quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Blood Rain" (Hyeol-ui nu, 2005)

Confesso que sou fã de mistérios de época. Nada como desvendar um crime à moda antiga. Não há cá pós de perlimpimpim para se encontrar impressões digitais nem testes de ADN à CSI. Aqui usa-se o velho amigo cérebro. "Blood Rain" passa-se no início do século XIX, durante a dinastia Joseon, na ilha Dongwha, onde se prepara o tributo anual de papel ao rei. Uma shaman é chamada para abençoar a oferenda e fazer com que esta chegue, literalmente, a bom porto, quando é possuída pelo espírito de um homem injustamente acusado de traição 7 anos antes. Entretanto, o barco incendeia-se com a carga e a população fica desesperada com a possibilidade de não entregar o tributo a tempo e recair sobre si a mão pesada do rei. Won-kyu Lee é designado para investigar o caso mas o que seria uma investigação quase banal complica-se quando os habitantes da ilha começam a aparecer mortos das maneiras mais horrendas.

"Blood Rain" recorda-me o já aqui publicado "Shadows in the Palace" (Goongnyeo, 2007) em diversos aspectos: mortes inexplicáveis, um mix de mistério criminal com elementos do sobrenatural e um elenco muito vasto com a excepção que em "Blood Rain" é predominantemente masculino. A shaman é só para disfarçar. Ah e para dar um alívio de tanta testosterona. Também o argumento é muito menos confuso e não é tão excessivo na alusão ao oculto. Infelizmente, Won-kyu é menos competente que a sua congénere feminina em "Shadows". O pathos, quando Won-kyu tem uma revelação sobre a sua própria vida é quando muito sofrível. Ele parece mesmo estar com prisão de ventre. Desculpem lá qualquer coisinha. Aparte isso, o seu vocabulário facial não é muito mais variado que o de um Keanu Reeves, se é que me entendem. Com isto, não pretendo dizer que Won-kyu não é uma personagem simpática mas que tinha potencial para mais lá isso tinha. As outras actuações estão dentro do espírito do filme que se impõe de medo e de suspeição. Quanto à shaman continuo a achá-la pouco mais que um bibelô. É para continuar a insistir no oculto e não nos esquecermos disso. Certíssimo.
À primeira vista, a solução do mistério não é previsível e com tantas personagens é uma verdadeira roleta russa descobrir quem é o assassino ou a próxima vítima. Tanto, que a dado momento o argumento insiste num certo sentido e afinal é o contrário. Ah, malandros! Um "pormenor" adorável é a música da película. Frequentemente, os filmes mais sombrios utilizam a música ao mínimo e um ou outro som mais intenso para provocar determinadas reacções na audiência. Aqui, temos o que podemos chamar de banda sonora, cujos trechos acertam de forma perfeita nos momentos críticos da narrativa. O clímax está um must. Sentimos tudo aquilo que devemos sentir, quando e como o devemos sentir. Só questiono o uso de uma banda sonora semi-ocidental. "Blood Rain" é um daqueles filmes de época que pedia o uso e abuso de sons tradicionais.Teria sido óptimo para penetrarmos no drama / mistério histórico.
Apenas os minutos finais provocam alguma frustração numa trama de outro modo envolvente. "Blood Rain" tem algumas mortes entusiasmantes para quem é fã de gore, o enredo cativa e aborda temas tão interessantes desde a luta de classes à religião. E tem chapéus. Muitos e giros. Três estrelas e meia.



Realização: Dae-seung Kim
Argumento: Won-jae Lee, Seong-jae Lim
Elenco:
Seong-won Cha  como Won-kyu Lee
Yong-woo Park como In-kwon Kim
Ji seong como Doo-ho
Ji-na Choi como Man-shin (Shaman)
Ho-jin Jeon como Comissário Kang

Próximo Filme: "My Ex" (Fan Kao, 2006)

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