domingo, 14 de julho de 2013

"Colic" (Colic: dek hen pee, 2006)


“Colic” atinge as pessoas, sobretudo mães pré-mamãs em todos os pontos certos. Uma mera visualização do poster onde um bebé está sentado perigosamente perto de uma misturadora chega para provocar arrepios. Perigo a pairar sobre criaturas indefesas como bebés sempre foram a última fronteira e, se o resultado não é tão asqueroso como, digamos, um “Art of The Devil” o impacto psicológico é bastante mais vasto.

Quando Phrae (Pimpan Chalaikupp) engravida por acidente, Pong (Vittaya Wasukraipaisan), apesar de não estar preparado para ser pai decide tomar a atitude correcta e casar com a namorada. Esta decisão implica abdicar de uma série de coisas, visto que Phrae deixa de poder trabalhar e sem recursos financeiros para criar um filho, o casal é forçado a mudar-se para a casa da mãe de Pong, longe do centro da cidade, onde ele trabalha como realizador de filmes publicitários. Uma situação temporária, prevêem. Mas mais uma vez, os acontecimentos desenrolam-se contrários aos desejos do casal, já que Pan se revela desde logo um bebé inquieto, sofrendo bastante com ataques de cólicas que não deverão cessar antes de seis meses. O casal terá de depender durante mais algum tempo da boa vontade da mãe de Pong e de Jeen (Kuntheera Sattabongkot), irmã de Phrae. Afinal, o conto-de-fadas apenas teve a duração de uma gravidez pintada de imagens de felicidade conjugal ilusórias. À medida que o choro de Pan se torna cada vez mais incontrolável, Pong afasta-se e Phrae vê-se isolada, provavelmente deprimida e incapaz de lidar com a situação. Será o choro de Pan fruto de uma condição que afecta quase todos os bebés ou há algo mais, algo invisível que perturba o seu primeiro filho?

“Colic” é um longo filme para quem aguarda por momentos de terror visceral. A narrativa arrasta-se uma boa meia hora mais do que o necessário. Entre os episódios em que o bebé é acossado pela maleita há lugar para o drama entre Phrae e Pong. Mesmo que Pan sobreviva às cólicas será que o seu casamento resiste? O nascimento de um filho constitui um motivo suficientemente forte para que duas pessoas que não estão preparadas para o compromisso avançar nesse sentido? “Colic” é pois uma mistela, não se decidindo entre o drama de uma família disfuncional e o terror sobrenatural. As personagens, nomeadamente o casal são fortes o suficiente para carregar o drama aos seus ombros.
 É difícil não nos identificarmos com o seu problema: a criança não para de chorar e, tendo vontade de calar a criaturinha perturbada como não perceber a exaustão e o sofrimento de Phrae e a necessidade de escape de Pong? Os secundários fazem as vezes da audiência, são a família e colegas simpatéticos para com o problema do casal mas que pouco podem fazer para o parar. Thammajira sabe o que faz, construindo uma imagem negra com enquadramentos inteligentes, onde o choro da criança acossada, um quarto solitário cheio de objectos que podem atentar contra a sua integridade física e a existência de pais inexperientes e impotentes, coroam a sensação de que algo muito mau rodeia aquele ser indefeso. A raiz dos problemas de “Colic” reside então no terror sobrenatural, não só uma repetição de eventos de filmes que lhe antecederam como a apresentação de uma proposta dispensável para o desencadear da acção. A somar aos momentos inverosímeis que se sucedem para criar o arrepio fácil (entra a música para assinalar quando nos devemos encolher), são apresentadas sugestões e superstições que ao invés de auxiliar a compreensão da estória, contribuem para uma ainda maior confusão. Afinal, o bebé chora porque tem medo ou porque está a avisar os pais de algo? Está a suceder algo mais entre o casal que nós não sabemos ou os problemas conjugais resultam meramente da falta de preparação? A montagem também não auxilia a resolução destas interrogações pois, se em alturas detém-se demasiado em cenas dispensáveis, no panorama geral a continuidade e lógica são profundamente afectados. Com uma premissa interessante “Colic” é um case-study de película que foi perdida na sala de edição. Os meus pêsames. Duas estrelas e meia.

Realização: Patchanon Thammajira
Pimpan Chalaikupp como Phrae
Vittaya Wasukraipaisan como Pong
Kuntheera Sattabongkot como Jeen

Próximo Filme: “Apartment 1303”, (1303, goshitsu, 2007)

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