domingo, 29 de julho de 2012

"Old Road Mistery" (Misteri Jalan Lama, 2011)


Já alguma vez tiveram a sensação de que o universo se uniu para vos pregar uma grande partida? Ou que estão perante uma anedota que mais ninguém parece entender? “Old Road Mistery” é o exemplo perfeito. Estarei cega? Estarei demasiado exigente? Terei perdido o sentido de humor? Gosto de me considerar tolerante mas há alturas em que e difícil separar o “crítico”, seja lá o que isso for, do fã de cinema e,“Diabos me Levem”, se consigo evitar uma certa subjectividade sobre um filme que é uma tão fraca amostra de cinema.

Indra (Hans Isaac) e Ilya (Qué Haidar) são dois irmãos muito diferentes. Enquanto Indra é o típico bad boy, piloto de corridas ilegais e jogador compulsivo que não se pode apanhar com dinheiro no bolso, Ilya, o irmão mais novo, é o filho pródigo destinado a grandes feitos se ao menos seguir as normas e os valores incutidos. A morte inesperada do seu pai Isakandar (Ahmad Tarmimi Serigar) leva-os numa viagem por uma estrada velha até à aldeia natal, cujo percurso irá testar os laços que unem os dois irmãos e os conduzirá a um destino além da sua imaginação.

O argumento de “Old Road Mistery” também tem um percurso misterioso alternando com uma perigosa falta de à-vontade entre os géneros: terror, melodrama, aventura e, por fim, fantástico. O mistério da estrada velha tenta ser tudo, acabando por redundar em nada. Com um orçamento extremamente limitado, o realizador e argumentista Afdlin Shauki aposta na megalomania, da qual resultam péssimos valores de produção como atestam o péssimo casting para o elenco, um argumento atroz, com falas proferidas com convicção nula ou, em alternativa, exagerada, imagem com grão, cinematografia desenquadrada e desinteressada da película, cenários, adereços e guarda-roupa miseráveis. O grau de tolerância desce consideravelmente quando são tantos os aspectos negativos que se torna quase impossível vislumbrar algum pormenor com qualidade em “Old Road Mistery”.

A dupla principal impressiona pela completa ausência de química, mais semelhante à dinâmica entre cães e gatos, é tão-somente incompatível. O que poderia salvar, em parte, o facto dos dois irmãos não aparentarem partilhar um único gene, seriam personagens, cada uma a seu modo, simpática. Mas a audiência não seria brindada com tal sorte, já que Indra é um marido e pai ausente que vive de expedientes egoísta e oblívio a tudo o que não lhe proporcione lucro rápido e fácil. E Ilya consegue ser ainda pior visto que representa o menino do papá mimado e medroso que, para quem possui uma inteligência superior tem atitudes de um asno quanto aos factos da vida. Ele é protagonista das duas cenas que provocam mais risos involuntários. Numa, qual jovem virginal, ele, não a rapariga, é praticamente forçado pela beldade a deitar-se com ela. Repito: uma beldade obriga um jovem a deitar-se com ela. Pelas mais variadas caretas do moço diria que ele tem ali algumas questões por resultar no que respeita à sua sexualidade… Na segunda cena, Ilya corre lacrimoso e, reminiscente de uma donzela, através da floresta, na altura em que mais se necessita dele. É caso para pensar que ter a vida nas mãos dele é o mesmo que ter uma sentença de morte a pairar sobre a cabeça. Outra actuação particularmente má e, isto parte-me o coração, sabendo como foi adorável em “Senjakala”, vem da infeliz Liyana Jasmay, num papel secundaríssimo, o de Awek, namorada de um gangster. A inserção desta personagem terá tido que ver com a notoriedade da actriz já que ela também é uma modelo e apresentadora muito popular na Malásia. Este papel, uma tentativa de inserir comicidade no filme trágico por Shauki que, além de realizador e argumentista também é um comediante e, esperamos que seja melhor neste último ofício do que é no mundo do cinema, coloca Liyana na pele de uma mulher fatal. A julgar pelas poses, tiques e outros trejeitos da actriz o conceito de femme fatale, para aqueles lados é muito diferente do ocidental. Cenas penosas de assistir quando se sabe que por trás daquela caricatura está uma jovem que até sabe qualquer coisa sobre representação. O único esboço de sorriso derivado da sua aparição em ecrã deve-se à insinuação de que ela tem seios de plástico. E, convenhamos que a questão do aumento dos seios já foi ultrapassada. Quem é que ainda faz piadas com mamas falsas? Aparentemente Shauki e a co-argumentista e esposa, Christina Orow. Mas o que mais me fascina, de um modo não positivo, acreditem, são as odes ao filme como esta ou esta. Pode uma pessoa estar tão equivocada assim?
Shauki é daqueles realizadores que levam sempre uma cana de pesca atrás, a ver o que apanham. Infelizmente para a sétima arte, o argumento não tem rumo, anda à deriva. “Old Road Mistery” exige o grau de reflexão de um zombie. Mas se quiserem arriscar, força. Depois não digam que foi por falta de aviso…

Realização: Afdlin Shauki
Argumento: Afdlin Shauki e Christina Orow
Que Haidar como Ilya
Hans Isaac como Indra
Ahmad Tarmimi Serigar como Iskandar
Vanida Imran como Rainha Devata
Namran como Botak
Lyiana Jasmay como Awek Botak

Próximo Filme: "Ong  Bak - The Thai Warrior", (Ong bak, 2003)

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