Se pudesse passava dias inteiros a ver thrillers de suspense. Thrillers nunca são demais e visionar filmes que não ofendam a inteligência, isso então, é um achado. Junte-se-lhe um mistério detectivesco e um pouco de Kang-ho Song e terão um filme melhor que 85% dos filmes autointitulados “thrillers”, sem sequer se esforçar.
“Howling” é uma adaptação do livro “O Caçador” (2006) da escritora japonesa Asa Nonami que foca dois detectives que investigam o estranho caso de uma série de mortes interligadas pelo ataque de um animal selvagem. Eun-young (Na-young Lee) é uma detective recém-promovida que se tenta adaptar ao novo grupo de colegas mais experientes e misóginos que fazem questão de lhe mostrar, desde o início, que ali, não há lugar ela e que mais vale voltar para a polícia de patrulha. Sang-gil (Kang-ho Song) é um detective que se encontra no limiar da competência, mais preocupado com o filho delinquente e espera que os deuses da polícia ouçam a sua prece por casos fáceis e simples. Depois ainda se questiona como é que ainda não progrediu na carreira. Esta dupla é emparelhada à força pelas chefias quando surge um caso banal de suicídio. As perspectivas não podiam ser mais diferentes: Eun-young deseja provar que é mais do que uma cara bonita que subiu demasiado rápido e Sang-gil só quer fechar mais um caso sem atrair atenção negativa sobre si. Em ambos, os casos falham. A pressa de mostrar que é competente levam a detective a cometer alguns erros que apenas confirmam a ideia dos colegas de que ela nunca devia ter sido promovida. Quanto a Sang-gil espera-o um caso que o fará suar muito mais do que alguma o fez. O corpo de um homem, queimado até à impossibilidade de recognição, apresenta mordidelas de uma besta. Um cão? Um lobo? Porquê? O que começam por ser ataques aleatórios transformam-se num padrão com base num plano maléfico orquestrado até ao último pormenor…
Parelha improvável |
A investigação instiga a curiosidade tanto do fã de mistérios detectivescos como do cinéfilo mais céptico pelo modo competente como é conduzida. Seguindo a fórmula tradicional, a película é um mix de géneros, que alterna entre o racional e o misticismo mas sem alienar o espectador. Mais notavelmente, “Howling” apresenta o ainda não cansado arquétipo do polícia negligente e mais, em confronto aberto contra a quebra das convenções: uma mulher no papel principal, profissional e inteligente que enfrenta a oposição de colegas comodistas e sexistas.
Admito, com um pouco de orgulho no realizador Yoo Ha, que ele deve ter resistido a uma pressão tremenda em transformar a protagonista feminina numa mulher com problemas por resolver com o paizinho e que, tudo quanto deseja, é ser protegida por um homem. Nada disso. A protagonista é colocada num pedestal, encontra-se num plano superior ao dos seus congéneres e até experiencia, (até me doeu a mim), uma tareia brutal. Na caracterização dos personagens reside pois a força de “Howling” que, despojado dos elementos místicos redundaria (quase) numa investigação tantas vezes visionada em cinema. Três estrelas.
O melhor:
- Kang-ho Song. Mas a sério, até a dormir ele fazia este papel
- Pouco melodrama
- Cinematografia
O pior:
- Se retirássemos o elemento lobo, seria uma investigação pouco mais do que óbvia;
- Tendência dos vilões em complicar.
Realização: Yoo Ha
Argumento: Yoo Ha e Asa Nonami (livro)
Na-young Lee como Eun-young
Kang-ho Song como Sang-gil
Sung-min Lee como Detective Young-cheol
Jung-geun Shin como Detective-chefe
Hyeon-seong Im como Detective
Jeong-jin como Detective
Próximo filme: "The Ghosts must be crazy", 2011
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