Comecemos pelo momento de honestidade refrescante. Este ano não foi o mais profícuo em número de visionamentos da MONSTRA. Da parte competitiva calhou-me em sorte “The Boy and the Beast” (2015), “Kahlil Gibran’s The Prophet” (2014), “April and the Extraordinary World” (2014), “When Marnie was There” (2015), tendo-me sobrado “apenas” tempo para o Grande, Icónico, Inesquecível, Filme de Animação de uma Vida, “Spirited Away” (2001). Nota-se muito que o “Spirited Away” é um dos meus filmes de animação preferidos?! Por outro lado, os filmes que *vi alternaram entre o razoável e o muito bom, o que torna o balanço da edição de 2016 da MONSTRA, muito positivo.
“The Boy and the Beast” (2015)
Se poucos questionavam que Mamoru Hosoda era um dos melhores do cinema de animação japonês da atualidade, “The Boy and Beast” pouco fez para desmistificar essa ideia. Ren/Kyuta (Aoi Miyazaki/Shota Sometani) é um jovem revoltado com a perda da mãe e ausência do pai, que decide fugir de casa, de uma família estranha que mal conhece e entra num mundo novo sobrenatural. Porventura por ser tão peculiar quanto o mundo de deuses animais onde penetrou, acaba por aceitá-los com naturalidade, como se esse tivesse o seu lar desde sempre. Por sorte do Destino, Ren torna-se o filho adoptivo e discípulo de Kumatetsu (Koji Yakusho), uma besta que bem domina as Artes Marciais mas não o feitio difícil que o impede de concretizar o seu potencial máximo como Deus daquele lugar. Este par improvável acaba por crescer conjuntamente e melhorar com o tempo e Ren, agora Kyuta, quase esquece o mundo real, até que percebe que tem assuntos inacabados por resolver no outro lado. Esta obra não se desvia muito da obra anterior do realizador. Hosoda continua a preferir temas em torno das dores do crescimento e dos afectos, dos obstáculos a ultrapassar para realizar o potencial como ser humano e dos erros que se cometem no processo, como já abordado em “The Girl who Leapt Through Time” (2006) ou “Wolf Children” (2012). Tantos temas que às vezes nos perdemos no turbilhão de estórias que acompanham a narrativa principal. Se estas pouco fazem para a enriquecer, constituem mais momentos para a animação irrepreensível brilhar. A batalha final em particular fará as delícias dos que ainda ficam estrelinhas nos olhos, como se de crianças se tratassem. Uma vitória nos dias que correm, em que se questiona a capacidade das novas longas de animação de fazer sorrir ou profundamente comover. “The Boy and the Beast” é similar às obras anteriores de Hosoda, acessível a mais jovens mas sem alienar adultos, somente em dose superior. Podia por isso ser facilmente dividido em episódios e transposto para o pequeno ecrã. E se peca por excesso de ambição, seria um princípio de MONSTRA em grande.
*PS: Vi o “When Marnie Was There”, extra-festival.
Próximo: MONSTRA - A colheita de 2016 - Parte 2
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