Kirie (Eriko Hatsune) é uma estudante que vive em aparente felicidade em Kurouzu, numa pequena vila japonesa. Vive uma relação de amor platónico com Shuichi (Fhi Fan) e o pai Yasuo (Tarô Suwa) foi recentemente reconhecido pelo trabalho enquanto escultor. Ela aparenta dividir com positividade o tempo entre a escola e a casa. Que mais podia uma garota querer?
Um dia, Kirie passa na rua pelo pai de Shuichi, Toshio (Ren Ôsugi), que se encontra a filmar um caracol. Ela cumprimenta-o mas ele parece nem se dar conta da presença dele. Entretanto, Shuichi pede-lhe para fugir com ele para a cidade. Passa-se algo de muito estranho. Algo que nem mesmo ele compreende e que está a afectar o pai dele. Obcecado por tudo quanto tenha que ver com espirais, o comportamento de Toshio torna-se cada vez mais bizarro e preocupante. Como se nem a própria família tivesse qualquer importância até se deixar consumir por completo pelas espirais. E ele é apenas uma de muitas vítimas. Os colegas de Kirie e outros habitantes começam a ficar tomados pela loucura das espirais. Uma espécie de possessão colectiva que contamina aos poucos Kurouzu. Os personagens perdem o seu lado funcional, deixam de viver para se concentrar nos padrões em espiral que vêem em todo o lado: num caracol, ou umas escadas, em peças de cerâmica, no céu… Apenas Kirie permanece incólume ao que se passa à sua volta.
“Spiral” é um conto de obsessão. Como tal, Higuchinsky (sim, é este o nome do realizador, de origem ucraniana e japonesa), fez questão de inserir espirais, umas vezes de modo cirúrgico, outras mais explicitamente, com caracter crescente conforme a película avança. O tom esverdeado da película que faz recordar por exemplo, um “The Ring” (2002), é convincente para a construção de uma realidade paralela. A somar à cinematografia soberba na sugestão da ideia de loucura contagiante, estão ainda todo o tipo de truques de câmara que contribuem para tornar não só a atmosfera (do filme) louca, como, indicar ao próprio espectador a insanidade do que está a visionar! Dá ares de experimental e isso é interessante tanto mais que nunca se chega a saber se tal se deve a momentos de genialidade ou sorte. As críticas são na maioria favoráveis e parecem apontar a primeira mas não estou assim tão convencida.
“Spiral” baseia-se numa manga (longa) de Junji Ito. Se já é difícil condensar os eventos de um livro num só filme, supõe-se que será muito mais adaptar uma série de carácter semanal que se estendeu por um ano! Porventura, seria mais complicado explicar uma estória tão complexa ou Higushinsky perdeu-se na forma e esqueceu o conteúdo. Além de interacções forçadas entre o duo de protagonistas e representações hórridas, o filme move-se a passo de caracol. Existem algumas cenas muito interessantes incluindo uma metamorfose num destes moluscos, um incidente com um eletrodoméstico ou até a exibição de um penteado de fazer inveja às principais casas de alta-costura. Há qualquer coisa de em “Spiral” que faz aludir a autores como o David Lynch. No entanto, continua a persistir uma enorme dificuldade em proceder à sua classificação enquanto género. É ainda hoje apresentado como o mais original entre os filmes de terror desse ano, sendo que mais de uma década volvida, continua a não existir muito material que se lhe compare nesses termos. As mortes são sem dúvida peculiares e é capaz de nos fazer olhar em redor e perceber que há muito mais espirais nas nossas vidas do que poderíamos pensar. Mas será mesmo um filme de terror? Duas estrelas.
Realização: Higuchinsky
Argumento: Junji Ito (manga), Kengo Kaji, Takao Nitta e Chika Yasuo
Eriko Hatsune como Kirie Goshima
Fhi Fan como Shuichi Saito
Hinako Saeki como Kyoko Sekino
Eun-Kyung Shin como Chie Marayama
Keiko Takahashi como Yukie Saito
Ren Ôsugi como Toshio Saito
Denden Denden como Officer Futada
Masami Horiuchi como Reporter Ichiro Tamura
Tarô Suwa como Yasuo Goshima
Toru Tezuka como Yokota Ikuo
Sadao Abe como Mitsuru Yamaguchi
Asumi Miwa como Shiho Ishikawa
Próximo filme: "Knock Knock! Who's There?" (2015)
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