformam quando ouvem falar em dinheiro. São capazes de adoptar as atitudes mais irracionais e perigosas. Podem até ultrapassar os limites da moralidade e da legalidade. No centro da intriga está uma mocinha bem bonita por sinal. Um das curiosidades deste Festival foi que “Livid” não seria o único filme onde a protagonista tem olhos de cor diferente, pese embora, o efeito em Lucie (Chloe Coulloud) seja bastante mais acentuado – um olho castanho e outro verde. No primeiro dia de estágio como enfermeira prestadora de cuidados ao domicílio, acaba por visitar centenária em coma Jessel, em cuja mansão se deverá esconder um tesouro. Entusiasmada com uma estória digna de uma grande aventura, acaba por se descair e revelar a hipótese ao namorado Will e ao melhor amigo de ambos. Acicatados pela possibilidade de uma vida confortável até ao fim dos seus dias eles decidem quebrar todas as regras: vão introduzir-se na casa onde apenas habita a velha em estado vegetativo e vasculhá-la até encontrar o tesouro. Repito: espanta-me a disponibilidade das pessoas para cometer actos imorais. Provavelmente não se conhecem as pessoas assim tão bem. Se calhar até estão dispostas para isso e muito mais. Depois e, outro grande problema, a meu ver é a rapidez com que se passa da conspiração à prática. Talvez se devesse tentar comprovar o rumor, depois talvez investigar as possibilidades quanto à localização do tesouro. Por fim, não sei, se calhar até era mais fácil fazer a caça ao tesouro durante um fim-de-semana. Mas nem tudo é mau. A atmosfera dentro da casa é enervante. Não sei como uma pessoa aguentaria um minuto lá dentro quanto mais uma noite inteira. E a casa não tem, de todo, a aparência de abandono. As paredes estão repletas de quadros e fotografias, o quarto da única filha de Jessel ainda tem os bonecos de brincar e os animais empalhados na sala, parecem seguir-nos com os olhos… Uma piscadela ao “Evil Dead”? O elemento medo está lá, mas chega a uma altura em que as hipóteses apresentadas se tornam cada vez mais remotas e se torna difícil criar um sério comprometimento com este filme. A suspensão da crença é essencial mas até onde consegue uma audiência ir? Por outro lado, dou por mim a reflectir sobre os finais cada vez mais insatisfatórios. É por causa da falta de criatividade generalizada ou um grau de exigência elevadíssimo de quem já viu quase tudo? Três estrelas.
Dia 4: “O Palco foram as ruas de Lisboa” – 15 de Setembro
Creio que a imagem diz tudo. “Emergo” cá me fica, para nova oportunidade.
Dia 5: “Final demasiado rápido” – 16 de Setembro
Apesar de uma primeira sessão lenta devido ao grande envolvimento com o filme, quando dei por ela, já o festival tinha terminado. Embora com aquela sensação de geekyness interna por ora satisfeita, é como se o festival tivesse terminado demasiado rápido. Pode não ter sido o ano perfeito quanto a alguns pormenores técnicos mas houve um crescimento em termos de maturidade. Há dois ou três anos, por exemplo, não conseguia imaginar não fãs de terror a assistir a algumas sessões. Há títulos, dentro do género de terror que são perfeitamente acessíveis a pessoas que têm dúvidas quanto ao género. O terror não foi sempre de carácter pornográfico, explícito, existindo bastante espaço para o comentário social e reflexão durante e pós-visualização. De resto: tremeliques? Visto. Saltos na cadeira? Visto. Risos nervosos? Visto. Sucesso.
“The Pact”, 2012 – E.U.A.
Sejamos directos sim? Este foi o meu filme preferido em todo o festival. Atenção, preferido dos filmes que vi no MOTELx, por que “The Raid: Redemption” (2011) e “Revenge: A Love Story” (2010) assisti antes. “The Pact” não é o filme mais original dos últimos anos. De facto, com sequelas infindáveis de “Paranormal Activity” e famílias que se mudam para mansões assombradas que nunca devem ter visto um filme do género antes, material do género é coisa que abunda por ai. “The Pact” não dispôs de um orçamento de milhões, nem de estrelas com tiques de divas para estragar o resultado final. O melhor foi mesmo a protagonista Caity Lotz cuja beleza gélida, me fez recordar uma das musas do Hitchcock, Tippin Hedren. Comparem as fotografias das senhoras e em seguida, observem a frieza que ambas emanam, quais rainhas de gelo. Apenas a beleza para descongelar uma eventual recepção gelada.
De louvar a coragem de McCarthy logo no inicio, suspense desde os primeiros minutos, quando substitui a personagem principal Nicole (Agnes Bruckner) por Annie (Caity Lotz). Após a morte da mãe de ambas, Nicole pede Annie que regresse à casa da família para a ajudar com os preparativos. Annie hesita mas acaba por retornar para verificar que a irmã desapareceu. Ela é uma mulher martirizada tal como Nicole que se envolveu nas drogas após uma infância traumatizante. A casa onde viviam com uma mãe religiosa austera está repleta de memórias que não a deixa à noite dormir. Antes do pesadelo começar em “tempo real” já elas tiveram uma vida difícil. Nicole revela-se uma mulher inconstante e Annie recusa uma palavra amiga de qualquer um e, de todos, desconfia. Com mentes já de si tão atormentadas e uma casa que já carrega uma forte carga negativa, que mais podem esses recantos esconder, para continuar a senda de destruição de vidas? Para um novato McCarthy demonstra uma direcção de actores bastante competente conseguindo, (imagine-se só que alguma vez faria esta afirmação), que Casper Van Diehn soe minimamente credível. Ele também concretiza uma reviravolta que quando sucede, o filme não perde o rumo nem se torna menos perturbador. Uma dica: atentem às pistas. Quatro estrelas.
“Babycall”, 2011 – Noruega
Não há duvida que a Noomi é a actriz do momento. Mas neste momento não sei se o melhor de Rapace não reside mesmo nas personagens problemáticas. Por que já em Prometheus a sua frágil Shaw não convenceu. Em Babycall a sua personagem é afectada, deglamorizada e um pouco louca a maior parte do tempo, de modo subtil. Desta feita, ela é Anna, uma mulher vítima de violência doméstica que se refugia num bloco de apartamentos com o filho Anders para escapar ao marido abusivo. Para garantir que tem Anders ao seu alcance protector Anna compra um monitor de bebés. Um dia ela ouve o grito de outra criança que não o filho. Sabendo que o filho é tudo quanto lhe resta e o poderá perder a qualquer momento, visto que ela própria tem os seus demónios ela decide investigar um pouco mais… “Babycall” é um daqueles filmes: “eu bem te avisei”, em termos de previsibilidade. As curvas e contracurvas que o argumentista nos atira pelo caminho para despistar, apenas acentuam as sensações iniciais. O problema de “Babycall” nem é sabermos que o final antecipado ocorro mas o facto de o caminho para lá chegar é penoso. Pouco ou nada de terror terá, excepto o psicológico como a possibilidade de perda de um filho ou da nossa própria sanidade. “Babycall”, nada tem de especial para nos oferecer na viagem de 96 minutos que ainda podia ser mais curta. Nem sequer tem algo de reconfortante, uma réstia de esperança para nos oferecer apesar duma vaga imagem de reposição de justiça. Quanto a vós não sei mas o desespero é uma das piores sensações para se ficar quando se sai de uma sala de cinema… Duas estrelas.
Próximo Filme: (?)
Sem comentários:
Enviar um comentário