sábado, 31 de março de 2012

1º Aniversário do Not a Film Critic - Parte 1


A de Apreciação – Como alguns já deverão ter percebido, o termo “crítica” não é aqui, propriamente, querido. Às vezes fogem-me os dedos e escrevo “crítica” mas prefiro apreciação. “Crítica” parece ser um termo pejorativo, negativo à partida e a minha perspectiva é a de assistir a filmes com uma mente aberta e positiva. Ninguém diz mal de um filme pelo gozo de o fazer (ou pelo menos não o devia fazer) e, ao fim ao cabo, quando acabamos de visualizar um filme o que é que nos é perguntado? Se criticámos um filme ou se o apreciámos?

B de Blogger – Há sete anos já. Tudo começou com um blogue pessoal, entretanto abandonado e o seguimento dos blogues de amigos. Foi uma evolução natural a partir dai. Dos blogues pessoais, passei para o seguimento de outros blogues temáticos, incluindo os de cinema, nos quais, entretanto, já comentava em nome próprio. Depois, um certo dia 31 de Março de 2011 pus mãos à obra e decidi pôr os filmes que eu via mas encontrava pouco por essa web lusa fora, num blogue.

C de Classificação – Provavelmente já deu para perceber que tento ter uma perspectiva positiva quanto ao visionamento de filmes. Isso reflecte-se na classificação actual do Not a Film Critic: Uma estrela = fraco, Duas Estrelas = satisfaz pouco; Três Estrelas = bom; Quatro Estrelas = Muito Bom e Cinco Estrelas = Excelente. Uma curiosidade, o filme mais bem classificado até hoje foi “Confessions” com 5 estrelas e o pior classificado foi “Lawang Sewu Dendam Kuntilanak” ao qual não atribui nenhuma estrela. Com o passar do tempo, a minha opinião sobre determinadas obras amadureceu e talvez atribuísse uma classificação superior a “Sacred”, “Dorm” e “13 Assassins”.

D de Design – E que trabalho me deu. Se fosse hoje, ainda faria um milhão de mudanças no layout, nos menus… Apesar de tudo não quero que o Not a Film Critic se torne uma árvore de Natal, mas é tão difícil… E o que fiz foi feito à custa de tutoriais (alguns bem duvidosos), na Web.

E de Estatísticas – As estatísticas valem o que valem mas é um bom modo de compreender o que os nossos leitores mais procuram no Not a Film Critic e consideram mais interessante. As ferramentas de medição que utilizamos são o Google Analytics e o Blog Tracker. A ferramenta da Google é utilizada desde o início e, poucos meses depois, começámos a utilizar também o Tracker. Este último, já teve alguns problemas incluindo um longo período de manutenção, durante o qual não mediu as visitas do blogue pelo que, se calhar, a sua utilização vai mesmo quedar-se por este ano. Em todo o caso, o cruzamento de dados permitiu chegar a algumas conclusões interessantes. No primeiro lugar do Top 10 de Posts com maior número de visualizações está o filme de culto “Noroi”, seguindo-se “Ip Man”, “Senjakala”, o “Top 5: Monstros do Cinema Asiático”, “Top 5: Filmes para ver no dia de Halloween”, “World Invasion: Battle Los Angeles” (alguém me ajuda a tirar isto do top por favor?), “Dream Home”, “Harry Potter and the Deathly Hallows part II”, “Ju-on – The Grudge” e “Ouija Board”. Está um top, em termos de países de origem, bastante equilibrado e até tem, para minha surpresa, um filme malaio no terceiro posto. No entanto, também entendo que a presença do World Invasion e do feiticeiro Harry Potter resulta do momentum da estreia, enquanto as outras pesquisas no top, resultam de uma procura consistente ao longo do tempo. Embora, “Ouija Board” resulte do engano natural que é pesquisar pela tábua de jogo. Durante este último ano, os termos de pesquisa mais curiosos foram sem dúvida “Como fazer um bongo”, “bonecas de borrar de medo” e “monstros de verdade”. Portanto, se alguém se quiser disponibilizar a responder à primeira questão, encontrar bonecas que metam medo e me souber indicar monstros de verdade, agradeço.

F de FilmPuff – É uma personagem, uma variação de moviebuff, mas podem ler mais sobre isso na Ficha Técnica do Not a Film Critic.


quarta-feira, 28 de março de 2012

"The Woman in Black", 2012

Há um elemento em “The Woman in Black” que funciona, em simultâneo, a seu favor e desfavor. Ele é Daniel Radcliffe. A grande questão que tem surgido em torno desta película, não é se é boa, ou mesmo sobre a estória, mas se o Radcliffe conseguiu sair da personagem Harry Potter. Muitos trocadilhos foram feitos a este propósito: “será que o Radcliffe conseguiu fazer o Harry Potter descansar em paz?”, “Daniel troca o género fantástico pelo género fantástico?!” ou “Apostado em sair da pele de um jovem feiticeiro torna-se pai”. Por isso, tiremos já esta questão do caminho. Ele fez a transição de personagem com sucesso. Se o seu desempenho foi suficientemente bom, isso é outra questão.“The Woman in Black” foi produzida pela emblemática Hammer Films em parceria com outros estúdios e baseia-se na obra de ficção homónima de 1983, escrita por Susan Hill. A Hammer Films, nascida nos 30, teve a sua época áurea entre os anos 50 e 60, oferecendo a actores como Peter Cushing e Christopher Lee, papéis hoje icónicos. Os seus filmes eram então designados “Hammer Horror”, sinónimo de qualidade. Com a chegada do século XXI, a Hammer Films foi comprada e deu-se a ressurreição embora tenha efectuado algumas escolhas infelizes como “The Resident” (2011). “Let me in” (2010) e “The Woman in Black” (2012), marcam o regresso definitivo da marca britânica Hammer.
Daniel Radcliffe interpreta o jovem advogado Arthur Keeps, cuja carreira entrou em espiral descendente após a morte da mulher durante o parto do seu único filho, Joseph (Misha Handley). O patrão dá-lhe uma última oportunidade de regressar à boa forma e envia-o para Crythin Gifford, uma pequena localidade isolada, na costa este do Reino Unido para pôr em ordem a papelada da falecida Senhora Dradlow. Lá, é recebido com hostilidade pela população que demonstra de modo veemente como a sua presença é indesejada. Com um filho pequeno, Arthur recusa-se a abandonar a terra sem aproveitar aquela poderá ser a última oportunidade de manter o trabalho. E este leva-o a uma mansão rodeada por um imenso pântano e neblina que com a subida da maré fica isolada da população. Cedo começa a ter visões e a ouvir barulhos que indicam que poderá não estar só naquela casa…
“The Woman in Black” está cheia de elementos que já vimos antes noutros filmes: uma mansão isolada, um cemitério, população local hostil, corvos… Os lugares-comuns da câmara também estão presentes, como sombras que surgem no fundo da tela por detrás do herói insuspeito e o seu reflexo ou marca em diferentes superfícies. Não devemos é equivocar-nos acerca do seu significado. A literatura gótica tem quatro ou cinco características que se podem encontrar com pequenas variações, em todas as obras: existe uma vítima indefesa contra um atacante ligado ao sobrenatural ou com poderes demoníacos, a acção passa-se dentro de “muralhas impenetráveis” que podem físicas ou psicológicas, veja-se por exemplo, “Wuthering Heights” da Emily Brontё ou “Rebecca” da Daphne du Maurier, ambos férteis na construção da sensação de isolamento e irremediabilidade de um destino negro. O edifício, uma catedral ou mansão gótica, normalmente abandonada ou com aparência degradada contribui para atmosfera excruciante, como um túmulo. Representa a morte espiritual e se o herói não sair da teia do seu agressor, a eventual morte física. É uma situação desigual pois o atacante conhece ou está ligado espiritualmente ao edifício que utiliza como instrumento de tortura consciente até quebrar o herói. Por fim e o que pode ditar a perda da sua vida, é a atracção-repulsão do herói pelo mistério.
Radcliffe podia ter sido mais do que competente se não tivesse outros argumentos contra si. Contracenar com os veteraníssimos Ciáran Hinds e Janet Mcteer deve ser muito complicado. Na verdade, Radcliffe eclipsa-se cada vez que os estes actores dão um ar da sua graça, em particular, uma Mcteer que interpreta uma personagem trágica. Depois, Radcliffe sofre do mesmo mal que Elijah Wood, a idade não passa por ele. Há-de estar na casa dos 30 e ainda ter a aparência de um adolescente. O filme teria beneficiado de um actor mais velho ou com essa aparência e não é pelos argumentos que tenho visto esgrimir de Radcliffe ser um pai e viúvo muito novo. Estamos na era Eduardina, as pessoas casavam e deixavam descendentes muito novas. O que me conduz à questão da morte das crianças. E sim, em “The Woman em Black” morrem bastantes crianças. Se são sensíveis a esse respeito, não aconselho o filme de todo. A cena inicial, em particular, é a mais marcante. Deixou-me um nó na garganta logo à partida. Mas mais uma vez, estamos no início do século XX, pelo que a medicina era muito pouco avançada e nem sequer teria ainda chegado a uma localidade remota. Não era raro casais terem uma dezena de filhos e menos de metade chegar à idade adulta. Por isso, não, Arthur não é um idiota por não se questionar por que morrem tantas crianças. No máximo é um idiota, por não actuar quando suspeita da verdade que poderá inclusive afectar a sua vida.  Mesmo assim, é um idiota tolhido pela dor. Muita da sua “dormência” deve-se a um luto ainda não finalizado pela morte da mulher. O grande mal reside pois no enredo. Passados 45 minutos é difícil não ter adivinhado a fonte do mistério e a sua resolução. No entanto, estamos até ao final, à espera da grande reviravolta que nunca chega a acontecer. A estória é pois básica, demasiado simples para o que vimos uma centena de vezes antes. Tem elementos do j-horror, mas relances apenas. “The Woman in Black” é na sua essência um drama gótico, com uma visão pessimista do mundo que poderá não corresponder ao ideal de filme das novas gerações mas, fiel à era que se propõe retratar. Três estrelas.

Realização: James Watkins
Argumento: Susan Hill (livro) e Jane Goldman (argumento)
Daniel Radcliffe como Arthur Kipps
Ciáran Hinds como Daily
Janet Mcteer como Senhora Daily
Mary Stockley como Senhora Fisher
Shaun Dooley como Fisher
Misha Handley como Joseph  Kipps

Próximo Filme: "Hong Kong Ghost Stories" (Mag gwai oi ching si, 2011)

domingo, 25 de março de 2012

Pecadilhos das Horas Vagas #2 - “The Killer Shrews”

Sabem aquele filme que sempre que dá na TV não conseguem desligar-se e vêem até ao fim? Aquele filme que todos acham um pouco parvo mas do qual vocês gostam secretamente? Lembram-se daquele velho filme que está gravado em VHS e não conseguem deitar fora? Ou que já viram tanto que a fita até já está meio estragada? Escrevam um texto, não uma crítica, mas uma confissão, sobre um filme da vossa preferência: o vosso guilty pleasure, sem medos ou censura, um “Pecadilho das Horas Vagas". O confessionário é vosso.

Por: Francisco Rocha do My One Thousand Movies


Eu não me lembro bem de quando comecei a ver filmes, mas vou presumir que comecei por volta dos 7 anos, altura em que os meus pais compraram a primeira TV. Estávamos então no início da década de 80, e ver filmes era das coisas que mais me agradava, e sinceramente, naquela altura não havia muito mais para fazer, apenas ver televisão ou brincar na rua. Neste tempo, a televisão tinha uma programação realmente decente, e era possível, por exemplo, ver um filme do Douglas Sirk em horário nobre. Acho que graças à televisão adquiri uma coisa que chamo de sensibilidade cinematográfica, uma espécie de sentido que me faz separar um pouco as águas. Sou uma pessoa que gosto de falar apenas dos filmes que me interessam, os que não me interessam simplesmente ignoro.

Esta tarefa de escolher um “guilty pleasure” não é tarefa fácil.  São 30 anos a ver filmes,  durante muito tempo não tive consciência do que era um Kubrick ou um Tarkovsky, mas tudo isso faz parte da nossa formação cinéfila.  O primeiro filme que vi no cinema foi o “A Fúria do Herói”, (First Blood), mas de maneira nenhuma o podia considerar um “pecado cinéfilo”. Vi muita coisa ao longo da minha vida, mas sobretudo, tudo o que vi foi porque quis.

Primeiro, era para ter escolhido a coleção de filmes da Troma. Depois o filme com o nome mais longo, e mais estúpido que já ouvi até hoje: "The Incredibly Strange Creatures Who Stopped Living and Became Mixed-Up Zombies" (acreditem que o filme é tão mau como o título sugere). Mas acabei por escolher um filme “menor”, mas que inconscientemente me causou umas boas gargalhadas.

“The Killer Shrews” é o seu nome, e foi realizado por um senhor chamado Ray Kellogg, em 1959.  Felizmente, este senhor só realizou quatro filmes na sua carreira, mas na sua última obra ainda dividiu a cadeira de realizador com John Wayne, em “Os Boinas Verdes”.

O filme conta-nos a história de um cientista, numa ilha remota, que tenta descobrir a cura para a fome mundial, tentando criar uma máquina para reduzir o tamanho das pessoas. Se forem menores as pessoas vão comer menos, se comerem menos haverá menos fome (ideia brilhante, como é que ainda não se pensou nisto no mundo real). Durante a operação algo corre mal, e em vez de diminuir ele acaba por arranjar maneira de aumentar o tamanho de umas criaturas... Quando eu vi as primeiras imagens do filme, pensei que "shrews" fossem cães da pradaria, ou alguma coisa a ver com cães normais. Depois de fazer uma pesquisa no google, descobri que "Shrews" não eram mais do que uns pequenos ratos, também conhecidos por musaranhos. Ou seja, os produtores do filme utilizaram cães para simular ratos gigantes. Ainda tentaram disfarçar a coisa, cobrindo os cães com umas vestimentas para que parecessem ratos gigantes. Mas sem sucesso.

Eu já tenho visto cães fazerem bons papéis no cinema, mas não é este o caso. Dado o orçamento que deve ter sido minúsculo estes devem ter sido os cães-actores mais acessíveis. Em determinados momentos do filme, até se ouvem os ratos-assassinos a...ladrar.

Depois de verem este filme, se cruzarem na rua com um cão mascarado, não desatem a gritar: "Socorro! Um Musaranho Assassino!".

* Filme Integral

Página no IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0052969/

Um grande obrigado Francisco! Este rato-cão / musaranho foi um excelente momento de entretenimento.

quarta-feira, 21 de março de 2012

"Tumbok", 2011

As superstições são parte integrante das nossas vidas e podem afectá-las em diversos graus. Podemos afirmar que não acreditamos nessas coisas, no entanto, não deixamos de entrar num novo ano com o pé direito e recusamo-nos a passar por debaixo de escadas. Alguns, levam-nas mais a sério e há países em que o número 13 foi erradicado das moradas e de serviços públicos. Até o facto de a garrafa de champanhe não se partir no batismo de um barco é considerado aziago. “Tumbok” é um dos maiores pesadelos dos supersticiosos tornado realidade. Reza a crença local que uma casa localizada no extremo de uma intersecção de ruas em T é o ponto focal de azar. De acordo com a corrente feng shui, uma intersecção em T é aziaga pois o Chi, a energia universal, flui muito rapidamente dos vários extremos para a casa ou pessoas no caminho, afectando negativamente a energia desse local. E pronto aqui termina a minha primeira tentativa como consultora habitacional de feng shui.
Grace (Christine Reyes) e Ronnie (Carlo Aquino) são um casal recém-casado cujas vidas parecem ser finalmente bafejadas pela sorte. Após a morte do pai de Ronnie, o jovem casal descobre que este possuía um apartamento em Manila. Por coincidência ou talvez não, foi para lá que Ronnie foi transferido por via de uma promoção dentro da força policial. Mas logo que chegam as coisas começam a correr mal. O casal é confrontado com Mark, o administrador demasiado simpático do prédio e um edifício praticamente vazio. Parece um negócio demasiado bom para ser verdade. E é. Entre os poucos vizinhos, encontram-se um grupo de estudantes barulhentos, um casal que se envolve em frequentes disputas domésticas e uma criança que vê coisas que não existem.Grace fica todo o dia em casa a efectuar as mudanças enquanto Ronnie vai trabalhar. Ela começa quase de imediato a ter visitas inesperadas. Durante o dia é assolada pela sensação de que não se encontra sozinha e durante a noite sonha que é molestada. Ela está assustada mas nega a impressão inicial a bem de uma vida melhor. Grace aguenta o que pode mas depressa o ambiente se torna opressivo. Ela prefere voltar a uma vida sem perspectivas no campo a permanecer naquele polo do mal. Ronnie pelo contrário torna-se inflexível e recusa-se a desistir da vida em Manila, afectado que está pela pressão do novo trabalho e sem dinheiro na conta. Será que estão a ser atingidos pelas más energias da intersecção em T? Ou não passará de uma obra do acaso e logo virá a mudança.
“Tumbok” é uma boa ideia com uma dupla de actores minimamente competente. Se não se deixarem levar no engodo de uma Christina Reyes em calções e com a roupa bem colada ao corpo, atente-se à sua vulnerabilidade e presença envolvente. A câmara enamora-se de Christine. Não é de admirar que Reyes seja uma das maiores sex symbol filipinas. Carto Aquino é a metade menos credível do casal. Só passada boa metade da película é que se descobre um passado negro na história de vida de Ronnie que poderá ter algo que ver com a má sorte que se abateu sobre o casal. Quando todos os sinais não apontam, GRITAM, que o melhor que ambos devem fazer é empacotar os haveres e voltar à aldeia Ronnie continua a negar-se a regressar. Pois, que o mais importante é o trabalho e não a sanidade mental e bem-estar físico da jovem mulher. Se os problemas financeiros são o motivo principal para não saírem dali não é como se não tivessem alternativas. Ronnie e Grace podiam vender ou alugar o apartamento. Enquanto não juntassem dinheiro Ronnie podia ir viver para um quarto enquanto Grace regressava para casa dos pais a titulo temporário. Mas pronto, o argumento não é meu. É suposto transmitir um momento de grandes contrariedades e dificuldades de cariz monetário que os forcem a permanecer num prédio com bad juju (leia-se azar). O prédio, esse sim, é a grande estrela da película com a sua fachada degradada imponente. As pessoas, os sons, o ruído, o mundo, tudo conflui para o prédio. A outra personagem digna de nota é a enorme escadaria, a qual é convenientemente secundarizada com um elevador sempre avariado. É o único toque de excelência na realização de Topel Lee por que o resto… Quem não o viu antes? Cenas no banheiro? Soa o alarme de fantasmas. Vultos a atravessar corredores? Soa novo alarme. Aumento súbito de volume do som? Es-pí-ri-tos! Agora, eis o que me aborrece deveras, por que é que tem de existir sempre uma espírita ou mulher supersticiosa para avisar os heróis sobre o mal que impende sobre eles? Haverá truque mais gasto? É que é a melhor amiga bonitinha ou a velhota estranha. E já agora há algum motivo para o Ronnie sacar do distintivo a toda a hora? Algo complexo de autoridade? Being a cop will get you places! Hmmmm… “Tumbok” consegue ser ligeiramente assustador vagamente original mas acredito que tenha superior impacto para o ocidental do que para o cidadão filipino acostumado a tais superstições. Topel Lee tem no currículo suficientes incursões no cinema de terror para fazer muito melhor. Não é nenhum Chito Roño ou um Yam Laranas. Temos pena. Duas estrelas e meia.
Realização: Topel Lee
Argumento: Topel Lee
Cristine Reyes como Grace
Carlo Aquino como Ronnie
Ryan Eigenmann como Mark
Ara Mina as Rita
LJ Moreno como Lumen

Próximo Filme: Pecadilhos das Horas Vagas #2

domingo, 18 de março de 2012

Cineuphórica pela animação!


Passado dia 14 de Março, tive oportunidade de assistir à cerimónia de entrega dos prémios Cineuphoria, destinados a reconhecer a produção cinematográfica estreada no ano anterior em Portugal quer em salas de cinema, televisão, internet ou festivais de cinema, e devidamente publicados no CinEuphoria (…)
A iniciativa, organizada em colaboração com o Portugal Fantástico foi uma celebração da produção nacional com a exibição de curtas-metragens portuguesas: “Bats in the Belfry”, “Conto do Vento”, “A Cova”, “Faminto”, “O Vôo da Papoila”, “S.C.U.M” e “Shadows”.
Foi uma excelente oportunidade de conhecer a ficção nacional e foi curioso notar como a maioria das curtas apostaram em estórias fantásticas e/ou de acção. Mas foram as curtas de animação que roubaram o espectáculo.


“Bats in the Belfry” (2010)

“Bats in the Belfry” é uma curiosa expressão inglesa que significa alguém que é um pouco tonto ou não está bom da cabeça. Bats são morcegos e belfry é o campanário. Por isso, se alguém tem morceguinhos no campanário é porque não bate bem da cuca, coitado. Ricos morceguinhos teve o João Alves que fez tudo o que era humanamente possível nesta curta-metragem: realização, produção, argumento, voz, música e montagem.

Bats in the Belfry  narra a história de Deadeye Jack que após uma frustrada  tentativa de assalto durante o dia, tenta retomá-lo usando a noite como cobertura mas ao surpreender os donos do dinheiro, Jack interrompe uma refeição da qual se arrisca a tornar-se o prato principal.

Deadeye Jack é o tipo loner dos westerns spaghetti que só quer estar na dele. Dar um golpe de vez em quando para o gastar em bebida e mulheres. Cada um com os seus vícios e ele não deve nada a ninguém. No fundo, é um tipo simples que só quer ser deixado em paz. Apenas não tem nada de deadeye, quando saca da pistola é mortal. Até que durante um golpe se depara com vampiros. Sim, vampiros no velho faroeste. Depois de alienígenas em westerns e zombies no século XXI, não é como se fosse um absurdo. “Bats in the Belfry” tem reunido entretanto, uma série de prémios incluindo o de melhor curta de terror portuguesa no MOTELx 2010, melhor animação de 2010 do Shortcutz Lisboa e o melhor jovem realizador de 2011 do Fantasporto. Até faz parte da selecção oficial do "A Night of Horror International Film Festival" na Austrália, quase nos antípodas de Portugal! A geração dos anos 90 que cresceu com “Samurai Jack” e Dexter’s Lab” encontrará nestas as séries as referências essenciais para esta obra de João Alves. Um docinho para os mais saudosos, uma curiosidade para os novos fãs. "Bats in the Belfry” é uma obra inteligente, que junta comédia e terror aproveitando a obsessão actual com tudo o que é fantástico: mortos-vivos, vampiros, monstros... A ver!

Realização: João Alves
Argumento: João Alves
João Alves como Deadeye Jack (voz)
Rita Soares como Mulher (voz)


“Conto do Vento” (2010)

Desde que estreou no Festival Avanca 2010, nunca mais parou. Bóreas acolheu o “Conto do Vento” nos seus braços de titã e levou-o, com o vento, por esse mundo fora, colhendo prémios. Na Grécia, recebeu o  Prémio Animação do Naoussa International Film Festival 2011, na Albânia, recebeu a distinção de "Melhor Filme de Animação" do Festival Internacional de Cinema de Tirana e no Brasil, foi eleito o melhor filme da Mostra Ibero-Americana do Festival Visões Periféricas e continua a arrecadá-los por onde passa.

É uma fábula sobre uma menina e a sua mãe numa sociedade preconceituosa, algures no interior norte de uma aldeia portuguesa.

“Conto do Vento” é uma realização conjunta de Cláudio Jordão e Nelson Martins que também escreveu o argumento. É uma estória sobre pessoas singulares numa sociedade preconceituosa, um misto de fé com ignorância. Quando surgem pessoas que ameaçam o status quo o grupo tenta reprimi-las. Isto acaba por suceder com consequências devastadoras. A menina, que ouvia o vento e o sentia, una com a natureza, acaba por conhecer a maldade do ser humano. Como o bom selvagem de Rousseau, a humanidade corrompe-a para, em última análise, a tornar igual a eles. De notar, o recurso à animação 3D que faz de o “Conto do Vento” uma grande trip visual, que não será adequada para o espectador com maior sensibilidade, nomeadamente, quem sofre de vertigens. A narração de Maria D’Aires, a sobreposição da voz da menina com a mãe, da inocência com a experiência, palavras transportadas pelo vento está fantástica. E é uma das grandes forças da produção apoiando, as imagens já de si poderosas. O “Conto do Vento” é uma criação portuguesa imprescindível.

Realização: Cláudio Jordão e Nelson Martins
Argumento: Nelson Martins
Maria D'aires (voz)

Se “Bats in the Belfry” é o melhor das referências estrangeiras, em língua inglesa, a pensar num público universal e feito sem praticamente sem apoios, o “Conto do Vento” é o melhor do Portugal ancestral, de interior e tradicional, pensado como reflexão do que é ser português, falado na língua de Camões e com o financiamento do ICA/Ministério da Cultura e da RTP. São diferentes modos de pensar animação. Ambos possuem os seus méritos ou não tivessem tido o acolhimento do público e de júris a nível internacional. No entanto, urge pensar o cinema com uma perspectiva artística e de mercado. Não é “Bats in the Belfry”, um produto tão meritório por si próprio, que mereça o escrutínio das entidades públicas cujo projecto de existência é precisamente o de apoiar a cultura nacional? É apenas o Portugal tradicional, supersticioso e às vezes comezinho, o único que pretendemos mostrar lá fora?


Próximo Filme: "Tumbok, 2011"

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