Hong Kong não parece querer abrandar a produção massiva de filmes de terror. Como se costuma dizer quantidade não é sinónimo e qualidade. E “Knock Knock! Who’s There?” não apresenta qualquer pretensão em ascender à parte superior da tabela.
Carrie Ng é uma actriz veterana de Hong Kong que conseguiu emergir de uma sucessão de maus filmes de categoria III e efetuar com sucesso a transição para o cinema destinado ao grande público. Mas se o tempo foi seu amigo e lhe trouxe respeito e reconhecimento internacional não lhe trouxe jeitinho nenhum para a realização… Entre outros pecados cai no erro da antologia. Ao invés de se focar em retratar uma boa estória foca-se em três, cada uma mais desfocada que a anterior.
Em “Missing” Isabella (Annie Liu) morre num acidente rodoviário aparatoso ao tentar escapar dos paparazzi que a perseguem e ao seu noivo Harry (Carlos Chan). Inquieto, o seu espírito permanece na casa mortuária onde trabalha Roy (Babyjohn Choi), uma velha paixão. Diz que se reacende a acendalha do amor, que é impossível de concretizar dado… bem, dado o facto de ela estar morta e assim mas pronto, diz que o amor é cego e pelos vistos também imortal.
Segue-se-lhe “Karma” e Carrie Ng interpreta Ngo uma agente funerária viciada no jogo que ouve falar de uma susperstição, segundo a qual, se ela enterrar um gato vivo, será bafejada com grandes riquezas. Na sua ganância, ela comete o erro de matar o gato da sua sobrinha Shou (Kate Tsui). Tímida e quieta, ela recusa ignorar o acto atroz cometido pela tia e vai rebelar-se.
Em “Smell” Yan (Jennifer Tse) é uma artista especialista em tornar os mortos apresentáveis para as exéquias fúnebres que não larga o telemóvel. Um dia recebe uma mensagem de Mei-Mei (Nicola Tsang), alguém que não conhece mas com quem simpatiza de imediato. Mei-mei pede-lhe para ir buscar algo por ela e Yan decide ajudá-la, enfiando-se num bairro pouco recomendável da cidade…
“Knock Knock! Who’s There?” é uma miscelânea de estórias com um tom desigual e emprestado a tantos outros que lhe sucederam. Em casos pontuais, que podem ser encontrados em Eric Kwok e Jennifer Tse e, dada a sua experiência afigura-se uma rara tentativa de elevar o material mas o esforço é insuficiente para apagar o meu gosto deixado pelo mau argumento e direcção.
À excepção da sequência inicial, na qual Isabella sofre uma morte violenta que envolve paparazzi sem escrúpulos e um camião do lixo, “Missing” podia ser ignorado quase na totalidade. Para uma antologia que é vendida como sendo de terror, este primeiro segmento é romântico e enfadonho. Está também repleto de cenas inconsequentes. Isabella torna-se um fantasma dado ter assuntos por resolver, assuntos do coração entenda-se, um pouco como “Ghost” (1990). Entre outras descobertas percebemos que o noivo que deixa vivo não lhe desperta interesse além de um velho amor, terminado de forma precoce e absurda devido à interferência da família dela. O que resulta desta revelação? Nada. E a ameaça de espíritos maus nesta terra a Isabella também desaparece tão rapidamente quanto surge.“Karma” é uma velha estória de crime e castigo e embora Carrie Ng sobressaia no papel de vilã, isto não é necessariamente positivo. “Karma” assemelha-se mais a um produto feito para televisão –meia hora de distracção –, do que uma película para televisão. Apesar de algumas ideias interessantes e com potencial inovador, tais como a possessão por um gato e algum mau CGI, o segmento nunca se consegue elevar como algo mais do que medíocre. “Smell” é um título alusivo ao cheiro de cadáveres em decomposição e o que acompanhamos é a viagem de uma mulher (Jennifer Tse) que trabalha no ramo da morte até ao seu encontro. “Smell” é o segmento mais brutal da antologia, no entanto, pouco mais tem do que isso e surge em quantidades muito pequenas, demasiado tarde. Considerando o constrangimento do orçamento os maus efeitos visuais podiam ser perdoados se mais alguma coisa, o que quer que fosse, tivesse um nível superior. Mas isso nunca sucede e, acreditem, para quem acreditou até ao fim por algum tipo de retorno a espera é penosa. “Knock Knock” é o tipo de filme que faz questionar se vale a pena insistir com o visionamento de filmes de terror made in Hong Kong. É que este filme já nem é só formulaico, é horrível e uma perda de tempo. Mais valia não ter aberto a porta a esta sugestão. Uma estrela e meia.
Realização: Carrie
Ng Ka-Lai
Argumento: Carrie
Ng Ka-Lai, Frankie Tam e Yip Ming-Ho
Segmento: “Missing”
Annie Liu como
Isabella
Carlos Chan como
Harry
Babyjohn Choi como
Roy
Segmento: “Karma”
Kate Tsui como
Shou Yun
Carrie Ng como Ngo
Simon Lui como
Tong
Segmento: “Smell”
Jennifer Tse como
Yan
Nicola Tsang como
Mei-Mei
Eric Kwok como
“Assassino”
Próximo Filme: Headshot, 2016
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