quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Pulse" (Kairo, 2001)



Os clássicos são uma daquelas coisas. Como clássicos ficam registados na memória colectiva para a posteridade e alvo de amores e ódios extremos. Até os grandes como o “Ring” e “A Tale of Two Sisters”, são olhados com um esgar de indiferença por muitos. No pior dos casos, serão comparados e considerados inferiores aos remakes ocidentais, embora possa afirmar com relativa segurança que esse é um evento raro.

“Pulse” foi o último dos grandes clássicos do J-horror moderno que vi e digamos que ter assistido a doses massivas de J-horror anteriormente, tem a sua influência. Por outro lado, até o mais leigo dos leigos admitirá que “Pulse” é um dos filmes de terror mais introspectivos e reflexivos da primeira década do século XXI. O que “Ring” fez pela cassete de vídeo, “Pulse” fez pela internet. Nesse aspecto, espero daqui a dez anos, esteja eu neste planeta e consiga olhar para o filme com outros olhos. Claro que “Pulse” pode ser apenas uma grande partida e de crítica social não ter nada. Somos nós os tolos que pensam que sim! Onde “Pulse” não corre tão cedo o risco de ficar desactualizado, infelizmente fará maravilhas pelas insónias. Se ao menos a porcaria do filme fosse mais curto!
E a premissa, para simplificar o complicado, envolve a jovem Michi (Kumiko Aso), que fica preocupada após o colega Taguchi (Kenji Mizuhashi), que estava a trabalhar em casa ao computador nunca mais dar sinais de vida. Quando ele comete suicídio de modo inesperado, reina o choque. Quem podia imaginar? Ele nem era do tipo depressivo… Entretanto Ryosuke (Haruhiko Kato) toma um renovado interesse pelos computadores quando a bela Harue (Koyuke) se sente intrigada pelo facto do seu computador parecer ter vontade própria. Cedo se começa a ouvir falar numa vaga de suicídios, aos quais a visualização de uma imagem perturbadora no computador não é alheia. A resposta óbvia é resistir à tentação de ligar o aparelho, o que no início do milénio nem seria assim tão complicado. Mas a curiosidade, ai a curiosidade...
Onde “Ring” e “Grudge”, se encontram claramente interessados em utilizar a figura da mulher para corporizar todas as coisas demónicas, “Pulse” nunca aponta o dedo a nenhum personagem, preferindo escapar às instigações de uma sociedade patriarcal. Quando os créditos iniciais são apresentados já a maquinaria avança a todo o vapor: os personagens pertencem a uma estória superior a eles. Ao contrário de 99,9% de todos os filmes produzidos, os personagens que vemos no ecrã não são o centro do mundo.  Também não são procuradas respostas no sentido tradicional. Enquanto o retorno ao passado surge como a redenção natural nos filmes anteriores, os personagens de “Pulse” têm o instinto mais apurado para o tempo presente. Infelizmente, a audiência não está alheada da experiência e exige respostas para seu descanso. O ser humano não lida muito bem com ausências e se não tiver as informações que necessita racionaliza. Pois isto é tudo quanto nos resta deste filme do Kiyoshi Kurosawa. Apenas podemos supor quais seriam as suas intenções de aproximação bastante Lynchiana. E Kurosawa é muito mais que um realizador de filmes de terror. Apelidar “Pulse” como um filme somente de terror, não é só redutor como ingénuo. Basta examinar outros esforços do realizador como “Cure”, “Loft” ou “Retribution”. E admitir que a sua visualização não é fácil é um eufemismo. Apesar de se abrir a porta para uma reflexão sobre a solidão e o isolamento da sociedade por influência directa dos equipamentos produzidos pelo ser humano para seu entretenimento, em última análise é a falta de foco que trai “Pulse”. O filme inicia-se com uma vaga de suicídios. Pelo final, nem suicídios nem corpos, apenas uma mancha negra, no sítio onde estariam os desaparecidos. O mais assustador talvez nem seja aquilo que não vemos no ecrã mas as impressões. Onde estão todos? Três estrelas.

Realização: Kiyoshi Kurosawa
Argumento: Kiyoshi Kurosawa
Haruhiko Katô como Ryosuke Kawashima
Kumiko Asô como Michi Kudo
Koyuki como Harue Karasawa
Kenji Mizuhashi como Taguchi
Kurume Arisaka como Junko Sasano

Próximo Filme: "Sex is Zero" (Saekjeuk shigong, 2002)

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