domingo, 15 de abril de 2018

The Ritual (2017)

Cinco amigos reúnem-se para uma noite de copos em nome dos velhos tempos. Já não têm vinte e poucos anos, apenas trabalhos, mulheres e obrigações. A idade também pesa mas não deixam de planear as férias como antigamente. Ir a Ibiza? Noites de loucura? Talvez um destino mais calmo como a Suécia. Fazer porventura um percurso pedestre? Os papéis estão bem definidos: Hutch (Robert James-Collier) é o líder do grupo, resiliente e o problem solver de serviço; Dom (Sam Troughton) é aquele que se odeia ao fim de um dia de viagem mas é agradável durante todo o resto do tempo; Phil (Arsher Ali) é o pacificador, que dá menos nas vistas mas acaba por ser a cola que une o grupo e impede que quaisquer problemas alastrem; Luke (Rafe Spall) que, como em todos os grupos de amigos, é o que mais tenta adiar as responsabilidades de adulto e se vê ainda como o mesmo tipo dos tempos de juventude e, um último, Robert (Paul Reid) que acaba ainda por alinhar com este último colocando alguma moderação nos seus desvarios. Numa nota curiosa, do elenco fazem parte dois actores que participaram na saga “Alien”, Spall em “Prometheus” (2012) e Troughton em “Alien vs. Predator” (2004). A tragédia sucede e de cinco, os amigos de sempre passam a quatro. Um ano depois eles encontram-se na Suécia, em homenagem ao amigo caído. Fazem uma caminhada de culpa e expiação. A dinâmica destas amizades está fragilizada: o passeio irá voltar a uni-los de uma vez por todas ou, demonstrar, que talvez seja impossível recuperar o que se perdeu. Luke, em particular, nunca mais recuperou daquela noite. Carrega, além da mochila, o fardo da culpa. Ele devia ter morrido ou pelo menos morrer a tentar impedir a tragédia. Na floresta desconhecida já cansados de um percurso extenuante e da fraca preparação física tomam a pior das decisões: enveredar por um atalho, acabando por embrenhar-se na floresta onde se esconde um mal antigo.

“The Ritual” tem uma primeira hora de filme de excelência. Acerta em todas as notas. O elenco é apresentado de forma destrinçável, sem se alongar demasiado na sua exposição. Ao contrário do que tem sido padrão nos filmes do género dos últimos anos, os personagens não são todos idiotas detestáveis que merecem morrer das formas mais hediondas. São apenas humanos e o motivo que guia a sua acção – concorde-se ou não – é perceptível.
A fotografia – belíssima, diga-se de passagem –, é um elemento fulcral na construção do ambiente de horror permanente a que não é alheio o cenário da floresta imensa mas inerentemente claustrofóbica que evoca um “Descent” (2005), mas com personagens masculinos, com o tom pagão de “The Blair Witch Project” (1999). A par da cinematografia está o trabalho de sonoplastia. Os sons da floresta, com os seus ruídos naturais, seja de pássaros e de outros animais que não vemos, de ramos a partir-se, ou mesmo a total ausência de som, pode ser tão ou mais eficaz que uma composição musical mais robusta. É uma surpresa agradável tanto mais que se tornou um hábito irritante o surgimento de ruídos desarmónicos provindos de violinos ou pianos, quando se pretende provocar saltos na cadeira de uma audiência que está meio predisposta a assustar-se. Existem depois momentos em que a câmara incide somente sobre a paisagem e descobrimos que esta é tudo menos estática. Algo move-se na imagem e, nem temos de ter percebido o que sucedeu num dos cantos do ecrã, para saber, sentir, que existe ali algo que não é natural e não vem por bem ao encontro dos caminhantes.
Sem querer deslindar o vilão de “The Ritual” que é dos seus grandes motivos de interesse, a par de uma cabana onde, bem, quem viu “The Evil Dead” (1981) está mortinho de saber que não se entram em cabanas abandonadas em florestas no meio de nenhures; admitamos que ele é dos mais originais que têm surgido na sétima arte, se calhar não a despeito do orçamento mas por causa deste, que obrigou a equipa técnica a inovar, apenas comparável à fera de “Annihilation” (2018), que provocou reacções de pasmo e pavor em meio mundo.
“The Ritual” é realizado por David Bruckner, o argumentista e realizador dos segmentos que constituíram os pontos altos de “V/H/S” e “Southbound”. Não lhe conhecendo a obra seria difícil adivinhar a sua experiência limitada dado que acertou em tantas notas onde tanto outros realizadores com currículo mais preenchido falham. “The Ritual” perde algum sentido e direcção aquando da exposição do mal que paira sobre a floresta nórdica mas, para quem prefere um ritmo mais veloz, este acelera bastante no quarto de hora final, entrecortado com flashbacks de um subconsciente culpado. Conclusão? Se calhar deviam ter mesmo ido para os copos. Três estrelas e meia.


Realização: David Bruckner
Argumento: Joe Barton e Adam Nevill (livro)
Rafe Spall como Luke
Arsher Ali como Phil
Robert James-Collier como Hutch
Sam Troughton como Dom
Paul Reid como Robert

Próximo Filme "The Eyes of my Mother", 2016

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