quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"The Lost Bladesman" (Guan Yun Chang, 2011)

Ah, os grandes épicos chineses. Suspiro. Histórias moralistas camufladas por entre cenas de luta e romances melodramáticos. Não é que não sejam visualmente espantosas ou que não entretenham mas no universo das máquina de fazer filmes épicos já escasseia algo que se destaque no meio de todos eles. Desta feita, "The Lost Bladesman" é baseado na figura lendária de Guan Yu descrita no "Romance dos Três Reinos", uma peça literária do século XIV. A adaptação ao cinema foi realizada por Felix Chong e Alan Mak, a dupla que nos trouxe "Infernal Affairs" (2002), que caso não conheçam é apenas o filme que Scorcese copiou no oscarizado "The Departed" (2006), pelo que a expectativa desta reunião era alta. A história começa quando Guan Yu (Donnie Yen), general de Liu Bei é capturado pelo seu inimigo Cao Cao (Wen Jiang). Com uma força tão poderosa em seu poder, Cao Cao tenta convencer Guan Yu a juntar-se a ele oferecendo-lhe Qi Lan (Betty Sun), a terceira esposa de Liu Bei por quem ele está apaixonado. Sendo o herói honrado que é, Guan Yu recusa-se a trair a lealdade de Liu Bei mas aceita lutar por Cao Cao em troca da liberdade de Qi Lan. Cao Cao aceita a sua condição e deixa-o partir. Contudo, os seus generais, com medo de voltar a encontrar o poderio de Guan Yu em batalha decidem mandar matá-lo. É esta acção que desencadeia o rumo dos acontecimentos que levarão à imortalização de Guan Yu.
Com apenas uma arma e escoltando uma mulher indefesa, Guan Yu deixa um rasto de morte e destruição por onde passa, à medida que os seus inimigos conjuram a sua morte e se recusam a dar-lhe passagem segura. Infelizmente, o enredo não é tão interessante como à partida se apresenta. A história é bastante intrincada e só os conhecedores do romance e de filmes anteriores baseados no manuscrito como Red Cliff (2008-2009) é que se sentirão minimente à vontade com o vasto número de personagens e de intrigas. A somar ao desconhecimento da trama os novatos na história têm de lidar com cenas de diálogo fastidioso, filosófico e (por vezes) bonito, mas que nem por isso leva a lado algum. Depois existe um problema fundamental: o personagem de Guan Yu. A começar pelo visual do personagem. Donnie Yen, não tem a estatura nem a presença imponente e real de Guan Yu assinalada no manuscrito original do romance. Nesse aspecto, Donnie Yen não corresponde às expectativas. O próprio guarda-roupa e caracterização ficam aquém do imaginário do herói lendário. A peruca que Yen utiliza durante todo o filme é simplesmente horrível. Não conseguiam mesmo fazer melhor? Adiante, Yen é um excelente lutador de artes marciais e foi ele que esteve a cargo da direcção das cenas de luta. Nesse campo, irrepreensível. Mas ele não é, nem nunca foi, lamento, um grande actor. A sua contenção é frustrante. O seu rol de expressões é equivalente à de um Keanu Reeves e nos poucos momentos em que se lhe era exigido um sorriso, Yen esboçava um sorriso amarelo como quem diz: "ora deixa cá mostrar um pouco os dentes, porque é isso que eles querem". Yen, parece constrangido a todo o momento e o seu desempenho parece forçado. Só corresponde nas cenas de luta. E mesmo aí, verifica-se contenção. Ninguém vê um filme de Donnie Yen, para não o ver arrancar uma demonstração explosiva das suas capacidades atléticas.
Por fim, temos o romance com Qi Lan (Betty Sun), que é o elo mais fraco de filme. Sun está ali apenas para sorrir e parecer bonita como o desejo de afeição proibido de um Guan Yu dividido entre o amor e a lealdade ao seu companheiro de armas Liu Bei. Mas lá está, não existe um verdadeiro dilema por parte do nosso herói pois ele é sempre correcto e leal, acima de tudo. Guan Yu, nunca comete nenhum deslize pelo que temos desde cedo a certeza que ele não irá ceder a impulsos de ordem romântica. Guan Yu é apenas uma pequena peça num grande tabuleiro que os generais manobram a seu belo prazer. Resta-nos pois um herói aborrecido e magníficas cenas de luta que infelizmente são tão breves que não compensam o ritmo lento da história. O actor com mais material com que trabalhar acabou por ser o Cao Cao de Wen Jiang, cujas maquinações fazem mover toda a trama. Esta é uma opção infeliz visto que o actor secundário se superioriza ao principal.
Veredicto: os cenários e paisagens deslumbrantes, o guarda-roupa faustoso e as cenas de luta espectaculares contribuem para tornar “The Lost Bladesman”, uma visão agradável. Mas e daí também os outros épicos pontuam nestes aspectos. Há muito que o cinema de Hong Kong aprendeu essa lição. Então o que traz “The Lost Bladesman” de diferente? Com toda a sinceridade, nada. Vê-se. Duas estrelas.
Realização: Felix Chong e Alan Mak
Argumento: Felix Chong e Alan Mak
Donnie Yen como Guan Yu
Wen Jiang como Cao Cao
Betti Sun como Qi Lan

Próximo Filme: "Into the Mirror" (Geoul sokeuro, 2003)

1 comentário:

  1. Don't understand your review but the two stars sounds like you don't really like the movie.

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