Antes dos filmes “Saw” (2004), se tornarem uma instituição e os filmes de tortura, chamem-lhe torture porn se quiserem, a ver se me importo, já a Tailândia fazia as delícias do mercado interno de terror. É apenas natural que, uns meses após a estreia de “Saw”, o país lançasse “Art of the Devil” que se resume a uma sucessão de cenas de tortura e que catapultou a jovem e bela actriz principal para o estrelato. Mais dois filmes se seguiriam e é o terceiro de que hoje se fala. Não existe a problemática da continuidade pois o primeiro filme é independente dos que o seguiram e o filme de 2008 é a prequela de “Art of the Devil 2”. Curiosamente o terceiro filme foi intitulado Long Khong 2. Confusos? Mas a questão da continuidade nunca seria problemática, uma vez que o foco do filme é a tortura e o que interessa é ter carne viva disponível para o efeito. Quem, pouco importa vai tudo a eito.
Panor (Nakpakpapha Nakprasitte) é a professora sexy que desde que chegou à terreola deixou todos em polvorosa, incluindo um homem que para se casar com ela, chega a envenenar a própria esposa Daun (Paweena Chariffsakul). A morte da mãe e o rápido casamento do chefe de família com a intrusa provoca a desconfiança de todos. Cedo, desenham um plano para ressuscitar Daun e fazer desaparecer Panor, que inclui religião, magia negra e bastante tortura. Está-se bem de ver onde isso vai dar, cenas bastante explícitas de sevícias cruéis. Ok, não são tão dolorosas como, digamos, um vídeo do David Guetta com a Rihanna como guest star mas ainda assim bastante más. E caracterização deixa muito a desejar. "Ora deixa-me cá cortar-te a língua que é um óbvio pedaço de plasticina"... Sem pretender desvendar demasiado, deixem-me só deixar bem claro que “Art of the Devil 3” não é de todo aconselhado a mulheres grávidas ou com enorme sensibilidade no que toca ao seu útero. Mais, há uma cena em particular em que (e eu considero-me já bastante dessensibilizada no que a cenas impressionantes diz respeito), me senti fisicamente doente. Não se metam com o útero de uma mulher. Tipo, essa cena é doentia. No que é que estavam a pensar?
Bem, cumprem o objectivo de provocar o temor nos espectadores, ainda que por alusão a uma qualquer atrocidade cometida contra a nossa pessoa e não propriamente pelo suspense ou poder da sugestão. A saga “Art of the Devil” concretiza um dos maiores problemas dos filmes de terror do novo milénio. Nada é deixado para a imaginação. O triunfo de inúmeros filmes de terror deve-se à sugestão e não ao que de facto mostraram no ecrã. Mais do que devido à mestria da equipa técnica, o ónus é colocado na curiosidade mórbida do espectador. É ele que se questiona sobre o que se passará fora do alcance da lente. Posto isto, de notar que a bruxaria, se não é algo recorrente para aqueles lados, pelo menos parece que em toda a saga, descobrir um bruxo é tão fácil como ligar ao canalizador. E nem um é vigarista. Todos sabem o que fazer no caminho das artes mágicas negras e todos atingem com sucesso as metas que os clientes lhes pedem. E o melhor de tudo é que enquanto praticam actos perfeitamente questionáveis, vão avisando que lidar com a magia negra traz consequências devastadoras para quem invocou tais males. Não me digam? O que mais me surpreende nem é a facilidade com que se contratam bruxos mas o facto de haver tanta maldade no coração que se recorre por motivo nenhum a medidas tão extremas quanto essas. Processar não? Pintar as paredes do malfeitor com graffiti? No máximo, uma bofetada ou uma ameaça de morte? Não? Eles lá sabem. E depois, existindo ofensas tão graves contra a família é assustador que as pessoas não se importem de colocar os seus entes queridos em risco por algo que foi feito contra apenas um indivíduo. Um bocadinho egoístas ou retardados não? O que me leva à questão seguinte: não existe um único personagem digno de piedade! Todos são malvados. Todos merecem um mau fim e não é como se alguém se importasse. Se o objectivo é repugnar-nos, "Art of the Devil 3" sucede em todas as frentes: ele há sangue, vermes, agulhas enfiadas em sítios pouco naturais, orifícios penetrados e castigados de modo extremamente doloroso… Só não há argumento. Mas não é como se alguém fosse procurar as artes do demónio por causa da estória não é? Uma estrela e meia.
Realização: Equipa Ronin (Pasith Buranajan, Kongkiat Khomsiri, Isara Nadee, Seree Phongnithi, Yosapong Polsap, Putipong Saisikaew e Art Thamthrakul)
Argumento: Kongkiat Khomsiri e Yosapong Polsap
Nakpakpapha Nakprasitte como Panor
Sukaporn Kitsuwon como Dis
Paweena Chariffsakul como Daun
Kalorin Supaluck Neemayothin como Pan
Sammart Praihirun como Pravet
Próximo Filme: Roman Polanski: A Film Memoir, 2012
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