Rie foi contratada para documentar escavações do metro de Copenhaga. Este é um projecto de cariz internacional e Rie acompanha os trabalhadores para captar esse lado: a grandiosidade do sonho europeu. As primeiras abordagens encontram-se um pouco aquém d desejado dado que o que encontra são trabalhadores que fazem um trabalho muito duro e perigoso para ganhar dinheiro para alimentar as suas famílias. Durante o decorrer dos trabalhos há um acidente e Rie acaba por ficar presa dentro de uma câmara hiperbárica com os trabalhadores Ivo e Bharan da Croácia e da Eritreia. Juntos terão de ultrapassar o pânico, o espaço confinado, o calor, o desconhecido e tomar as decisões mais importantes das suas vidas.“Cutterhead” é muito possivelmente um dos filmes mais claustrofóbicos desde “The Descent” (2005). Os personagens deste filme dinamarquês conhecem-se mal ou mal foram apresentados não existindo uma camaradagem e o espirito de entreajuda existente naquele clássico. “Cutterhead” não perde demasiado tempo com máscaras. As personagens são imperfeitas e até desagradáveis. A pressão da situação faz sobressair o melhor e o pior dentro de si para que conseguiam sobreviver. Se uma equipa de resgate não chegar a tempo quem merece mais viver? Como aguentar tantas horas com desconhecidos, mantendo a visão optimista de que poderão sobreviver quando nem sequer sabem se a equipa de resgate tem conhecimento de que estão vivos? Exercício muito interessante sobre a natureza humana e o seu espírito de auto-preservação. É uma visão negativa do humano e dos seus pontos de pressão. Em última análise mesmo o mais justo poderá tornar-se um pecador, apenas depende da situação. Traz também algumas implicações como o facto de caso os personagens conseguiam sobreviver terão de lidar com as suas acções naquele período difícil. Duas estrelas e meia.
Realizador: Rasmus Kloster Bro
Argumento: Rasmus Kloster Bro e Mikkel Bak Sørensen
Kresimir Mikic como Ivo
Samson Semere como Bharan
Christine Sønderris como Rie
“One cut of the dead” (Kamera o tomeru na!, 2017)
Produtores de um novo canal de televisão contratam um realizador desconhecido para a dirigir o programa de estreia da grande première do canal. O objectivo é exibir em directo um filme de zombies realizado num único corte. “One cut of the dead” é um filme com diversas camadas. É uma sequência de 37 minutos que consiste na comédia zombie “One Cut of Dead” que é feita num único corte, isto é, um filme dentro do filme e é ainda uma abordagem meta ao mundo do cinema com todas as suas idiossincracias ao acompanhar os bastidores da realização daquela sequência. É muito interessante acompanhar o argumento da estória bem como todos os respetivos acidentes de percurso. Aquela parte invisível que é capaz de ditar o sucesso ou o desastre do filme. Entre estas encontram-se o actor que pensa que é a estrela à volta da qual o filme se desenvolve, actores incapazes de separar a vida pessoal da profissional, o realizador que pretende mostrar ser um profissional sério e criativo mas acaba por ser um capacho tarefeiro dos produtores ou o convencional actor-método. “One cut of the dead” menos sobre zombies do que sobre cinema. Os amantes de cinema vão adorá-lo, mas argumento é inteligente e divertido o suficiente para não só não alienar o resto do público como o atrair. Muito provavelmente - perdoem-me a aposta - o filme mais divertido da edição de 2018 do #motelx e sim, estou a excluir o musical de comédia zombie em pleno Natal que dá pelo nome de “Anna & the Apocalypse” e ainda um dos melhores do certame de 2018. O público concordou tendo-lhe atribuído o seu Prémio para a presente edição. Quatro estrelas e meia.
Realização: Shinichiro Ueda
Argumento: Shinichiro UedaTakayuki Hamatsu como Director Higurashi
Yuzuki Akiyama como Chinatsu
Harumi Shuhama como Nao
Kazuaki Nagaya como Ko
Hiroshi Ichihara como Kasahara
Mao como Mao
“Satan’s Slaves” (Pengabdi Setan, 2017)
De Joko Anwar, realizador já conhecido nas lides do Motelx com o seu “Forbidden Door” (2009) é uma incursão nas estórias de fantasmas. Decorre nos anos 80, na pior altura da vida uma família: a morte de uma mãe. Após alguns anos de paralisia e alheamento do mundo Mawarni (Mayu Laksmi) morre deixando o marido, 4 filhos e a sogra. Desde o seu falecimento que os filhos, os mais novos sobretudo têm sentido uma presença estranha, como se a alma inquieta da sua mãe não tivesse chegado a abandonar a casa. O pai toma a decisão de partir durante algum tempo para os sustentar e impedir que percam a casa deixando os filhos entregues a si próprios, sob a liderança da filha mais velha Rini (Tara Basro). É nessa altura de fragilidade extrema que se faz acentuar a suspeita de assombração bem como surgem os fantasmas do passado. Se não totalmente original é pelo menos competente fazendo lembrar em certa medida as sagas “Insidious” e “Annabelle”, nos fortes laços familiares; no lar que seria o local mais seguro como ponto focal da assombração e nos jump scares. Onde os anteriores se apoiam no catolicismo, “Satan’s Slaves” tem um foco claro no islão, uma abordagem refrescante num género saturado pela já por demais conhecida iconografia católica ocidental. Se a dupla de irmãos mais velhos serve o papel de condução de investigação pelos meandros do oculto e do passado negro da família é a dupla menor, Bondi (Nasar Annuz) e Ian (M. Adhiyat) que impressiona na interpretação credível de irmãos, nas sequências mais aterradores, como também no alívio cómico. Precisava porventura de limar algumas arestas, como o corte de cenas desnecessárias como a final e que conta até com uma breve aparição de Fachry Albar, estrela de “Forbidden Door”. Três estrelas.
Realização: Joko Anwar
Argumento: Joko Anwar, Sisworo Gautama Putra, Naryono Prayitno, Subagio S. e Imam Tantowi
Bront Palarae como Pai
Tara Basro como Rini
Endy Arfian como Tony
Dimas Aditya como Hendra
Nasar Annuz como Bondi
M. Adhiyat como Ian
Ayu Laksmi como Mãe
Egy Fedly como Budiman
Arswendi Nasution como Ustadz
Elly D. Luthan como Avó
Próximo: Notas de um Festival de Terror, Edição de 2018 - parte dois
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