Acumulei algumas queixas desde a última lista, de que não recorria o suficiente a este tipo de doces à navegação. Na verdade não fizemos muitas listas até ao momento, mas elas tiveram um impacto que não esperava de todo. No nosso top de entradas mais vistas deste blogue figuram algumas dessas sugestões. Se quiserem recordar, por cá figuram:
Top 10: Assassinos Mascarados
Top 5: Monstros do Cinema Asiático
Top 12: Realizadores de Cinema de Terror Asiático
Top 10: Revelações mais Chocantes
Top 5: Filmes para ver no dia de Halloween
E uma entrada de que poucos se aperceberam: Top 10: Filmes de Desporto, como bónus escondido da apreciação a “Waterboys” (2001).
Em jeito de recuperação desta tradição “perdida” retoma-se aqui um dos meus conceitos preferidos, francamente sobre explorado e mal explorado pela maioria dos filmes de terror: o edifício assombrado. Se me desse ao trabalho (e tivesse tempo para tal), podia à vontade, enumerar uma centena de títulos com esta característica tão distintiva dos filmes de terror, sendo, que uns 80% seriam porcaria pura. E para demonstrar que esta tendência continua tão viva como antes, basta dizer que este ano no Festival de Terror de Lisboa - MOTELx, dos seis títulos que tive oportunidade de ver, dois tinham por pano de fundo uma casa assombrada! Imaginem então, quantos mais não houve. DISCLAIMER: a lista não se encontra organizada por nenhuma ordem específica. Não me venham cá apedrejar por que referi um em primeiro lugar e o outro está em sétimo.
1) “The Haunting of Hill House” (Reino Unido, E.U.A., 1963) – Para muitos este é o filme sobre edifícios assombrados original. Uma mansão isolada do século XIX, repleta de estórias de miséria e morte já são motivo suficiente para qualquer um desejar permanecer o mais longe possível do lugar. Então, quando um investigador do paranormal decide juntar o único herdeiro sobrevivente da casa e duas mulheres com habilidades para comunicar com o outro mundo, está bem de ver que os fantasmas que lá residem vão despertar… Tem uma das cenas mais memoráveis na criação de terror, recorrendo apenas às expressões dos actores e a duas linhas de diálogo. Existe momento mais assustador do que quando uma Eleonor amedrontada se apercebe que não era a mão confortadora de Theodora que agarrara naquela noite. “Céus! Céus! Que mão estava eu a agarrar?”
2) “Haunted Changi” (Singapura, 2010) – Aparte um cemitério, o hospital é capaz de ser um dos locais mais naturalmente vocacionados para a criação de temor nas mentes das pessoas. O velho Hospital Changi é uma das matérias-primas para o subgénero found footage mais felizes de todas. Este edifício abandonado, com cerca de 80 anos de estória, já foi reconvertido por diversas vezes, foi um quartel militar e também já atravessou dois povos invasores (britânicos e japoneses). Que estórias não escondem aquelas paredes? Em “Haunted Changi” o hospital foi convertido, tal como se apresenta nos dias de hoje, devoluto e vandalizado, no cenário para uma estória de assombração a um grupo de corajosos decidido a desvendar e documentar os segredos do hospital. “Haunted Changi” é na maior parte um fracasso e funciona melhor, quando, sem dramatização, a câmara se limita a documentar as paredes danificadas. Como se elas começassem a falar em qualquer momento.
3) “The Shining” (E.U.A.,1980) – E por falar em imaginação, o prolífico e híper-imaginativo autor de terror, Stephen King, escreveu a matéria para um dos filmes que alguns consideram o melhor de Kubrick. Uma família, um casal e o filho dirigem-se para um hotel isolado durante o Inverno, durante o qual, o pai Jack espera escrever calmamente o seu próximo livro. O filho Danny, um sensível, apercebe-se que residentes no hotel de outros tempos, não estão muito satisfeitos com a presença deles ali. Enquanto isso, o isolamento geográfico e as outras "presenças" começam a afectar a sanidade de Jack e a levá-lo, lentamente, à loucura. Entre os misteriosos habitantes do hotel estão uma velha encarquilhada e o par de gémeas mais creepy de sempre. Se uma já pode parecer assustadora existir um duplicado ainda pior é. Encurralados por um nevão, resta saber quem irá atacar Wendy e o seu filho primeiro, se Jack ou os antigos residentes. Ah e adoro o facto de no meio disto ser a mulher do casal a única com a capacidade de discernimento (vagamente), intacta.
4) “The Grudge” (Japão, 2002) – Um número extraordinário de personagens e uma casa que guarda um ressentimento além morte. Só nos recordamos de um punhado de personagens por altura do final. Este lar contrasta com as típicas mansões vitorianas de inúmeros filmes, dos quais, um dos mais recentes é “The Woman in Black” (2012). Esse tipo de mansões carregam uma aura austera própria da época já de si propicia a causar temor. Por isso, no cenário mais improvável, uma vivenda de arquitectura japonesa, tão pictoresca que só podia fazer parte de quadro. E, no entanto, todos quantos passam da soleira da porta da rua, terão um final agonizante. É a casa, o local do crime é ela que transporta a maldição que afecta todas as personagens que até podem nem ter nenhuma ligação entre si. Com um efeito tão forte e aleatório a questão que se coloca não é “se” mas “quando” e, a julgar pelo “como”, tenham muito, muito medo.
5) “The Others” (Espanha, 2001) – Vá de admitir que não sou a maior fã da Nicole Kidman. Ela adora passar por naïf, quando se sabe que, bem lá no fundo existe uma cabra à espera de vir cá para fora. Por isso, um papel onde a sua personagem é uma fanática do controlo assenta-lhe que nem uma luva. Com o final da IIª Guerra Mundial, Grace encontra-se numa mansão com os dois filhos menores, à espera que o marido combatente se junte a eles. Com uma doença que impede os pequenos de ficar expostos à luz solar ela fecha todos os compartimentos da casa como se de uma prisão se tratasse. Um descuido pode redundar na morte das crianças e ela, como controladora que é, não admite a menor falha. Enquanto “The Haunting of Hill House” assenta no terror baseado na descrição das impressões sentidas pelos actores, “The Others” é claustrofóbico, constituindo a mansão um dos actores principais.
6) “The Haunted House Project” (Coreia do Sul, 2010) – Aos investigadores do paranormal, por vezes, não basta a crença cega. É preciso tomar atitudes temerárias, a tempos estúpidas, para recolher provas e mostrar ao mundo. “Vêem? Temos razão!” E depois não sei o que tencionam fazer com esse conhecimento… Em “The Haunted House Project” temos um grupo de exploradores que não devem ter muito que fazer ou então não entravam numa casa onde um crime passional terá produzido diversos mortos por assassinato ou por "acidentes" e outros tantos desaparecidos. A casa já é um perigo para a segurança pública para começar e à medida que eles vão percorrendo o terreno, esta vai mudando de aparência. Os investigadores que duvidavam, acreditam por fim e as tensões dentro do grupo começam a revelar-se. É a maldade inscrita no ADN da casa que está a provocar a discórdia ou eles não têm maturidade suficiente para aceitar aquilo que estão a ver desenrolar-se diante dos seus olhos? Conseguirá alguém sair dali vivo?
7) “The Kingdom” (Dinamarca, 1994) – Esta é a primeira e última batotice do top ok? Há demasiadas hipóteses de longas-metragens mas, com uma série tão marcante quanto esta, não poderia deixar de a referir. “The Kingdom” é um hospital dinamarquês apetrechado com a mais moderna tecnologia e, aparentemente, fantasmas também. “The Kingdom” podia ser muito bem fruto de uma relação amorosa entre um Cronenberg, Lynch e Terry Giliam e, muito me admiro, se por essa internet fora não fizerem uma mesma conexão. Ambulâncias fantasma, elevadores de onde vêm sons sobrenaturais e fetos com super-crescimento são apenas alguns dos problemas que afectam o pessoal de hospital que já tem de conseguir sobreviver ao dia-a-dia duro num hospital, quanto mais com assombrações…
8) “The Amityville Horror” (E.UA., 2005) – Se muitos filmes vivem do “baseado em factos reais”, esta estória não é excepção. Podia ter proposto o original de 1979, mas ainda só vi a nova versão (shame on me). Creio que nunca ninguém saberá muito bem o que se passou naquela casa, sem ser os Lutz, mas que a versão romanceada é aterradora disso não restam grandes dúvidas. Certo é que os Lutz se mudaram para a mansão colonial holandesa, onde seis membros da família DeFeo foram assassinados pelo filho mais velho uns anos antes. Esta parte da estória é factual. Vinte e oito dias depois abandonavam a casa contando uma estória fantástica, envolvendo topo o tipo de fenómenos desde sussurros e aparições a mobília que se movimentava sozinha. Tudo tão fenomenal que até originou um livro… e um sem-número de filmes. E deixou muitas pessoas a pensar: "como a nossa família é pequena, se calhar, até nem precisávamos de uma casa tão grande".
9) “Grave Encounters” (E.U.A., 2011) – Entre as ideias estúpidas que já vi em filmes com edifícios assombrados esta tem de estar bem lá no topo. O que é que a malta faz quando se depara com espíritos? Corre. Corre como se não houvesse amanhã, com a roupa que tem no corpo e não olha para trás. Mas em “Grave Encounters” não contem com muitos actos racionais. O que é que a equipa de idiotas, perdão, temerários faz? Para filmar um reality show, que tem de ser o evento mais fixe de sempre, fecham-se num manicómio que se diz estar assombrado. Claro que a aventura só pode correr mal. E pelos vistos, chegados a 2011, ninguém os avisou que o “The Blair Witch Project” já foi feito em 1999 e que já foram feitas muitas outras cópias (Ver entradas nº 2 e nº 6). Quem consegue adivinhar quantas pessoas sobrevivem do conjunto destes três filmes?
10) “The Changeling” (Canadá, 1980) – Alguém me consegue apontar muitos filmes de terror em anos recentes, onde um homem que já ultrapassou a meia-idade é a estrela principal? E ainda por cima um excelente actor? Na altura uns quantos devem ter pensado que o George C. Scott tinha perdido a cabeça. Como podia um actor clássico, respeitável aceitar um papel num filme de terror? “The Changeling” é um daqueles filmes, injustamente esquecidos, mas indissociáveis do conceito de terror contemporâneo. Quantos filmes não têm um mistério qualquer por desvendar que seguem uma narrativa em tudo similar à de “The Changeling”? Por outra perspectiva se considerarem um filme de 1980 datado e ineficaz em termos de medos e tremuras, façam a experiência de assistir ao filme com as luzes apagadas e depois digam-me como dormiram nessa noite.
Menções Honrosas: “Poltergeist” (1982), “Hausu” (1977), “Stir of Echoes” (1999), “The Orphanage” (2007), “The Echo” (2004), “Thir13en Ghosts” (2001), “Evil Dead” (1987), “The Innkeepers” (2011), “The Woman in Black” (2012), “House on Haunted Hill” (1999) e “The Pact” (2012).
PS: Por entre vivendas, mansões de época, hotéis, hospitais e manicómios, qual deles o mais assustador?
Próximo Filme: Corazon: Ang unang aswang, 2012
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