domingo, 22 de maio de 2011

"Three...Extremes - Curta #1: Dumplings" (Saam Gaang Yi, 2004)

"Dumplings" é a contribuição chinesa para a trilogia de curtas de horror "Three...Extremes" sequela de "Three" (Saam Gaang, 2002). Esta experiência do horror asiático junta os realizadores Fruit Chan, (Hong Kong - China),  Park Chan-Wook (Coreia do Sul) e Takashi Miike (Japão) que apresentam entre os três, obras como "Don't Look Up" (2009), "Thirst" (2009) e "13 Assassins" (2010). Uma colaboração de sonho portanto. Ou se preferirem, um grande pesadelo assustador.


Bem, que podiam tirar do título "Extremes", que com estes realizadores acaba por se tornar redundante. O primeiro filme da trilogia é "Dumplings" que não deixa margem para dúvidas. Marca desde logo um tom brutal e divide a audiência. Este é um filme que se ama ou se odeia, de extremos, a bem dizer. É provocador, obsceno, repugnante, perturbador, desconcertante, chocante e outros tantos adjectivos na mesma linha. A premissa é simples: Li (Miriam Yeung Chin Wah), uma senhora de meia idade visita a "Tia" Mei (Bai Ling) para que esta lhe faça um dos seus famosos "dumplings", uns bolinhos de massa, que supostamente têm propriedades rejuvenescedoras. Estes bolinhos são muito famosos na China sendo confeccionados com carne, peixe, legumes, o que quiserem, a massa é a base. Inicialmente, Mei pergunta a Li quantos anos lhe dá, ao que esta responde 30. É muito mais velha e como ela diz e bem, ela é a melhor publicidade dela própria. Mei, mete-se na cozinha e começa a fazer os seus bolinhos mágicos: tritura, pica, amassa, coze como uma verdadeira fada do lar. Claro que a higiene é muito má, mas é cozinha caseira. Os produtos de fumeiro e os queijos não são feitos nos ambientes mais assépticos, no entanto, são bons que se farta não são? O pior é mesmo o ingrediente secreto de Mei (que não vou revelar) embora, ela não faça questão de o esconder, até faz gala disso. Afinal, não se trata aquilo de atingir a suprema beleza? Não é apenas uma transacção comercial? À mera menção do ingrediente alguns hão-de estremecer na cadeira, outros mesmo hão-de parar o visionamento do filme. Muitos, não olharão para bolinhos de massa cujo conteúdo desconhecem com os mesmos olhos... Mas o que me impressiona mesmo é a reacção, ou melhor ausência de reacção de Li, perante os bolinhos de cor rosa bebé. A sua indiferença é perturbadora. Nem mesmo o nojo de meter os bolinhos na boca sabendo aquilo que são a detém. Vêmo-la mastigar, ouvimos o conteúdo a estalar nos seus dentes e a ser sorvido... Criaturinha amoral. Faz pensar sobre a sanidade mental da personagem. A beleza vale perder a alma? E quando voltamos a vê-la, Li parece resplandecente, sem qualquer exagero de maquilhagem, apenas uma abordagem brilhante da câmara e a capacidade de representação de Chin Wah. Quanto à "Tia" Mei é refrescante, parece indiferente ao problema moral que os seus bolinhos acarretam e vai angariar os seus ingredientes como uma comum dona de casa vai à mercearia. O horror de Chan funciona muito melhor pela via da psique do que pela demonstração. Tem algumas imagens terríveis mas o que a audiência adivinha e antevê, por si só, é bem capaz de mexer com os seus sentimentos e estômagos. Ele semeia e instala desde logo uma sensação de desconforto para as curtas seguintes. E por isso, vale ouro. Quatro estrelas.



Realizador: Fruit Chan
Argumento: Lilian Lee (Pik Wah Li)
Elenco:
Bai Ling como Mei
Miriam Yeung Chin Wah como Senhora Li
Tony Leung Ka Fai como Senhor Li

Próximo Filme: "Noroi -The Curse" (Noroi, 2005)

1 comentário:

  1. Ainda não tive oportunidade de explorar o cinema nipónico como queria, mas acho uma boa ideia da tua parte. não sei se é muito recente o teu blog, mas se sim ,força nisso e vai passando pelo Cinema's Challenge.

    http://cinemaschallenge.blogspot.com/

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