sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte dois

O segundo dia festival manteve o padrão do dia de abertura, com duas opções que não podiam ser mais diferentes.

Dia II

Post Mortem

O primeiro filme de horror húngaro

O marketing apresentou ostensivamente "Post Mortem" como a primeira longa-metragem de terror desse país.

Não sei se essa afirmação está correta, mas se for verdadeira, é uma estreia que augura um futuro risonho para o género neste país.

"Post Mortem" acompanha Thomas, um ex-soldado que teve uma experiência de quase morte durante a I Grande Guerra e agora ganha a vida integrando uma caravana itinerante onde fotografa os mortos, como forma de dar uma última lembrança às suas famílias. É lá que conhece Anna uma menina que já tinha visto antes: na visão que teve quando quase morreu. Ela também lhe desperta a curiosidade para a sua aldeia, plena de cadáveres não enterrados, dado o solo estar congelado.

"Post Mortem" encontra algumas parecenças no cinema asiático e no horror mainstream como um "Insidious" mas mantém uma identidade própria, distinta.

Aborda tópicos tão dispares tematicamente e tão próximos historicamente como a fotografia de mortos, as feiras de freaks, a I Guerra Mundial ou a Gripe Espanhola. Qualquer um deles seria merecedor do seu próprio filme. No entanto, funcionam coesos neste "Post Mortem".

Thomas queda-se numa aldeia como tantas outras por um mundo devastado pela Guerra. As pessoas estão traumatizadas. Já quase não há homens. Há mulheres, crianças e velhos. E estes foram os que conseguiram sobreviver à gripe espanhola.

A cinematografia esplêndida faz um trabalho delicado de demonstrar pessoas afetadas de modo profundo pelos eventos já mencionados e de enveredar numa jornada sobrenatural, sem fazer pouco dos seus traumas reais. Onde se perde é na relação entre Thomas e Anna, natural nos inícios do século XX, porém perturbadora à luz da época atual. Desculpem lá qualquer coisinha se me faz confusão, ainda por cima num país onde se pretende proibir a homossexualidade por esta supostamente conduzir à pedofilia. A nível técnico, de referir também os efeitos gerados por computador que não são perfeitos mas também não comprometem. Vou estar muito atenta ao cinema húngaro e vocês também devem estar.

After Blue

Pesadelo psicadélico soft core

Por onde começar? O trailer fazia adivinhar uma película diferente com alguma inspiração de um "Mad Max" com a tolice psicadélica de "Flash Gordon" e os filmes de série B e sexploitation dos anos 80. Contudo, NADA me podia preparar para o que iria ver.

Num futuro distópico, os humanos habitam um novo planeta, intitulado "After Blue", após a terra ser destruída. A colonização não correu bem na totalidade. Os homens não se conseguiram adaptar ao novo ambiente e acabaram por morrer, consumidos por pêlos que lhes cresceram nos órgãos (EW). After Blue é então habitado por mulheres, que procuram dar seguimento à espécie através de inseminação artificial e de uma sociedade justa e pacifista.

Roxy, mais conhecida por Toxic, pelas suas amigas encontra numa praia uma mulher enterrada até ao pescoço na areia, deixada para morrer afogada. Apesar, das advertências das amigas, ela desenterra a mulher, maia conhecida por Kate Bush, que foge não sem antes matar as suas amigas. Julgada pelas outras mulheres Roxy e a sua mãe cabeleireira, são obrigadas a perseguir e matar a assassina se quiserem ser reintegradas na sociedade. O que se segue é a sua jornada pelo planeta exótico. A ação é intercalada com exposição através de uma conversa em jeito confessional em que Roxy é questionada acerca do seu comportamento e desejos mais íntimos.

Chamaram-lhe um "acid sci fi erotic western". Infelizmente, os rótulos atribuídos se podem fazer aparentar "After Blue" fascinante também conseguem transmitir como este filme é uma mescla incoerente. É lindo de ver? Por vezes é. A visão de Bertrand Mandico não conhece igual. Dou-lhe isso. Gostava de ver mais no futuro? Sim. Precisava de mais estória? Também. Entre o despertar sexual de Roxy e até da mãe Zora e a procura por um espírito comunitário inexistente, não há motivo para me importar seja com quem for. São tudo personagens egoístas, agarradas às suas pulsões de sensualidade ou violência, que querem viver nos seus termos, por mais caprichosos que possam ser. Bertrand Mandico usa e abusa da sexualidade. Entre as inúmeras sessões de masturbação ou interações mais ou menos sensuais, nenhuma é em demasia para a sua objetiva. A sua visão está mais próxima da obsessão do sexo pelo sexo, desde o explícito ao sugerido -  um terceiro olho acima da vagina, criaturas cuja morfologia faz lembrar uma vagina ou a quantidade de vezes que a protagonista se acaricia -, até vomitarmos a imagética pelos olhos, que em explorar a sensualidade feminina. E são duas horas disto gente. Ok. Já percebemos. São seres livres, à descoberta que desejam pertencer a um grupo. A esse propósito, informo que não vou integrar o grupo de fãs de “After Blue”.

Próximo: Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte três


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